"Com o nome não se pode fazer nada, mas, com pormenores, podemos dar início à abertura de um processo. Não duvido que este vai ser o caminho dos meus colegas", afirmou o prelado alentejano, em declarações aos jornalistas, na sua residência em Évora.
Senra Coelho admitiu que se questionou quando recebeu da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal dois nomes de sacerdotes diocesanos alegadamente envolvidos em casos de abusos.
"Eu perguntei-me se devia ou não perguntar à Comissão Independente pormenores, não sabia o que me iam dizer", mas "resolvi fazê-lo e responderam em pouco tempo com os pormenores necessários", ainda que sem o nome da vítima, adiantou.
Com conhecimento dos pormenores sobre os alegados abusos cometidos pelo sacerdote agora afastado preventivamente, Francisco Senra Coelho disse que procedeu "ao que tinha que proceder" e considerou que os bispos "se fizerem este procedimento farão o mesmo", referiu.
"Posso dizer que alguns já me telefonaram a dizer que, de facto, estavam contentes pela informação da Comissão Independente. Portanto, eu penso que, neste contexto, é uma questão de amadurecimento e de tempo", acrescentou.
A Arquidiocese de Évora afastou cautelarmente um padre de funções e abriu uma investigação a uma denúncia de alegados abusos de menores pelo sacerdote, na década de 1980, no Seminário Menor de São José, situado em Vila Viçosa.
Em comunicado, a arquidiocese informou que o arcebispo de Évora recebeu, na sexta-feira, da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal dois nomes de sacerdotes diocesanos por alegados abusos.
"O primeiro deles morreu há alguns anos. O processo considera-se extinto. O segundo nome não trazia nenhuma informação complementar e a investigação efetuada nos arquivos diocesanos não encontrou nenhuma denúncia ou inquirição prévias", adiantou.
Segundo a arquidiocese alentejana, Francisco Senra Coelho "solicitou de seguida à Comissão Independente eventuais dados suplementares que permitissem iniciar a investigação".
"Com data de 07 de março, foi recebida informação referente a abusos ocorridos contra rapazes na década de 1980, no Seminário Menor. Perante estes dados, o senhor arcebispo pediu à Comissão Diocesana de Proteção e Segurança de Menores e Pessoas Vulneráveis para dar início à investigação prévia que seguirá depois para o Dicastério da Doutrina da Fé, em Roma", informou.
Na manhã da última sexta-feira, esta comissão, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, entregou aos responsáveis pelas diferentes dioceses a lista dos alegados abusadores.
Nesse mesmo dia, após analisar o relatório final da comissão independente, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, José Ornelas, disse que o afastamento de alegados padres abusadores de menores está nas mãos de cada bispo, admitindo que "se houver uma plausibilidade de pôr em perigo o contacto com outras pessoas e a persistência de eventuais delitos" essas pessoas podem ser objeto de uma suspensão cautelar.
No entanto, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa sublinhou que é importante que "sejam dados os nomes e descrições plausíveis", para investigar.
"Eu não posso tirar uma pessoa do ministério só porque chegou alguém que disse 'este senhor abusou de alguém'. Mas quem foi que disse, em que lugar, onde? Tirar do ministério é uma coisa grave", realçou.
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