Um dos padres que foi afastado pelo Patriarcado de Lisboa, na terça-feira, no âmbito do escândalo de abusos sexuais na Igreja Católica, é o responsável pela Paróquia de São Nicolau e Santa Maria Madalena - sendo também o confessor e orientador espiritual do líder do Chega, André Ventura.
A revelação de que era um dos quatro padres afastados em Lisboa foi feita pelo pároco, Mário Rui Pedras, numa mensagem datada de 22 de março de 2023, e conhecida nas últimas horas - depois de ser publicada na página da respetiva paróquia.
Numa nota dirigida aos fiéis, o responsável confessa aquilo que sabe sobre os motivos pelos quais foi afastado e que levaram a que o seu nome constasse da lista de padres suspeitos de crimes elaborada pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa.
O padre começa por apontar que o caso que levou ao seu afastamento surgiu de "uma denúncia anónima". "Nessa denúncia alguém refere ter sido vítima de abusos por mim perpetrados, os quais teriam ocorrido na década de 90, quando frequentava o 8º ano, num colégio da periferia de Lisboa", explica.
"A notícia assim transmitida chocou-me profundamente", continua o responsável, acrescentado que as "imputações são totalmente falsas". O responsável reiterou que não era culpado, referindo que ao longo da "sua vida sacerdotal" não praticou "o que quer que fosse censurável". "Seja pelo prisma da lei canónica, pelo prisma da lei civil ou da ética comportamental", clarificou.
O sacerdote refere ainda que, para além de o denunciante não se ter identificado, também a "inventada vítima" não é identificada. O responsável nota também que a denúncia não explana o local onde os alegados abusos foram perpetrados, "não fornece qualquer pista para levar a cabo uma investigação, referindo, por exemplo, o nome de potenciais testemunhas que tivessem algum conhecimento sobre o tema", acabado por classificá-la como "falsa, caluniosa, sem qualquer elemento útil ou prestável para investigação".
O pároco aponta ainda que os acontecimentos o deixam "numa situação delicada" e que procurará restaurar a honra que este "golpe cobarde" lhe levou. "Analisarei quais as vias possíveis para reclamar judicialmente a reparação que me é devida, sabendo, todavia, que o carácter anónimo da denúncia poderá comprometer este meu propósito", prometeu, garantindo que se "colocou à disposição" do Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente" no âmbito da investigação que se iniciará.
"Quem não deve não teme. E eu não temo. Tudo farei para que a verdade seja reposta, para que nenhuma dúvida sobreviva e tudo entregarei, na oração, no coração de Deus", rematou.
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