Mariana Jadaugy, de 24 anos, e Farana Sadrudin, de 49 anos, foram identificadas como sendo as duas vítimas mortais do ataque desta terça-feira no Centro Ismaili, em Lisboa. As mulheres portuguesas foram atingidas por um homem afegão, que entrou na sala onde decorria uma aula, armado com uma faca.
Farana era sobrinha do representante diplomático do Imamat Ismaili em Portugal, Nazim Ahmad, e foi também representante da comunidade ismaelita em Madrid, além de ser formada em Engenharia pela Escola Superior de Tecnologia de Setúbal.
Foi, além disso, membro do Conselho de Subsídios e Revisão e Membro do Conselho de Conciliação e Arbitragem por Portugal na Comunidade Ismaili. Trabalhava desde dezembro de 2021 na Fundação FOCUS - Assistência Humanitária, onde geria o processo de integração orgânica de refugiados.
Também Mariana trabalhava na mesma fundação. Por seu lado, era licenciada em Ciências Políticas e Relações Internacionais pela Universidade Nova de Lisboa, com um mestrado na mesma área, realizado no Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa. Trabalhou também como voluntária na ReFood durante um ano.
Ambas acabaram por morrer no Centro Ismaili. O ataque feriu ainda um outro professor, que se encontra em estado grave no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. O suspeito, que foi detido e baleado na zona da anca pela Polícia de Segurança Pública, foi transportado para o Hospital de São José, onde foi submetido a uma cirurgia. Neste momento, encontra-se “estável”, devendo permanecer internado durante algum tempo, devido à natureza dos ferimentos.
De acordo com um familiar de uma testemunha, os alunos tentaram travar uma agressão ao professor, à qual se seguiu o ataque fatal a Mariana e Farana. O homem terá, antes disso, ameaçado colocar termo à própria vida.
“[A minha familiar] estava na sala a seguir. Quando ouviu barulho, saiu da sala. Viu o que se passava, viu que [o agressor] estava a bater no professor, que estava deitado no chão. Disse-lhe para não fazer isso, e ele levantou-se e encostou-lhe uma faca à garganta. Disse que a matava. Depois, largou a faca e fugiu”, disse Nizan Mirzada, em declarações aos jornalistas.
Já o presidente da Associação da Comunidade Afegã em Portugal, Omed Taeri, disse que o homem contactou a entidade por via telefónica, informando que "ia procurar um trabalho e não sabia com quem deixar os filhos". Terá mostrado "sinais de ansiedade e desespero", razão pela qual Taeri considerou que “este caso é um caso isolado porque este senhor teve problemas psicológicos”.
"Não podemos julgar a comunidade inteira por causa de um caso isolado”, reforçou.
O atacante, identificado pela SIC como Abdul Bashir, terá vindo “da Grécia para Portugal”, depois de ter perdido a mulher num campo de refugiados naquele país.
O ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, confirmou que o homem, "relativamente jovem", tem três filhos menores, de 9, 7 e 4 anos. Foi, depois, "recolocado em Portugal ao abrigo da cooperação europeia, e tratava-se de um cidadão beneficiário do estatuto de proteção internacional", levando uma vida "bastante tranquila" no país, há cerca de um ano.
O governante apontou ainda que o jovem beneficiava do apoio da comunidade ismaelita, no ensino de línguas, no "cuidado alimentar, cuidado com as crianças" e "não tinha qualquer sinalização que justificasse cuidados de segurança".
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