"Estamos assim convocados, do ponto de vista político e militar, para decisões e investimentos concretos na defesa militar nos seus três pilares fundamentais: recursos humanos, sistemas de armas e demais equipamentos e indispensáveis reservas de guerra", considerou o antigo chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) entre 2006 e 2011.
O general e presidente do Grupo de Reflexão Estratégica Independente (GREI) falava num seminário organizado por este grupo, que reúne antigos chefes militares, intitulado "Os Desafios para a Segurança e Defesa Nacional", no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
Considerando necessária uma "sustentação financeira" da Lei de Programação Militar (LPM) e da Lei de Infraestruturas Militares (LIM), o general defendeu que só com investimento financeiro será possível "inverter a atual situação em que se encontram as Forças Armadas", começando por atingir os 2% do Produto Interno Bruto em Defesa -- compromisso com a NATO que Portugal prevê cumprir até ao final de 2030.
"Não há duas opções: ou nos empenhamos decisivamente em eliminar insuficiências que afetam as Forças Armadas, designadamente, e em termos prioritários, no que toca a recursos humanos (...), mas também em obter os sistemas de armas que permitam cumprir com êxito as missões atribuídas, possibilitando o treino devido, o armamento e equipamento necessário e a respetiva sustentação logística e reservas de guerra", elencou.
Segundo Pinto Ramalho, "será o continuado desinvestimento, a progressiva astenia dos recursos humanos e materiais" que poderão tornar as Forças Armadas, "do ponto de vista operacional, cada vez menos capazes de cumprir as missões constitucionais de soberania, tornando o país um parceiro internacional irrelevante e dispensável no âmbito das alianças e organizações".
"Mas também, a nível interno, configura um investimento orçamental ruinoso, sem produto operacional credível, difícil de explicar e justificar aos cidadãos leitores e em particular aos militares", realçou.
Horas mais tarde, na sessão de encerramento que contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o antigo Chefe do Estado-Maior da Armada almirante Fernando Melo Gomes (também presidente da Mesa da Assembleia geral do GREI), defendeu que "não é mais possível ignorar as fragilidades existentes e prosseguir na inércia de pelo menos uma década, sem que as consequências não se venham a revelar desastrosas para os interesses nacionais".
Segundo o almirante, a situação atual das Forças Armadas "não é acidental" e resulta de uma vontade "democraticamente validada" e assumida por tutelas.
Alertando que se vive um "tempo de urgência e decisão", o almirante sublinhou: "Julgo não existirem dúvidas, mesmo para as tendências mais negacionistas, que a situação estratégica e o ambiente internacional se degradaram gravemente e não será de excluir, de todo, a possibilidade de uma confrontação mais global".
No atual "quadro de conflito, crise e competição", continuou, " a mais elementar prudência implica que Portugal ajuste agora, e não mais tarde, a sua política de Defesa em sintonia com o investimento efetuado na generalidade dos aliados da NATO", apelando ainda a uma "efetiva concretização" da Lei de Programação Militar e da Lei de Infraestruturas Militares.
"Reconhecemos que existirá hoje uma muito tímida melhoria na planeada afetação dos recursos necessários, mas temos que dizer que os tempos são de urgência e que nas Forças Armadas nunca há lugar a improvisações, há que atuar de forma decisiva", vincou.
[Notícia atualizada às 20h44]
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