Relatório critica "opção de multiplicar recursos" em diferentes entidades

Os peritos que avaliaram os grandes incêndios de 2022 criticam "a opção de multiplicar recursos" humanos em diferentes entidades e questionam a mobilização de um grande número de meios de combate que, por vezes, apresenta "deficiente preparação ou liderança".

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Lusa
13/04/2023 21:04 ‧ 13/04/2023 por Lusa

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Incêndios

"Embora se reconheça a necessidade de envolver mais meios humanos e materiais no sistema, questiona-se a falta de especialização e complementaridade e critica-se a opção de multiplicar recursos em diferentes entidades, com a mesma finalidade, em alternativa a melhorar e reforçar o que já existe e se faz bem", refere o relatório do grupo de peritos convidado pelo Governo para fazer a avaliação dos grandes incêndios rurais de 2022.

O documento, publicado hoje na página da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), apresenta um conjunto de recomendações nas áreas da prevenção, combate e organização, gestão de grandes incêndios e proteção das populações após uma análise aos incêndios da Serra da Estrela, Murça e Vila Pouca de Aguiar Ourém, Ansião e Leiria e de Albergaria-a-Velha.

No âmbito do combate, os 30 peritos questionam também "o emprego de grande número de meios, por vezes com deficiente preparação ou liderança, no teatro de operações (TO)", sublinhando que "nem sempre o número elevado de recursos no TO correspondeu a uma grande capacidade de combate".

Os especialistas defendem também que se deve fomentar a profissionalização de quadros nos bombeiros voluntários, em especial dos elementos que integram as Equipas de Intervenção Permanente e os quadros de comando.

"Deveria considerar-se a possibilidade de integrar no sistema de combate elementos exclusivamente treinados e dedicados ao tema da gestão dos incêndios florestais, integrados nos corpos de bombeiros ou em Unidades Locais de Proteção Civil. Esta formação e preparação deveria alargar-se a elementos da população que, em caso de incêndio, possam prestar apoio e colaboração nas operações, de diversas formas", recomenda o relatório, coordenado pelo professor da Universidade do Porto José Manuel Mendonça.

Os peritos consideram também que "continua a haver expressões de falta de comunicação e de ligação entre entidades, ou mesmo entre grupos de uma mesma entidade, de existência de fronteiras administrativas ou mentais, na gestão e partilha de meios, na harmonização de processos, de estratégias e táticas de intervenção, que importa ultrapassar".

O documento destaca que se registou uma "melhoria significativa" nas comunicações, nomeadamente da rede SIRESP, mas os postos de comando operacionais "têm tido em alguns locais muitas dificuldades em obter internet" e este recurso é fundamental, devendo por isso "existir soluções para mitigar estas limitações, nomeadamente identificar locais adequados previamente ou recorrer a internet via satélite.

Os peritos consideram igualmente que é necessário maior equilíbrio entre as funções de proteção das pessoas e do edificado e as de proteção da floresta e outros espaços rurais.

"É desejável que haja cada vez mais pessoas dedicadas ao tema da proteção da floresta contra os incêndios, de um modo profissional e com uma dedicação plena e permanente ao problema: trabalhando na prevenção na maior parte do ano e na gestão dos incêndios quando for necessário. A integração de pessoas experientes e capazes é fundamental para melhorar todo o sistema", lê-se no documento.

No domínio da prevenção, o relatório refere que é necessário introduzir alterações no coberto vegetal através da criação de descontinuidade e incorporação de espécies com menor combustibilidade de forma a reduzir a carga de combustível e que contribua para retardar a progressão do fogo reduza a sua intensidade e a probabilidade de ocorrência de focos secundários.

O documento indica que, nos grandes incêndios de 2022, se observou "um extensivo uso de fogo durante as operações de supressão, configurando pouco controlo, falta de formação e de disciplina, por parte dos agentes e da população, que conduziram a medidas de suspensão desta importante ferramenta de combate nalgumas situações", além de se ter verificado "muitas situações de reacendimentos e de reativações, resultantes de identificação e vigilância deficientes dos pontos quentes, com consequências graves".

Segundo o relatório, a utilização alargada de produtos químicos nas ações de combate e, muito em especial, na consolidação do rescaldo poderia ter conduzido a um mais eficiente combate ao fogo.

Outras das recomendações dos peritos passam por ser dada maior atenção e reforçado o 'Programa Aldeia Segura/Pessoas e ponderar-se as condições em que se deva fazer a evacuação de um estabelecimento ou lugar.

O relatório indica ainda que "há uma necessidade de patrulhamento e vigilância do território, melhorar a cultura de prevenção em dias ou períodos com condições meteorológicas mais severas", propondo que o Exército execute esta tarefa em articulação com os serviços municipais de proteção civil.

Estas recomendações foram divulgadas um dia antes de ser apreciado e aprovado, na Comissão Nacional de Proteção Civil, o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais para este ano.

Leia Também: Bombeiros voluntários no combate aumentados para 64 euros por dia

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