O antigo ministro da Defesa Azeredo Lopes considerou que a fuga de documentos secretos do Pentágono mostra o "potencial devastador" das redes sociais, sublinhando que uma das coisas mais surpreendentes em todo o caso é o facto de a fuga de informação ter partido, alegadamente, de um rapaz "manifestamente amador", que, aparentemente, agiu sem qualquer motivação ideológica.
"É muito surpreendente tudo isto. Estamos a falar de alguém que é manifestamente amador. De alguém que não parece ter uma consciência do próprio ilícito muito clara, de alguém que faz o que faz, mas que é totalmente distinto de pessoas que estavam ligadas ao aparelho militar, ao aparelho da inteligência, como por exemplo Edward Snowden, que age com base num ideal cívico, que se pode concordar ou discordar", começou por dizer o antigo governante, em declarações à CNN Portugal, referindo-se a Jack Teixeira, o jovem de 21 anos que é suspeito de divulgar documentos secretos dos Estados Unidos sobre a guerra na Ucrânia.
Lembrando que a fuga de informação se deu através de um grupo, numa rede social, Azeredo Lopes lembrou a "tendência" que há para ver as coisas de forma "um bocadinho mais profunda" e notou que Jack Teixeira se está a tornar agora "numa espécie de herói para a direita americana".
"Temos sempre tendência a ver as coisas um bocadinho mais sinistras, um bocadinho mais profundas, a mão invisível, ou visível da Rússia, uma qualquer conspiração, e não - trata-se de alguém bastante extremista e bastante radicalizado que está agora, lentamente, a transformar-se numa espécie de herói para direita americana. Uma coisa de outro mundo", afirmou.
Abordando os desafios para a segurança nacional dos Estados Unidos, Azeredo Lopes sublinhou: "Não diabolizo de maneira nenhuma as redes sociais, mas não tenho dúvidas que com a facilidade de disseminação instantânea de informação, qualquer falha tem um potencial devastador como aqui estamos a ver".
Pedindo desculpa pela "expressão", Azeredo Lopes notou que se está a ver "uma espécie de um rapazola um bocado extremista" que conseguiu "causar um dano" à "imagem e reputação" dos Estados Unidos, mas também ao "próprio esforço de guerra em que estamos todos envolvidos".
Recorde-se que Jack Teixeira, da Guarda Nacional Aérea de Massachusetts, foi hoje formalmente acusado e vai ficar preso até à audiência de detenção, na quarta-feira, decidiu o tribunal federal de Boston.
Os registos de faturação de uma plataforma de comunicação social na Internet ajudaram o FBI a identificar o suspeito, de acordo com os registos do tribunal consultados pela agência norte-americana AP.
Teixeira começou a divulgar os documentos numa sala de 'chat' Discord, mas o seu alcance explodiu em março, quando um utilizador espalhou os documentos a outros grupos com mais membros.
Os ficheiros detalham a avaliação norte-americana da guerra na Ucrânia e dados sobre o estatuto das forças russas, bem como material sensível sobre o Canadá, China, Israel e Coreia do Sul.
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