A investigação divulgada hoje, no Dia Nacional de Luta contra a Obesidade, tem por base os registos eletrónicos de saúde desta doença crónica.
Dados enviados à agência Lusa referem que os investigadores identificaram mais de 266 mil adultos com diagnóstico de obesidade no Norte, analisando-os sob o ponto de vista biodemográfico, multimorbilidade, ou seja, terem dois ou mais problemas de saúde, e utilização de recursos de saúde.
Os resultados revelam que 10,2% dos utentes adultos têm obesidade e que, dependendo da faixa etária, o grupo de indivíduos registados com a codificação referente à obesidade realizou quase o dobro de consultas médicas de Medicina Geral e Familiar.
Também teve praticamente o dobro de gastos com prescrições de medicamentos e exames de diagnóstico do que a população não obesa.
"Os custos que a obesidade representa para a sociedade também se fazem sentir devido às faltas ao trabalho por doença e dificuldades de emprego", considera a professora da FMUP Rosália Páscoa, citada nas informações enviadas à Lusa.
Médica de família e primeira autora deste estudo, Rosália Páscoa chama a atenção para os dados que revelam que os utentes sinalizados como obesos tiveram mais do dobro de ausências ao trabalho por motivos médicos e, pelo menos, o dobro de dias de doença.
De acordo com os investigadores, a prevalência da obesidade encontrada neste estudo foi inferior à documentada em estudos portugueses anteriores, "mas isso não significa que a obesidade esteja a diminuir".
"Podem existir mais pacientes com obesidade que não foram devidamente codificados como tal nos registos eletrónicos, ou seja, até podemos estar perante um subdiagnóstico claro da obesidade, o que retarda o início da intervenção e aumenta o risco de desenvolvimento de outras doenças", esclarece a professora da FMUP.
Os doentes com obesidade são predominantemente mulheres de meia-idade.
Quanto às outras doenças mais prevalentes, acrescenta, são sobretudo a hipertensão e a diabetes.
Os investigadores defendem a realização de trabalhos futuros para automatizar a codificação da obesidade para menores de 18 anos.
"Isto será fundamental para sensibilizar para o problema numa fase precoce, antecipando intervenções no estilo de vida e amplificando o seu impacto na prevenção de problemas associados à obesidade", defende Carlos Martins que é também médico de família e investigador do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS).
O controlo regular do peso, acrescentam os autores do estudo, também "merece especial atenção para ser possível reconhecer a situação o mais cedo possível", bem como a implementação de estratégicas práticas, "como a criação de um programa específico de consulta com abordagens verdadeiramente direcionadas à obesidade".
Além de Rosália Páscoa e Carlos Martins, participaram neste estudo Andreia Teixeira, Teresa S. Henriques, Hugo Monteiro e Rosário Monteiro.
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