Estarreja defende "alternativa 0" ao traçado da Linha de Alta Velocidade

Foi em tom crítico generalizado que a Assembleia Municipal de Estarreja discutiu hoje à noite o projeto da Linha de Alta Velocidade no atravessamento do Município, cujo troço está em discussão pública.

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Lusa
07/06/2023 ‧ 07/06/2023 por Lusa

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O argumento é que o Município de Estarreja é já atravessado pela Linha do Norte e por duas auto-estradas, a A1 e a A29, além de um gasoduto, e ficará ainda mais "retalhado" com a Linha de Alta Velocidade e a sua ligação à Linha do Norte, que vai "separar" a União de Freguesias de Canelas e Fermelã, em Canelas.

Com o salão nobre cheio, o presidente da Câmara, Diamantino Sabina, aproveitou para adiantar que vai propor na próxima reunião do executivo que a Câmara tome posição pela alternativa zero, exigindo que o projeto seja abandonado.

"É um verdadeiro desvario do Governo, movido pelo financiamento do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência)", disse Diamantino Sabina, para quem o projeto suscita um conjunto de perplexidades".

"O concelho irá mais uma vez ser retalhado e os prejuízos para o meio ambiente e para a qualidade de vida das populações são evidentes. É toda uma paisagem que será destruída bem como o sossego das populações", acrescentou.

O autarca foi assim ao encontro do desafio feito por um dos munícipes presentes na sala que questionou: "De que lado está a Câmara? Com o que é que podemos contar?"

Ouviram-se vozes também reclamando uma tomada de posição contra o traçado por parte da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA).

Cláudia Fernandes, do movimento cívico de Canelas, manifestou a sua indignação e repúdio pela barreira e divisão que o tratado proposto criará, perdendo as povoações a sua identidade própria.

"Não são só casas que se destroem: são vidas e histórias que fazem parte de nós", disse, na que foi uma das mais emotivas intervenções da noite.

Tiago Gassman, do Movimento Cívico de Cidadãos de Canelas, chamou a atenção para os custos de tal obra, "cinco mil milhões de euros, a que se irão somar derrapagens e que é o dobro do que o País dedica à Educação" e criticou a opção pela bitola ibérica, em vez da europeia, além do impacto ambiental.

Antes do público interveio Pompílio Souto e Braga da Cruz, do grupo de reflexão cívica "Plataforma Cidades", a convite da presidente da Assembleia Municipal de Estarreja, Regina Bastos, que centraram a sua exposição no aproveitamento do canal da Linha do Vouga como fator de desenvolvimento e defenderam a quadruplicação da Linha do Norte até ao Porto de Aveiro, para facilitar o tráfego de mercadorias.

No projeto da Linha de Alta Velocidade (LAV) Porto-Aveiro são propostos dois "corredores alternativos com início comum em Oiã", as soluções de traçado A e B.

Para a ligação à linha do Norte, foram estudadas "três alternativas possíveis" na zona de Canelas, no concelho de Estarreja.

"A construção do Trecho Aveiro/Porto da LAV [linha de alta velocidade] implicará um investimento de 1,65 mil milhões de euros, dos quais 500 milhões provêm de fundos europeus e o restante será financiado através de contratos de concessão da conceção, construção, manutenção e financiamento", pode ler-se no resumo não técnico do Estudo de Impacto Ambiental encomendado pela Infraestruturas de Portugal (IP).

A linha será em "bitola ibérica (distância de 1.668 mm entre carris) dada a articulação que tem com a restante rede nacional, mas tendo em vista a interoperabilidade com o sistema europeu, integra travessas polivalentes que permitem, em caso de necessidade, a passagem para esse sistema europeu (distância de 1435 mm entre carris)".

Leia Também: Casas afetadas pela alta velocidade no Porto conhecidas após projetos

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