O primeiro-ministro António Costa comentou pela primeira vez, este sábado, a demissão - a 13.ª desta legislatura - do secretário de Estado da Defesa Marco Capitão Ferreira, após este ser suspeito de corrupção e participação económica em negócio, dizendo que tem de se deixar "a justiça funcionar".
À porta da reunião informal do Conselho de Ministros, questionado pelos jornalistas se o Governo está a acusar desgaste devido às demissões e casos que tem sofrido em apenas um ano e três meses, Costa afirma que se dedica "pouco à análise política" e foca-se mais no que lhe compete, "que é governar".
"Como eu tenho dito, é muito difícil um país que veio de uma pandemia fortíssima como aquela que nós enfrentámos, com todas as consequências que isso teve - do ponto de vista económico, social, psicológico - para todos nós. O impacto brutal desta guerra, que trouxe consigo destruição, mas também de gerar um pico inflacionista, como há 30 anos não vivíamos", declarou o líder do Governo, garantindo que esta reunião "vai-se concentrar naquilo que importa para a vida dos portugueses", 'fugindo' ao comentário pedido sobre a mais recente saída do Executivo.
"Aquilo que eu sinto que preocupa as pessoas são temas bastante diferentes", afirmou, assegurando que os portugueses têm mais preocupações além das 'trocas e baldrocas' dentro do Governo.
"A função do Governo é governar a pensar nas pessoas e o que preocupa às pessoas é o impacto da inflação e se vamos conseguir continuar esta tendência que se iniciou há dois meses de começar a reduzir a inflação, se vamos prosseguir uma política de melhoria dos rendimentos, os desafios que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) coloca", enumera Costa.
"Quanto a este Conselho de Ministros, tradicionalmente no final do ano político, vamos sempre ter um encontro informal para poder fazer uma reflexão do caminho que foi percorrido, sobre aquilo que temos que fazer, o que temos corrigir, o que temos de assegurar, o que correu bem e que temos de continuar a melhorar. E é um momento importante para que todos os membros do Governo possam falar não só das suas áreas, mas do conjunto das áreas", começou por dizer António Costa, em declarações aos jornalistas, em Sintra.
O primeiro-ministro referiu que esta será uma "reunião descontraída" para "trocar impressões", escusando-se a comentar a polémica em torno de Capitão Ferreira.
De lembrar que a Polícia Judiciária (PJ) realizou buscas, na manhã de sexta-feira, no Ministério da Defesa Nacional, no âmbito de "averiguações a atos praticados entre 2018 e 2021", foi adiantado em comunicado a que o Notícias ao Minuto teve acesso.
Marco Capitão Ferreira era secretário de Estado da Defesa desde que o atual Governo tomou posse, em 30 de março de 2022.
O Expresso noticiou que o secretário de Estado da Defesa admitiu Miguel Fernandes, ex-administrador do Alfeite, para assessor da administração da 'holding' da Defesa, IdD Portugal Defence, mas que o gestor nunca foi visto a exercer essas funções.
Na quarta-feira, o parlamento aprovou a audição de Marco Capitão Ferreira para prestar esclarecimentos sobre um contrato de assessoria que o próprio assinou com a Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional (DGRDN) antes de assumir o cargo de secretário de Estado.
A audição, pedida pelo Chega, foi aprovada na Comissão de Defesa Nacional da Assembleia da República com a abstenção do PS. Com a mesma votação, foi aprovado um requerimento do PSD a solicitar documentação referente a este contrato.
Em causa está um contrato de assessoria assinado em 25 de março de 2019 entre Marco Capitão Ferreira e a DGRDN, à data liderada por Alberto Coelho - um dos envolvidos na operação judicial 'Tempestade Perfeita' - com uma vigência de 60 dias e no valor de 50 mil euros mais IVA.
Em junho, a Iniciativa Liberal já tinha questionado o Ministério da Defesa sobre se Marco Capitão Ferreira tinha acumulado essa assessoria com o cargo que assumiu em abril desse ano na empresa Empordef -- Empresa de Defesa e se teria sido violado o estatuto do gestor público.
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