O ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, explicou este sábado, aos jornalistas, ter contactado o Conselho de Administração da RTP para "perceber o enquadramento" do 'cartoon' recente sobre racismo nas forças de segurança nacionais.
Em declarações proferidas durante uma visita a Arcos de Valdevez, o governante argumentou prezar "imenso a liberdade de expressão" - um "valor constitutivo das sociedades democráticas" - e ser, até, grande apreciador de 'cartoons'.
Mas, ainda assim, defendeu ser preciso, na sequência do incidente, "dar uma palavra de tranquilidade às forças de segurança" - algo que terá tentado fazer desse modo, explicou.
Para tal, considerou ser necessário estabelecer um "contacto institucional" com o Conselho de Administração da estação pública - que "não tem poderes editoriais nem tem poderes de interferência na liberdade de informação" - apenas para "perceber o enquadramento" do 'cartoon'.
Até porque, segundo explicou, "havia uma intranquilidade grande", tanto na PSP (Polícia de Segurança Pública), como na GNR (Guarda Nacional Republicana), após a obra ter sido emitida.
E elaborou: "Porque não tinham compreendido o enquadramento, e eu tive o cuidado de ter esse diálogo com o senhor presidente da RTP [...]. E com isso procurei, também, dar uma palavra de tranquilidade às forças de segurança, dando conta de que não se tratava de algo de intencional contra as mesmas, mas sim da expressão de uma liberdade que devemos respeitar na sua plenitude".
Ainda assim, nas palavras do ministro da Administração Interna, este trata-se de um "assunto que já está ultrapassado".
Em causa está a polémica em torno de um 'cartoon' recentemente exibido na rubrica semanal do coletivo Spam Cartoon, na RTP. Intitulada 'Carreira de tiro', a obra mostra um polícia a atirar sobre um alvo cada vez com mais intensidade. Alvos esses que foram escurecendo proporcionalmente em função da agressividade do agente.
O 'cartoon' levou a PSP a avançar com uma queixa-crime contra a RTP, com o diretor-nacional da força policial, Manuel Magina da Silva, a ter dito que essa foi uma "decisão difícil".
O contacto de José Luís Carneiro à RTP, recorde-se, foi alvo de críticas por parte da oposição, com o líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, a ter-se mostrado "revoltadíssimo" com "as pressões" que considerou terem sido, desse modo, exercidas sobre a estação pública. Tal levou o partido, até, a avançar com um requerimento para ouvir no parlamento os ministros da Cultura e da Administração Interna - mas o mesmo foi chumbado.
Chumbado foi, também, outro requerimento, apresentado pelo Chega, para promover as audições do Conselho de Administração da RTP, do Conselho Geral Independente da RTP e Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).
[Notícia atualizada às 19h04]
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