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Vindimas fazem-se ao som dos cânticos tradicionais no planalto de Alijó

No planalto de Favaios, em Alijó, ainda se ouvem os cânticos que animam as festas das vindimas, uma tradição antiga que "ajuda" a aguentar o trabalho árduo, mas que vai caindo em desuso.

Vindimas fazem-se ao som dos cânticos tradicionais no planalto de Alijó
Notícias ao Minuto

11:33 - 20/08/23 por Lusa

País Vindimas

"Fui ao Douro às vindimas, não achei que vindimar. Fui ao Douro às vindimas, não achei que vindimar. Vindimaram-me as costelas, foi o que lá fui ganhar", canta alto Maria Helena, 65 anos, escondida entre a folhagem das videiras, sempre com a tesoura da mão e a cortar os cachos de uvas.

Ao lado, Miguel Braga, 37 anos, bate palmas e incentiva o cântico, enquanto os restantes vindimadores vão acompanhamento com a voz um pouco mais tímida.

O corte das uvas está a começar mais cedo este ano em algumas localidades da Região Demarcada do Douro. Devido à dificuldade de arranjar mão-de-obra, Mário Monteiro começou a vindima com os trabalhadores diários que vêm de Favaios, Sanfins do Douro e Alijó.

São apenas oito e o produtor prevê que, a partir de segunda-feira, o trabalho seja reforçado com "uma roga" proveniente de Resende, ou seja, um grupo de trabalhadores afetos a um empreiteiro agrícola.

Até lá, a "festa" vai-se fazendo com a "prata da casa". Nesta vinha vão-se ouvindo cânticos tradicionais, mas este é também um costume que parece estar a cair em desuso.

"Para nós é uma brincadeira o trabalho no campo. É quente? Sim, faz muito calor, mas é a nossa vida. Agora vindimamos e durante o resto do ano granjeamos", afirmou Maria Helena.

E este ano, acrescentou, ainda se vindima "com mais gosto" porque "há boas uvas".

"Granjeamo-las todo o ano e também gostamos de ver muitas", frisou.

As previsões apontam para um ano de boa colheita no Douro, quer em quantidade, quer em qualidade.

Até ao fim da vindima, a rotina repetir-se-á todos os dias. O trabalho faz-se entre as 07:00 e as 16:00 sem "domingos ou feriados".

Maria Helena adiantou que, após o trabalho para o patrão, ainda vai trabalhar para os seus terrenos. "Tenho a minha vindima e vou para ela", referiu.

Em Favaios, o corte começou mais cedo e logo após as festas de Alijó e de Sanfins do Douro. "Estava a ver que não passávamos a festa este ano", referiu Miguel Braga, residente nesta localidade.

O trabalho é duro e faz-se debaixo de um sol escaldante. "Mas é o trabalho que é o mais desejado", salientou o trabalhador, que garantiu gostar muito de vindimar.

São, explicou, "momentos de alegria" e de "reencontros". "Vêm pessoas que não estão connosco todo o ano. É um convívio e é diferente de todo o resto do ano. A vindima é diferente", frisou.

E acrescentou que, com a dona Maria Helena e com os outros colegas, a vindima "é muito mais alegre". "Estamos à espera de mais pessoal, porque estamos a iniciar só com o pessoal da casa e, na segunda-feira, já deve vir a equipa que costuma vir todos os anos para ao pé de nós", referiu Miguel Braga.

Ana Meireles, 60 anos, é de Sanfins do Douro e considerou que o trabalho nas vindimas "é mais maçador" porque obriga a "andar sempre na mesma posição".

"É um trabalho duro, mas é o nosso trabalho", frisou, salientando que ver as uvas bonitas e saudáveis é também uma recompensa pelo ano inteiro de trabalho na vinha.

Leia Também: Falta de trabalhadores para a vindima é problema que se agrava no Douro

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