O protesto iniciou-se pelas 15h00 na Alameda, em Lisboa, e desceu a Avenida Almirante Reis, em direção à Baixa, juntando milhares de pessoas pelo caminho, que se deslocaram a pé ou em carros apetrechados com colunas de som.
Os manifestantes, entre os quais se destacavam muitos jovens, gritavam palavras de ordem como "A casa custa, queremos uma vida justa" e carregavam cartazes e faixas onde se podiam ler frases como "Onde estão as casas de quem faz as casas?", "O vosso lucro é a nossa miséria" ou " Mais baldios, menos senhorios".
"Faço parte desta manifestação porque é preciso lutarmos contra este sistema que põe o lucro acima da vida das pessoas. Não é possível que numa cidade com tantas casas, existam tantas pessoas que tenham que morrer na rua e não é possível que nós, sabendo que temos que cortar os combustíveis fosseis até 2030, que o nosso Governo continue a falar de metas ridículas até 2040 ou 2050", afirmou a estudante universitária Catarina Bio, em declarações à agência Lusa.
Para a manifestante, tanto o pacote Mais Habitação, como as medidas para mitigar as alterações climáticas não passam de "uma fachada" ou de "um penso rápido" para "fingir que o Governo está a fazer algo".
Presente no mesmo protesto, Rodrigo Machado, de 22 anos, considerou ser "imperativo" sair à rua para que o Governo oiça as reivindicações dos portugueses e adote uma "política da habitação que revolucione", lembrando que o país tem milhares de casas vazias.
"Não podemos ter casas vazias, enquanto há gente na rua [...], enquanto houver gente que não consegue pagar a renda", defendeu, lamentando os "lucros multimilionários da banca" e a especulação, como a feita pelos senhorios, quando o povo "continua com a corda ao pescoço".
Rodrigo Machado disse ainda que dificilmente sairá de casa dos pais num futuro próximo, notando que já não existem jovens a mudar-se, mas pessoas que saem para dividir a casa com amigos ou mesmo para partilhar quartos.
O problema, conforme apontou, atravessa idades e classes, empurrando já muitos trabalhadores com o salário médio para a "periferia da periferia", quando a casa é uma das "primeiras liberdades" e, sem ela, "as outras estão muito condicionadas".
Por sua vez, Pedro Soares referiu que o direito à habitação está consagrado na Constituição Portuguesa e que a lei de bases considera que este é um direito essencial, que tem também uma função social.
"Há uma questão que não está a ser devidamente tratada pelo governo que é a questão dos fogos devolutos. Só em Lisboa, há cerca de 48.000, grande parte deles são propriedade de fundos de investimento imobiliário. Porque é que não há uma ação de mobilização pública temporária desses fogos para enfrentar uma crise habitacional que se está a viver em Lisboa e noutros pontos do país?", questionou.
Já o pacote Mais Habitação, que considerou ter "uma ou outra medida interessante", não responde às necessidades do país, mantendo assim uma "política estrutural de entregar o direito à habitação ao mercado, que está sem controle e puramente especulativo".
Ainda assim, mostrou-se contra o veto do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, por acreditar que este foi feito pelas más razões e não para "enfrentar a mercantilização habitacional".
Pedro Soares, filiado no Bloco de Esquerda, vincou também que a maioria absoluta do Governo do PS tem que se abrir e apresentar soluções, que ultrapassem a ideia de que o direito à habitação depende do mercado.
"Se o Governo não olhar para estas reivindicações e não tiver em conta a crise habitacional, não está a contribuir para resolver o problema", concluiu.
As plataformas Casa para Viver e 'Their Time to Pay' promoveram hoje um conjunto de manifestações pelo direito à habitação e pela justiça climática.
"Lutamos pelo direito à habitação e por permanecer nos espaços, por uma vida digna para todas as pessoas e por medidas que travem a crise climática. Estas são duas lutas contra o capital, que coloca a especulação e o lucro acima da vida", lê-se na informação difundida pelas duas plataformas.
Os protestos começaram esta manhã no Barreiro, Beja, Évora, Portalegre e Tavira.
Da parte da tarde, além de Lisboa, decorreram manifestações no Porto, Aveiro, Braga, Coimbra, Covilhã, Guimarães, Lagos, Leiria, Portimão, Viseu, Samora Correia e Alcácer do Sal.
[Notícia atualizada às 19h34]
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