Ricciardi diz que Salgado influenciou Sócrates a levar Pinho para Governo
O antigo presidente do BES Investimento, José Maria Ricciardi, disse hoje em tribunal que o ex-presidente do Grupo Espírito Santo (GES), Ricardo Salgado, influenciou o ex-primeiro-ministro José Sócrates a levar Manuel Pinho para o Governo em 2005.
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País Caso EDP
Ouvido como testemunha na quinta sessão do julgamento do Caso EDP, no Juízo Central Criminal de Lisboa, o antigo administrador do BES revelou que Salgado lhe disse que tinha estado na origem da ida de Pinho para o executivo, assegurando que o ex-presidente do GES tinha "uma relação íntima" com Sócrates.
"Mais tarde comunicou-me pessoalmente a mim que ele, Ricardo Salgado, tinha tido interferência na ida dele [Manuel Pinho] para o Governo", disse José Maria Ricciardi, primo de Ricardo Salgado, acrescentando que "[Quem exerceu influência] foi Ricardo Salgado sobre o [então] primeiro-ministro, José Sócrates... Para ministro da Economia".
E continuou, apresentando a sua justificação para esta situação: "Penso que José Sócrates, tendo uma relação intima com Ricardo Salgado, este terá lembrado que tinha uma pessoa extremamente qualificada e que estava, de certa forma, desaproveitada. Mais tarde, vim a saber que [Manuel Pinho] já tinha desenvolvido trabalho com elementos do PS e não era propriamente uma pessoa do espaço político de oposição do PS".
Questionado pela defesa de Manuel Pinho, a cargo do advogado Ricardo Sá Fernandes, sob o peso da indicação do nome dada por Ricardo Salgado a José Sócrates, José Maria Ricciardi salientou a proximidade entre o ex-banqueiro e o antigo primeiro-ministro. "Eram muito próximos, mas, se foi decisivo ou não, não consigo responder", notou.
O depoimento do antigo presidente do BES Investimento contraria as declarações de Manuel Pinho em tribunal, em que o ex-ministro da Economia alegou que Ricardo Salgado até o desaconselhou de ir para a política.
Já em relação ao pagamento de verbas no estrangeiro a administradores do GES e se isso era uma prática comum na instituição, como foi alegado por Pinho, o antigo líder do BESI admitiu que "podia ser para pessoas específicas", mas rejeitou que fosse uma prática comum.
José Maria Ricciardi foi ainda confrontado pelo Ministério Público com os valores dos prémios no GES e o valor de 1,5 milhões de euros que o ex-ministro recebeu e disse corresponder a um prémio pelos resultados da área dos mercados da qual foi responsável, defendendo que esse montante "era um prémio muito acima do normal" dos prémios habitualmente atribuídos aos administradores quando havia resultados, situando-os entre 300 e 500 mil euros.
"Eu não recebi, mas também não andava a ver os prémios dos outros", afirmou, além de admitir não ter noção de que os administradores do BES tivessem vencimentos abaixo da concorrência e que não declarassem fiscalmente os rendimentos: "Ganhar 400 ou 500 mil euros por ano, fora prémios, não me parecia abaixo. Custa-me a crer que as pessoas se expusessem a um risco dessa magnitude".
Após o depoimento de José Maria Ricciardi, Manuel Pinho pediu para intervir antes do fim da sessão e refutou as declarações do ex-presidente do BESI. "Não foi apresentada aqui a mínima prova da relação entre José Sócrates e Ricardo Salgado", argumentou, com o coletivo de juízes a dizer que isso cabia ao tribunal apreciar posteriormente.
O julgamento prossegue na segunda-feira, a partir das 09:30, com as declarações da arguida Alexandra Pinho, mulher do antigo ministro da Economia.
Manuel Pinho, em prisão domiciliária desde dezembro de 2021, é acusado de corrupção passiva para ato ilícito, corrupção passiva, branqueamento e fraude fiscal.
A sua mulher, Alexandra Pinho, está a ser julgada por branqueamento e fraude fiscal - em coautoria material com o marido -, enquanto o ex-presidente do BES, Ricardo Salgado, responde por corrupção ativa para ato ilícito, corrupção ativa e branqueamento de capitais.
[Notícia atualizada às 17h49]
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