O ministro das Infraestruturas, João Galamba, terá usado os motoristas do Governo para "benefício pessoal", tendo solicitado que os funcionários transportassem não só as filhas e a empregada doméstica, como também que lhe fossem buscar garrafas de vinho.
As informações foram divulgadas esta quarta-feira pelo Expresso e pela SIC Notícias que tiveram acesso à indiciação do Ministério Público (MP).
De notar que, nos autos de busca da operação levada a cabo na terça-feira, que culminou com a detenção de cinco pessoas - o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, o advogado Diogo Lacerda Machado, o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, e os dois administradores da sociedade Start Campus, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves -, é referido que João Galamba terá usado dois motoristas que prestaram serviço no seu gabinete enquanto secretário de Estado da Energia e Ambiente para que realizassem deslocações apenas para seu "benefício pessoal".
Além disso, e segundo a equipa de procuradores do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), "o ministro das Infraestruturas, João Galamba, e o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Nuno Lacasta, almoçavam e jantavam por isso sem nada pagar".
Segundo o MP, o ministro "tem vindo a interferir em praticamente todas as matérias objeto de investigação", desde os factos relacionados com a mina do Romano até ao projeto de data centre da Start Camps, um projeto avaliado em 500 milhões de euros, mas "perspetivando-se" que rapidamente ascenda aos 2 mil milhões de euros.
O MP indica que João Galamba é também "suspeito de ter ajudado a convencer a autarquia de Boticas a não se opor à exploração do lítio, financiando a autarquia com uma estrada no valor de 20 milhões de euros, acordo que terá tido a colaboração do presidente da APA”.
Sublinhe-se que os oito partidos com representação parlamentar passaram esta quarta-feira por Belém, antes de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ouvir o Conselho de Estado, na quinta-feira.
Face aos acontecimentos do último dia, no qual o primeiro-ministro, António Costa, apresentou a sua demissão, que foi aceite, depois de o Ministério Público ter revelado que é alvo de uma investigação autónoma do Supremo Tribunal de Justiça sobre projetos de lítio e hidrogénio, Marcelo vê-se a par com duas opções: nomear outro primeiro-ministro ou dissolver a Assembleia da República e convocar novas eleições.
Na manhã de terça-feira, as buscas da Polícia de Segurança Pública (PSP) e do Ministério Público a diversos Ministérios e na residência oficial do primeiro-ministro culminaram com a detenção de cinco pessoas. Já João Galamba e o presidente do Conselho Diretivo da APA, Nuno Lacasta, foram constituídos arguidos.
Segundo a PGR, estão em causa possíveis crimes de prevaricação, de corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e de tráfico de influência.
Por seu turno, António Costa recusou a prática "de qualquer ato ilícito ou censurável" e manifestou total disponibilidade para colaborar com a justiça "em tudo o que entenda necessário", numa declaração a partir do Palácio de São Bento.
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