Os seis jovens foram hoje detidos pela PSP depois de terem invadido o aeroporto municipal em Tires, no concelho de Cascais, distrito de Lisboa, onde pintaram um jato privado e se acorrentaram ao aparelho, em protesto contra voos de luxo.
Uma fonte das Relações Públicas da PSP de Lisboa avançou à Lusa que foram "detidos seis jovens por introdução de local vedado ao público", após um alerta feito pelas 07:55 de que tinham entrado no recinto do Aeroporto Municipal de Cascais, em Tires.
Os jovens "acederam à placa, cortando uma rede de vedação e, entretanto, já lá dentro, pintaram um avião com tinta vermelha", descreveu a mesma fonte oficial da PSP, acrescentando que, após entrarem por um buraco numa "rede periférica" do aeroporto, quatro dos ativistas "acorrentaram-se" às rodas de um jato privado.
Os detidos foram encaminhados para a esquadra da PSP do aeroporto municipal e, após serem identificados, serão presentes a partir de hoje ao Tribunal de Cascais, acrescentou a fonte policial, admitindo que o interrogatório possa continuar na quinta-feira.
O movimento Climáximo, em comunicado, referiu que uma viagem num jato privado entre Londres e Nova Iorque "emite mais CO2 [dióxido de carbono] do que uma família portuguesa num ano inteiro".
"Estar aqui corta mais emissões do que qualquer escolha individual. Os donos do mundo culpam pessoas normais de forma ingrata pelos seus hábitos, quando na realidade esta é de longe a forma de transporte com mais emissões 'per capita', e é usada quase exclusivamente por ultra ricos", afirmou Noah Zino, do Climáximo, citado na nota.
Fonte da esquadra da PSP de São Domingos de Rana, freguesia onde se insere o aeroporto municipal, disse à Lusa que alguns dos seus elementos foram para o local.
No comunicado, acompanhado de fotos onde se podem ver alguns jovens acorrentados às rodas de um dos jatos estacionado e que foi pintado com tinta vermelha, o Climáximo lembrou ainda: "A ONU afirma que o 1% tem de cortar mais de 97% das suas emissões, mas os voos duplicaram no ano passado".
"Jatos privados são armas de destruição em massa, não têm lugar numa sociedade em chamas. Só a poluição da queima de combustíveis fósseis já mata, todos os anos, mais pessoas que os campos de concentração", referiu o movimento.
Criticou ainda o facto de os líderes mundiais se deslocarem "de jato privado aos Emirados Árabes Unidos para 'negociações climáticas'", considerando que "pintam uma imagem da realidade tão nítida como a tinta vermelha que os denuncia".
Cortar as emissões de luxo e voos supérfluos, como os de jato privado e os voos de curta distância, travar qualquer plano de aumento da aviação -- "seja um novo aeroporto em Lisboa ou a expansão em curso do aeroporto de Cascais" - e requalificar milhares de trabalhadores, desenvolvendo amplamente a rede ferroviária nacional e internacional, são algumas propostas avançadas pelo Climáximo para travar a crise climática.
O movimento convidou ainda todas as pessoas a juntarem-se e saírem à rua no próximo sábado, numa "manifestação de resistência climática".
Contactada pela Lusa, a empresa municipal Cascais Dinâmica, que gere o Aeroporto Municipal de Cascais, decidiu não comentar o caso.
A Câmara de Cascais tem em curso obras no aeródromo de Tires que deverão contribuir para "a eficiência e modernização" do equipamento, mediante construção da aerogare (4,8 milhões), da torre de controlo (3,3 milhões), do quartel dos bombeiros (2,068 milhões) e de infraestruturas de energia elétrica (912.800 euros), de acordo com as dotações no orçamento municipal aprovado para 2024.
As obras deverão estar concluídas dentro de um ano e vão permitir a transferência total da operação de jatos privados da Portela para Tires.
O aeródromo municipal de Tires é atualmente responsável por 50% de toda a aviação executiva da zona de Lisboa.
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