Face à onda crescente de partículas de plástico que estão, desde o final da semana passada, a dar à costa no norte de Espanha, particularmente na Galiza, a Autoridade Marítima Nacional (AMN) anunciou, esta quarta-feira, estar a monitorizar a situação nas águas portuguesas, por forma a antecipar uma eventual deslocação para Portugal. Nessa linha, o organismo disse estar a preparar um plano de contingência para remover o material, ainda que, até ao momento, os cálculos não deem indicação de que estes ‘pellets’ possam dar à costa em solo português.
Contudo, a vice-presidente da associação Zero, Susana Fonseca, indicou, em declarações ao Notícias ao Minuto, que deverá ser "muito difícil conseguir conter esta poluição", apesar das medidas de monitorização.
"Independentemente da preparação, este é um tipo de material muito móvel, muito leve e de transporte fácil, pelo que será muito difícil conseguir conter esta poluição", disse a responsável, em conversa com o Notícias ao Minuto.
A vice-presidente da associação ambientalista foi mais longe, tendo apontado que estes ‘pellets’ serão "transportados para várias partes do mundo", não devendo "ficar centrados nesta zona". Além disso, estes plásticos terão um efeito "mais a longo prazo", uma vez que "ficarão no ambiente e entrarão na cadeia alimentar", o que poderá fazer com que os seres humanos entrem "em contacto com substâncias perigosas". Ainda assim, a responsável ressalvou que estas bolas "normalmente já estão na praia", adotando diversas tonalidades.
"Enquanto continuarmos a usar plástico nestas quantidades, vamos continuar a ter este transporte de ‘pellets’ e o risco de acidente mantém-se", disse, apelando, por isso, à prevenção e à redução do uso de plástico.
Susana Fonseca asseverou ainda que "é bom" que as autoridades e o Governo estejam alerta, mas reforçou que, "se as correntes trouxerem estes ‘pellets’, só uma parte conseguiremos retirar do ambiente".
É que, recorde-se, a AMN anunciou estar não só a monitorizar a situação, como também a "preparar um plano de contingência, no âmbito do plano Mar Limpo, para remover as partículas de plástico, caso cheguem à costa portuguesa", segundo detalhou à Lusa o porta-voz da AMN e da Marinha.
Até ao momento, "os cálculos não dão indicação de que os plásticos possam vir para Portugal" mas, de acordo com o responsável, "isso não quer dizer que a situação não mude, dentro de dias ou horas". O porta-voz indicou, por isso, que as Capitanias de Viana do Castelo e Caminha, "onde há maior probabilidade de as partículas chegarem", estão com "especial atenção" à costa.
Também o Ministério do Ambiente disse, na terça-feira, estar atento ao caso, e assegurou que não foi detetado "qualquer vestígio" desta "maré de plástico" na costa portuguesa. Já o Ministério da Economia e Mar garantiu que "foram seguidos todos os protocolos de atuação, com mecanismos de alerta automáticos".
Recolha em alto mar é "impossível"
Por seu turno, a ministra do Ambiente de Espanha, Teresa Ribera, apontou que a recolha do plástico em alto mar "é impossível por causa do tamanho dos 'pellets'", tendo em conta os seus menos de três milímetros de diâmetro.
A governante detalhou que o serviço de Salvamento Marítimo, que patrulha as águas espanholas, tem feito "voos de reconhecimento" e as minúsculas bolas de plástico "não são visíveis", pelo que "muito dificilmente" se conseguirão recolher no mar. Além do mais, Ribera ressalvou que o plástico está há semanas no oceano, e o alerta só chegou quando foi visto na costa.
De salientar que informações fornecidas pelo Ministério do Ambiente de Espanha aos meios de comunicação locais davam conta de que um cargueiro com bandeira da Libéria perdeu seis dos contentores que transportava, a 8 de dezembro, em águas portuguesas, a 80 quilómetros de Viana do Castelo.
Um desses contentores, segundo o Governo espanhol, que cita o armador do barco, levava mil sacos com cerca de 26,2 toneladas destas bolas com cerca de cinco milímetros de diâmetro, usadas para fabricar plásticos. Não sendo biodegradáveis, estes ‘pellets’ fragmentar-se-ão em nanopartículas, microplásticos que entram na cadeia alimentar marinha.
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