O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou, esta quinta-feira, que "o jornalismo reinventa-se todos os dias para tentar não desaparecer", durante a abertura do Congresso dos Jornalistas no cinema de São Jorge, em Lisboa.
À chegada ao Cinema São Jorge, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa cumprimentou trabalhadores do grupo de Global Notícias - que tem entre os seus acionistas um fundo sediado nas Bahamas de proprietários desconhecidos - que seguravam uma faixa "em luta pela defesa dos postos de trabalho", sem prestar declarações.
O chefe de Estado salientou que o "o jornalismo consegue excelência, apesar da precariedade" e que assim "como todas as paixões resiste ou tenta resistir sem limites". Marcelo referiu que é necessário que "haja transparência no saber quem lidera e gere o quê na comunicação social, om que projetos editoriais, com que modelos, com que perfis e viabilidade de dar vida ao setor". Pediu ainda aos "proprietários e gestores de meios, mais os especialistas nas mudanças científicas, tecnológicas e sociais em curso estejam em constante convergência, interação e prospetivas estratégicas, formando uma plataforma de dialogo e decisão com os jornalistas".
Durante o discurso de abertura do congresso, Marcelo salientou as dificuldades do setor da imprensa e assumiu que "o jornalismo é obrigado a apagar-se tantas vezes", mas, ainda assim, "os jornalistas, como sempre, aficam-se à sua paixão e não desistem, não desmobilizam, não renunciam".
"Este é o grande significado deste congresso, ninguém arreda pé, como nos ajuntamentos estudantis de outros tempos e eu compreendo-vos e admiro-vos por isso. Nunca tendo sido jornalista de carteira, fui, muitas décadas, de alma. E fiquei sempre fiel a um compromisso de princípio: em circunstância alguma, custasse o que custasse, nunca esqueceria o que escrevera ou dissera nessas décadas", referiu.
O chefe de Estado entrou no 5.º Congresso dos Jornalistas acompanhado pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Henrique Araújo, e sentou-se ao seu lado antes de intervir.
Nesta sessão de abertura estiveram também a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, e representantes de partidos com assento parlamentar.
À saída, em declarações aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa manifestou a esperança de que este congresso, "em tempo eleitoral", a menos de dois meses das legislativas de 10 de março, seja "um grande momento para se chegar a um entendimento amplo, eu diria de regime, quanto a medidas já experimentadas noutros países" de apoio ao setor da comunicação social.
O Presidente apontou como exemplos 'vouchers' de acesso à imprensa escrita e incentivos à inovação tecnológica.
"Há várias pistas possíveis, tem de ser por um acordo partidário muito amplo, tem de ser por regras gerais e abstratas, com um regime de grande independência e isenção, porque se não os governos eles próprios têm um bocado de puder em tomar qualquer iniciativa", considerou.
Sobre a propriedade dos órgãos de comunicação social, insistiu que "é preciso saber quem é titular de quê", com "uma lei que deve ser clara quanto à transparência das entidades, da gestão, dos responsáveis", mas frisou que não fala de casos concretos.
No 5.º Congresso dos Jornalistas, o chefe de Estado expressou admiração pela sua resistência e mobilização.
"Esse é o grande significado deste congresso: ninguém arreda pé, como nos ajuntamentos estudantis de outro tempo. E eu compreendo-vos e admiro-vos por isso. Nunca tendo sido jornalista de carteira, fui muitas décadas de alma", disse.
Marcelo Rebelo de Sousa reiterou ter assumido como princípio que "nunca por nunca moveria um procedimento jurisdicional" contra a comunicação social, tendo presente o que também escreveu ou disse de titulares de órgãos de soberania no passado.
No fim de discurso em que recordou os tempos da censura, declarou-se certo de que "aqueles que desconhecem, ou têm saudades do pré-25 de Abril que não conheceram, ou que o reconstroem na sua imaginação sem nunca o terem podido conhecer nem compreender, passarão".
"Passarão, serão fugazes, e o 25 de Abril ficará. Ficará sempre. E com ele a democracia, sempre. E com ela o jornalismo, sempre", exclamou.
[Notícia atualizada às 21h30]
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