Em declarações aos jornalistas portugueses após ter inaugurado e visitado a exposição na companhia de Sergio Mattarella, Marcelo Rebelo de Sousa rejeitou pronunciar-se sobre a proposta hoje avançada pelo presidente da Assembleia da República de criação de um voto de repúdio perante um insulto ou uma injúria, por não querer "ultrapassar as fronteiras da separação de poderes".
Questionado sobre como, 50 anos volvidos sobre a Revolução dos Cravos, assiste a este novo debate -- originado por um incidente na passada sexta-feira, em plenário, quando o presidente do Chega, André Ventura, se referiu à capacidade de trabalho dos turcos -, Marcelo sublinhou que a discussão é natural, pois "é a democracia".
"A democracia caracteriza-se por surgirem novas questões, novos problemas. A democracia nunca está acabada, nem esgotada, nem perfeita. E, ao longo destes 50 anos, nós fomos descobrindo que na década de 1980 havia problemas que não havia na década de 70, na [década] de 90 [problemas] que não havia na de 80, dúvidas que surgiram, questões, novos debates, novas realidades económicas, sociais e políticas", apontou.
"E uma democracia é tanto mais democrática quando mais é capaz de se adaptar àquilo que muda", completou Marcelo Rebelo de Sousa, que chegou hoje à tarde a Roma para a inauguração da exposição fotográfica "A madrugada que eu esperava", no complexo cultural do Mattatoio, que conta com trabalhos de fotógrafos como Sebastião Salgado, Guy le Querrec e Alfredo Cunha.
Num curto discurso, Marcelo, que agradeceu a presença "muito simbólica" do "caro amigo" Mattarella, fez um paralelismo entre os dois «25 de abril» que se celebram em ambos os países, já que em Itália é também nessa data, mas referente a 1945, que se assinala a libertação da ocupação nazi e do fascismo.
"Para a Itália, o 25 de abril foi a libertação depois do fascismo, depois da II Guerra Mundial. Foi um período muito longo, com muitos milhares de mortos, e que em parte destruiu a economia, a sociedade e até as famílias italianas", começou por lamentar.
"Com Portugal, foi o fim da ditadura, que também durou 48 anos, e que na sua parte final esteve muito associada a uma guerra. Tão associada, que foram os «capitães de abril», que conheceram a experiência da guerra, que entenderam que, num determinado momento, importava agir para mudar o regime e para abrir o caminho da liberdade e da democracia.
O Presidente da República notou que, "embora haja uma diferença grande de décadas - num caso os anos [19]40, no outro os anos [19]70", não se trata apenas da "coincidência do 25 de abril", pois há o paralelismo de ambos os países saírem "de situações de ditadura e de guerra, para situações de paz, de liberdade e de democracia".
Depois de Roma, Marcelo Rebelo de Sousa ruma a Florença, onde participará, na quinta-feira, na conferência sobre o "Estado da União" promovida pelo Instituto Universitário Europeu de Florença, depois de já ter sido um dos principais oradores convidados da edição de 2018.
Desta feita, o Presidente da República participará numa «conversa de alto nível» com a Presidente da Grécia, Katerina Sakellaropolou, consagrada ao tema «Uma nova era: moldar o futuro através dos valores europeus».
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