O retrato da população em situação de sem-abrigo no concelho de Loures foi feito por fonte oficial da Câmara Municipal, numa resposta escrita enviada à Lusa.
Os dados divulgados pela Câmara de Loures, presidida pelo socialista Ricardo Leão, indicam que "neste momento" existem neste município 169 pessoas em situação de sem-abrigo, "assinaladas e acompanhadas" pelos serviços da autarquia.
Destas 169 pessoas, 120 encontram-se em situação de "sem teto", pernoitando em vários locais do espaço público, como jardins, pontes, alpendres ou em casas abandonadas, segundo refere a mesma fonte, sublinhando que se trata de espaços "sem condições de habitabilidade e onde predomina a insalubridade e o acumular de lixo".
De acordo com os mesmos dados, a maioria desta população são homens solteiros, na faixa etária dos 45-64 anos, maioritariamente de nacionalidade portuguesa ou de países de língua oficial portuguesa.
A freguesia do concelho que regista a presença de mais pessoas em situação de sem-abrigo é Loures, enquanto Apelação, Unhos e Bobadela são as freguesias onde este fenómeno é menos comum.
Questionada pela Lusa sobre as soluções que devem ser adotadas para mitigar o problema, a Câmara Municipal de Loures admitiu que "os municípios, por si só, não têm as respostas necessárias e adequadas para a multiplicidade de problemáticas que estão associadas a este fenómeno".
"Estamos perante um dos maiores desafios da atualidade. Considera-se, por isso, que atendendo à abrangência do fenómeno e à necessidade de atuar nas várias dimensões do problema, este desafio é de todos os municípios e, por isso, deve ser dada uma dimensão metropolitana à problemática dos sem-abrigo", indica a autarquia.
No entanto, a Câmara de Loures refere que "tem desenvolvido esforços no sentido de acionar um conjunto de mecanismos que garantam o acesso das pessoas em situação de sem-abrigo a respostas integradas e integrantes".
"Além de medidas de prevenção, intervenção em contexto de rua, inserção social, estamos empenhados no aumento da capacidade de alojamento temporário e de emergência", indica a autarquia, manifestando disponibilidade para discutir a criação de espaços de acolhimento no concelho.
A esse propósito, a Câmara de Loures refere que tem em desenvolvimento a implementação de mais espaços e mais áreas de intervenção para resposta em 'housing first' (casa primeiro), apartamento partilhado e novos centros de acolhimento temporário, beneficiando de financiamento do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), num investimento total previsto de 1,6 milhões de euros.
"Sabemos que as características desta população e a sua condição de mobilidade que, não tendo morada fixa, com muita facilidade se deslocam para territórios vizinhos, acreditamos que uma solução metropolitana, coerente e que responda às suas necessidades e especificidades seria a melhor estratégia", sublinha.
Em 10 de maio, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), convidou os autarcas dos 18 municípios da Área Metropolitana de Lisboa (AML) para um encontro para discutir medidas para contrariar este fenómeno.
No entanto, apenas os presidentes de Oeiras, Isaltino Morais (independente), e de Cascais, Carlos Carreiras (PSD), compareceram, enquanto outros três -- Barreiro (PS), Almada (PS) e Seixal (CDU) - fizeram-se representar por vereadores ou técnicos que acompanham a problemática.
No final do encontro, Carlos Moedas anunciou que as câmaras de Lisboa, Oeiras e Cascais querem avançar com uma 'task force' e criar centros de acolhimento para integrar as pessoas em situação de sem-abrigo que existem na área metropolitana.
Fazem parte da AML os concelhos de Alcochete, Almada, Amadora, Barreiro, Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Moita, Montijo, Odivelas, Oeiras, Palmela, Seixal, Sesimbra, Setúbal, Sintra e Vila Franca de Xira.
Leia Também: PAN quer mais investimento em habitação para pessoas sem-abrigo