"Há uma autoilusão por causa da ajuda e da possibilidade de assistência, que parece permitir que se contornem as próprias regras", explicou o economista guineense durante uma conversa com o editor das revistas African Business e New African, a partir de Londres, que serviu para apresentar o seu novo livro.
"A relação não é, de todo, correspondente ao que pretendíamos para o envolvimento entre a Europa e África, porque, basicamente, as pessoas são muito vulneráveis às táticas divisivas adotadas pela União Europeia, o que é frustrante para os dois lados", explicou, acrescentando que "os parceiros europeus têm de perceber que há pessoas em África que pensam sobre a parceria e querem que ela funcione, mas não vai funcionar se continuarem nesta atitude colonial disfarçada de altruísmo".
As duras críticas aos europeus, nomeadamente no que diz respeito à Global Gateway, o programa de parcerias e ajuda internacional da União Europeia, que diz ter sido lançado à revelia dos africanos, estendem-se também aos próprios africanos, que se deixam enredar em conversações bilaterais quando deviam juntar-se e negociar através da União Africana, numa só voz.
"Os africanos têm de perceber a complexidade dos temas, não é simplificar as mensagens, temos de garantir e perceber que devemos rever completamente a narrativa para nos envolvermos com a União Europeia e negociar melhor", acrescentou.
Na conversa de mais de uma hora a propósito do livro 'A Armadilha da Autoilusão: Exploração das Dimensões Económicas da Dependência da Caridade nas Relações África-Europa', Carlos Lopes explicou que o continente perde força quando não é proativo e perde força também quando negoceia de forma bilateral, em vez de usar a força de 54 países unidos pela União Africana.
"Sobre a questão dos regimes desfavoráveis para o continente, seja sobre comércio, propriedade intelectual ou reforma da arquitetura do sistema financeiro mundial, ou alterações climáticas, temos de pensar que nós somos 54 países e temos a força dos números, principalmente num contexto em que há um enorme interesse geopolítico em África, e só poderemos negociar melhor com outros blocos, nomeadamente a Europa, se a União Africana for mais forte na implementação das suas próprias decisões", salientou.
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