Governo diz que carga não justifica negar entrada a navio que ruma a Israel

O Governo recusou hoje, com base no manifesto de carga, haver justificação para negar a entrada no porto de Lisboa a um navio que alegadamente está envolvido num "esquema ilegal de abastecimento de armas" a Israel.

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Lusa
09/11/2024 18:00 ‧ há 2 semanas por Lusa

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MAERSK

De acordo com o comunicado do Ministério das Infraestruturas e Habitação, que tem por base o manifesto de carga do navio e as informações prestadas pelo "armador e autoridades relevantes", o porta-contentores NYSTED MAERSK pediu autorização para atracar no porto de Lisboa pelas 20h00 de hoje para descarregar 144 contentores.

 

A carga inclui automóveis, roupa, alimentos, sementes, mobiliário, cerâmica, copos de vidro, champôs e sabões, quadros e pinturas, aparelhos elétricos, cabos de fibra ótica e diversos metais (lingotes de cobre, granalha de ferro, ligas à base de cobre-zinco).

"Este navio prevê partir na manhã de amanhã, 10 de novembro, sem efetuar qualquer carga. Em resposta a pedido de esclarecimento, foi-nos reconfirmado que não é transportada qualquer carga militar, armamento ou explosivos", adiantou o Governo, depois de hoje o Bloco de Esquerda ter questionado a autorização para atracar concedida a este navio.

Em causa para o partido está o alegado envolvimento do porta-contentores num "esquema ilegal de abastecimento de armas" a Israel.

"Na carga que transporta e transita (sem ser descarregada em Portugal), estão incluídos três contentores com componentes de aviões (peças de asas) com destino aos EUA. Mais se informa não haver nenhum contentor com destino a Israel", esclareceu ainda o executivo, referindo que o navio, antes de chegar a Lisboa, já atracou em "Casablanca (5/11), Valencia (2/11), Barcelona (1/11), Fos-Sur-Mer (31/10), Génova (30/10), Haifa (25/10), Mercin (22/10), Alexandria (20/10)".

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No entanto, a questão hoje levantada pelo Bloco de Esquerda numa pergunta entregue no parlamento e dirigida ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, prende-se não tanto com a carga mas com o alegado envolvimento do navio no referido esquema ilegal.

Na pergunta, que o partido vai entregar no parlamento, o BE informa ter tido acesso a uma nota informativa enviada ao Governo português pelo movimento BDS (que defende o boicote, desinvestimento e sanções a Israel) a respeito da utilização do porto de Lisboa pelo navio NYSTED MAERSK, hoje à noite.

"Este navio é um dos envolvidos num esquema dissimulado de abastecimento de material militar norte-americano a Israel que, durante meses, transportou cargas ilegais desta natureza para o porto espanhol de Algeciras, onde o armamento era descarregado para ser depois levado até Israel noutros navios", refere o BE, dizendo que o navio em causa tem executado "em permanência a rota Algeciras -- Israel".

Segundo o Bloco, na semana passada, o Governo espanhol proibiu a utilização do porto de Algeciras por outro dos navios "integrados neste esquema, o MAERSK DENVER, vindo dos Estados Unidos da América e agora estacionado em Tânger, Marrocos".

Segundo as informações do partido, o navio que passará hoje por Portugal teria "chegada prevista a Algeciras no dia 9 de novembro (plausivelmente para receber a carga do MAERSK DENVER para a reconduzir a Israel)", mas "foi reorientado também para Tânger".

"Nesse trajeto, passará por Lisboa, onde deverá atracar pelas 22:00 de hoje. Estes factos indiciam fortemente a continuação do envolvimento do NYSTED MAERSK no esquema de abastecimento ilegal de material militar a Israel", considera o Bloco.

O BE defende que o respeito por uma resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas aprovada a 13 de setembro, e com o voto de Portugal, obriga a que o governo "tome iniciativas no sentido de interromper a provisão de armas, munições e material relacionado a Israel, a potência ocupante".

Leia Também: Espanha proibiu entrada de navio porta-contentores Maersk no porto de Algeciras

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