"Perante a falta de cumprimento de compromissos assumidos pela câmara há mais de um ano e meio, a cinco dias de ter início a luta dos trabalhadores e a greve que está convocada, não vemos possibilidade, quer da câmara responder a esses compromissos, quer dos trabalhadores também recuarem na sua luta e naquilo que já decidiram em função desse mesmo incumprimento", afirmou o presidente do STML, Nuno Almeida, em declarações à agência Lusa.
O dirigente sindical falava após uma reunião que decorreu esta manhã entre o STML e a Câmara Municipal de Lisboa (CML), sob presidência de Carlos Moedas (PSD), que na quarta-feira apelou à negociação para evitar a greve.
Fonte da CML disse à Lusa que "a única novidade foi os sindicatos terem acedido ao presidente Carlos Moedas para voltarem a reunir e tentar chegar a uma solução, mas, infelizmente, sem nenhum desenvolvimento concreto sobre o tema".
Também o presidente do STML registou a ausência de novidades e reforçou que se mantém a greve geral dos trabalhadores da higiene urbana em Lisboa, convocada para 26 e 27 de dezembro, assim como a greve ao trabalho extraordinário, entre o dia de Natal e a véspera de Ano Novo.
"A verdade é que a negociação já decorreu em junho de 2023 e essa negociação determinou até a suspensão de uma luta dos trabalhadores da higiene urbana que estava a decorrer, com uma série de compromissos que, passado um ano e meio e chegados a esta fase, não foram cumpridos", referiu Nuno Almeida.
O representante dos trabalhadores do município de Lisboa indicou que o sindicato não iria negociar o cumprimento de algo que a câmara já se tinha comprometido e que, "em grande parte, não cumpriu".
Sublinhando que está nas mãos do presidente da CML fazer cumprir com o acordo celebrado em 2023, Nuno Almeida avisou que é importante que tal aconteça para evitar futuras greves dos trabalhadores da higiene urbana, nomeadamente durante o próximo ano, em particular no primeiro semestre, porque no segundo semestre haverá eleições autárquicas.
O presidente do STML adiantou que os compromissos por cumprir são em matérias "muito complexas" e, por compreenderem isso, os trabalhadores esperaram ano e meio pelo seu cumprimento, nomeadamente obras de melhoria dos locais de trabalho, investimento em pessoal, em ferramentas e em meios mecânicos, e reorganização dos circuitos de recolha de lixo.
"Estamos a falar de matérias que, se não se resolveram e não foram cabalmente cumpridas durante ano e meio, também não seria hoje, a cinco dias do início da greve, que a câmara teria condições de cumprir", salientou.
A este propósito, Nuno Almeida acusou a CML de "inércia" relativamente ao cumprimento do acordo estabelecido em 2013, considerando que é responsabilidade do executivo municipal apostar na valorização destes trabalhadores da higiene urbana, inclusive a atualização do suplemento de insalubridade e penosidade e o reconhecimento das profissões de desgaste rápido que existem neste setor, assim como investir no serviço público, até para evitar futuras externalizações e privatizações.
Sobre o impacto da greve, o presidente do STML disse que os trabalhadores e o sindicato tiveram em conta as consequências, "principalmente nas populações, no próprio aspeto visual que a cidade terá nestes dias e até alguns dias subsequentes", ressalvando que a greve é de dois dias ao trabalho normal e não de nove dias.
"Este caos [na higiene urbana em Lisboa], os trabalhadores já o vivem há meses, há mais de um ano, certamente", disse o dirigente sindical, referindo que, "mesmo em condições normais e sem greve, o impacto duma época festiva como esta seria sentido, como foi sentido noutros anos".
Nuno Almeida revelou que cerca de 45% das viaturas essenciais à remoção de lixo estão inoperacionais e "há um défice real de 208 trabalhadores (cantoneiros e condutores)".
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