Em declarações à agência Lusa, a diplomata palestiniana destacou o recente encontro entre os chefes da diplomacia de Portugal, Paulo Rangel, e da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), Mohammad Mustafa, em que o governante português defendeu a solução de dois Estados para o conflito israelo-palestiniano.
"Portugal defende a solução dos dois Estados, defende o cessar-fogo e defende claramente que, a prazo, a reconstrução de Gaza possa ser feita no quadro dessa solução. Isto é a nossa posição e ela, por si, diz tudo. Não é dever de um governante português fazer mais declarações sobre isso", declarou então Rangel.
"Foram discutidas muitas questões importantes, incluindo o empenho de Portugal em qualquer processo futuro, incluindo a questão do reconhecimento. Vamos continuar este diálogo e esperamos que Portugal se junte à maioria dos países que reconhecem o Estado da Palestina", afirmou Sulaiman à Lusa, referindo-se a cerca de três quartos dos membros das Nações Unidas.
Para a embaixadora, é um "trabalho árduo para amplificar as vozes dos palestinianos e rejeitar o genocídio que está a ser cometido na Palestina, e em particular em Gaza, agora com a agressão e a tentativa de anexação na Cisjordânia, pelo que rejeita também a limpeza étnica e a deslocação forçada do povo palestiniano, "que não só é contra o direito internacional, como é considerado um crime de guerra".
"Precisamos agora de pensar em tornar o cessar-fogo sustentável, porque o meu povo em Gaza é muito capaz de a reconstruir, embora precise do apoio e da ajuda da comunidade internacional, incluindo Portugal", defendeu, rejeitando as propostas do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
"Acreditamos que é altura de dar uma oportunidade, mas, devido às violações de Israel, é realmente muito arriscado. Precisamos de apoio para manter o cessar-fogo, porque as pessoas estão a sofrer demasiado, com perdas, devastação e destruição total. 80% da Faixa de Gaza foi destruída, mais de 50.000 pessoas foram assassinadas e mais de 11.000 outras ainda estão sob os escombros. Isto tem de acabar já", insistiu.
Nesse sentido, agradeceu ao movimento de solidariedade que, quarta-feira, juntou mais de 600 personalidades de vários setores da vida social portuguesa num abaixo-assinado pela Palestina, em que saúda o povo palestiniano, condena a "agressão genocida" de Israel e protesta contra as propostas "intoleráveis" dos EUA.
Para Sulaiman, a Palestina tem de estar protegida pelo direito internacional, que defende que o direito de autodeterminação dos povos deve ser concedido e não estar sob o veto de ninguém, incluindo Israel.
"Não posso esperar pelo fim de um processo de negociação para decidir ou dar a Israel este poder de veto para me dar a possibilidade de decidir se mereço ou não um Estado, porque faço parte da comunidade internacional. Isto é importante para todos perceberem que se nós acreditamos num horizonte político que acabe com a ocupação e que permita o estabelecimento de uma solução de dois Estados, o reconhecimento do Estado da Palestina é uma necessidade", sustentou.
Questionada sobre os propósitos de Trump de enviar os palestinianos para países árabes da região, Sulaiman disse rejeitar aquilo que considerou, tal como o faz o secretário-geral da ONU, António Guterres, uma "limpeza étnica".
"Os palestinianos nasceram para viver na Palestina e em mais lado nenhum. Viajamos, trabalhamos fora, visitamos países porque somos um povo normal. Mas, no final, regressamos à Palestina porque gostamos de o fazer, porque estamos enraizados no nosso país e não vamos sair daqui para mais lado nenhum. Agora, mais do que nunca, é preciso ajudar as pessoas na Palestina e, em particular, em Gaza", defendeu.
Segundo a embaixadora da Palestina em Lisboa, a vida dos palestinianos, apesar do frágil acordo de cessar-fogo, "continua a ser um inferno" com o cerco e a ocupação.
"Gaza tem estado sob genocídio há mais de 15 meses e, mesmo depois do cessar-fogo e da permissão de assistência humanitária, [as autoridades israelitas] não permitem, por exemplo, a compra de materiais para a reconstrução de casas, como se o destino das pessoas em Gaza fosse ficar em tendas", exemplificou.
"As pessoas são resistentes, são firmes e querem ficar em Gaza e estão ansiosas por reconstruir Gaza. São capazes de o fazer, precisam de apoio, precisam de ser encorajadas. É essa a tarefa da comunidade internacional e de todos os que apelam ao fim desta situação inimaginável e do sofrimento do povo palestiniano", concluiu Sulaiman.
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