"Não houve documento nenhum que tenha ido para validar aquela solução ao conselho de administração. Por isso, não tive oportunidade de me pronunciar, mas é claro que, se tivesse havido, teria votado contra", garantiu o ex-administrador, durante uma reunião da comissão parlamentar de inquérito ao incêndio no HDES, reunida em Ponta Delgada.
Vasco Viveiros respondia assim às questões levantadas pelos deputados ao parlamento açoriano, que lembraram as declarações de Mário Fernandes, sócio-gerente da empresa que instalou o hospital modular nos Açores, que disse em comissão que nenhum membro do conselho de administração do hospital de Ponta Delgada se opôs à solução.
"Houve aqui uma entrega à opção do modular sem que se pensasse no HDES", lamentou o ex-administrador, que foi nomeado pelo Governo Regional (PSD/CDS-PP/PPM) logo após o incêndio de 04 de maio, mas que acabou exonerado no final do ano passado, por alegadas divergências com o executivo.
O ex-gestor hospitalar considerou ainda que a opção pelo hospital modular devia ter sido devidamente estudada, referindo que as consequências do incêndio no HDES - que levou o executivo regional a decretar situação de calamidade na região - não foram, afinal, tão graves como se pensava inicialmente.
"Numa fase inicial dramatizou-se os danos do incêndio. Não estou a dizer que foi com má-fé, mas, no calor do incêndio, na sequência da saída das pessoas [do hospital], não houve a frieza necessária para perceber que não se devia decidir nada antes de avaliar os danos", defendeu.
António Vasco Viveiros, que foi também deputado eleito pelo PSD ao parlamento açoriano em anteriores legislaturas, lembrou que o edifício principal do hospital de Ponta Delgada "está a funcionar a quase 90%" e deixou um apelo aos parlamentares para que visitem a instituição e se inteiram das suas reais condições.
"Visitem o hospital, visitem o que está funcionando e peçam autorização para tirar os cadeados e visitarem o que está encerrado", insistiu o ex-gestor hospitalar, salientando que a ideia de que a maior unidade de saúde da região está encerrada "não é verdade".
"O hospital está aberto de uma forma transversal, apenas quatro enfermarias estão fechadas".
Durante a audição parlamentar, Vasco Viveiros manifestou também solidariedade para com a ex-presidente do HDES Manuela Gomes de Menezes, considerando que está a ser injustamente acusada de adulterar atas de reuniões do conselho de administração.
"Queria manifestar total repúdio por essas afirmações e espero que seja apurada toda a verdade. É grave, naturalmente, há de ser investigado. A doutora Manuela anunciou aqui que iria contratar advogados nesse sentido e qualquer um de nós faria o mesmo", sublinhou.
A comissão de inquérito ao incêndio no HDES, criada por proposta potestativa da bancada do PSD na Assembleia Regional, tem previstas mais seis audições para a próxima semana.
O incêndio que deflagrou no dia 04 de maio no HDES, na ilha de São Miguel, teve origem "em baterias de correção do fator de potência" e foi combatido durante cerca de sete horas pelos bombeiros, obrigando à transferência de todos os doentes internados para outras unidades de saúde, incluindo para fora da região.
Os prejuízos provocados pelo fogo estão estimados em mais de 24 milhões de euros.
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