A tradição dos "assaltos" é feita de forma espontânea e tanto pode ocorrer na noite de segunda-feira, como na de terça-feira de Carnaval, como explicou hoje à agência Lusa Gonçalo Pereira, de 23 anos, morador na vila do Corvo e dinamizador de um grupo de amigos que mantém a tradição.
"Juntamo-nos num grupo, conversamos e combinamos um dia para ir fazer os 'assaltos' de Carnaval. [...] E vamos pelas casas, com crianças desde os 07/08 anos até pessoas com perto dos 50. É um grupo com várias idades", contou.
Segundo o habitante da ilha do Corvo, os foliões vão andar pelas casas da vila e, uma vez instalados no interior, os seus habitantes têm de "adivinhar quem está por detrás da máscara".
Só depois da identidade de todos os elementos ter sido descoberta e de os moradores servirem comes e bebes, é que abandonam o local.
A tarefa de apurar a verdadeira identidade dos mascarados pode demorar algum tempo, visto que nenhum deles fala, mas quando os donos das casas reconhecerem o primeiro, ele dará "pistas" para chegarem aos restantes.
"Por exemplo, eu sou descoberto, eu digo assim ao dono da casa, 'olha, tenho familiares meus aqui dentro'. Eles vão jogando. Depois digo, 'tenho um grupo de amigos próximos da minha idade aqui dentro, esta pessoa que está aqui é mais velha, tem dois filhos'. Pronto, a gente vai dando assim umas pistas. Às vezes fica muito complicado para a pessoa chegar lá", explicou Gonçalo Pereira.
Durante a iniciativa, os foliões escondem o rosto com máscaras e normalmente usam "roupas grandes, largas, com enchimentos, com roupas por dentro, com almofadas, para disfarçar a estrutura do corpo", para que o reconhecimento seja dificultado.
"Alguns até se sentam, para se fazerem [próximos dos moradores] da casa, para a pessoa [da casa visitada] pensar que é uma pessoa próxima, mas não tem nada a ver. Outras pessoas, que são mulheres, fazem-se parecer homens e outras, que são homens, fazem-se parecer mulheres, para dificultar a coisa", descreveu.
Por regra, os "assaltos" de Carnaval na ilha do Corvo começam entre as 21:00 e as 22:00 locais (mais uma hora em Lisboa) de segunda-feira e de terça-feira e prolongam-se pela madrugada.
Normalmente, quando os "assaltantes" entram nas casas, os moradores "já têm tudo preparadinho" para os receber, de acordo com Gonçalo Pereira, que começou com 11 anos a participar neste costume carnavalesco.
"Toda a gente aceita bem e gosta da visita" dos foliões, disse o jovem, indicando, no entanto, que são sempre evitadas habitações onde vivam crianças de tenra idade e idosos, "para não os incomodar".
A tradição "já foi mais forte", mas os "assaltos" carnavalescos na mais pequena ilha açoriana, com cerca de 400 habitantes, "continuam ainda ativos e é o que importa", disse o morador, adiantando que o grupo que lidera vai decidir no sábado o dia e a hora em que a iniciativa deste ano será realizada.
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