"Eu lamento. Tenho procurado ser um referencial de estabilidade na governação dos Açores. Penso que o país tem mais interesse em ter estabilidade política e governativa em todo o momento, mais ainda agora porque estamos a viver crises globais muito graves", afirmou.
O presidente do Governo dos Açores (PSD/CDS-PP/PPM) falava aos jornalistas na sede da Presidência em Ponta Delgada, à margem de uma cerimónia sobre o 46.º Campeonato Nacional das Profissões.
Face a umas eventuais eleições antecipadas, Bolieiro realçou que os compromissos da República com a região "ficam todos atrasados", como a "revisão em alta" da Lei de Finanças Regionais que tinha sido apontada para o primeiro semestre deste ano.
O presidente do Governo Regional recordou que estava prevista para os Açores uma cimeira entre os governos das regiões autónomas e da República e uma reunião descentralizada do Conselho de Ministros.
"Tudo isso fica perturbado. Não vale a pena iludirmo-nos", insistiu, alertando para "perturbações no desenvolvimento normal da economia e no funcionamento das instituições".
Sobre a situação que originou a crise política, Bolieiro disse "imputar maior responsabilidades à oposição", considerando que os esclarecimentos por parte de Luís Montenegro acerca da sua empresa familiar "foram dados com suficiência".
"Penso que há responsabilidades de todas as partes. A maior responsabilidade, na minha opinião, foi a destabilização criada num caso que merecia explicações -- não tenho dúvidas quanto a isso --, mas que não é razão suficiente para perturbar a estabilidade e a reputação das instituições", reforçou.
O chefe do executivo açoriano citou Luís Montenegro para considerar a apresentação de uma moção de confiança (que deverá ser reprovada na Assembleia da República) como um "mal necessário".
"A instabilidade no teatro político fruto desta situação em que todas as respostas e esclarecimentos eram sempre dados como insuficientes, perturbaria, desde logo, a própria disponibilidade para o trabalho quotidiano na liderança do governo de Portugal", defendeu.
Questionado sobre o apoio político a Montenegro, José Manuel Bolieiro lembrou que a comissão política do PSD/Açores subscreveu um comunicado a apoiar o primeiro-ministro e considerou que "outras crises só vão procrastinar as decisões".
"Não tenho dúvidas quanto ao meu apoio enquanto português. Estou aqui na qualidade de presidente do governo. Tem mais a ver com a questão partidária, mas na verdade penso que é fundamental que haja essa estabilidade na recandidatura a primeiro-ministro de Portugal", sublinhou.
Nos Açores, a governabilidade tem sido assegurada pelo apoio do Chega ao Governo Regional de coligação PSD/CDS-PP/PPM.
O Presidente da República admitiu na quarta-feira eleições antecipadas em maio, no final de um dia em que o primeiro-ministro anunciou uma moção de confiança que tem chumbo prometido dos dois maiores partidos da oposição, PS e Chega, e que deverá ditar a queda do Governo na próxima semana.
O voto de confiança foi avançado por Luís Montenegro no arranque do debate da moção de censura do PCP, que foi rejeitada com a abstenção do PS na Assembleia da República, e em que voltou a garantir que "não foi avençado" nem violou dever de exclusividade com a empresa que tinha com a família, a Spinumviva.
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