O julgamento da Operação Marquês vai arrancar no dia 3 de julho, mais de dez anos depois do início do processo, com a detenção do ex-primeiro-ministro José Sócrates, a 21 de novembro de 2014, no aeroporto de Lisboa, avançaram o Expresso e a SIC Notícias e confirmaram os advogados de defesa, à saída do Campus de Justiça.
O advogado de Ricardo Salgado, Francisco Proença de Carvalho, mostrou-se preocupado com o facto de o arguido ter "muitos processos criminais, vários em fase de julgamento", nos próximos meses.
"Em maio começa o BESA. Todos os dias úteis do ano há julgamentos que envolvem o nosso cliente. Já não se pode defender, como sabem, e a defesa também não se pode multiplicar. Porque é que não começa em setembro têm de perguntar ao tribunal. O argumento é que é um processo urgente e quer-se andar o mais rapidamente possível. Não sei como é que esta separação de processos se fez", afirmou Francisco Proença de Carvalho, aos jornalistas, à saída do Campus da Justiça.
A defesa de Salgado revelou também que vai pedir para que o arguido não tenha de marcar presença em tribunal, para "evitar que aquilo que se passou em outubro do ano passado se volte a passar".
"O meu cliente padece de Alzheimer, não tem condições de se auto-defender. É absolutamente indigno que tenha de acontecer. Tenciono que o meu cliente não seja julgado criminalmente quando não se pode auto-defender. O Tribunal da Relação de Coimbra já decidiu que uma pessoa com Alzheimer também não pode ser julgada criminalmente como estão a querer julgar Ricardo Salgado", esclareceu o advogado de Ricardo Salgado.
Já Rui Patrício, advogado do arguido Hélder Bataglia, disse encarar a data "com normalidade".
"Não vejo, nem nas datas nem em nada deste processo, algo de especial e gostava que as pessoas também não vissem. Há questões processuais que serão tratadas no processo. As datas estão agendadas com a maior das normalidades. Tratar este processo como se fosse especial, de Marte, isso é que me parece muito negativo e não gostava de contribuir para isso. Espero que decorra com a colaboração de todos, com as pessoas a cumprirem todas as obrigações e deveres", acrescentou Rui Patrício.
O julgamento vai decorrer no Campus de Justiça, possivelmente na mesma sala onde foi lida a decisão instrutória deste processo pelo então juiz de instrução Ivo Rosa, e que é uma das maiores deste complexo de tribunais em Lisboa.
As sessões vão decorrer três dias por semana e vão ser interrompidas durante as férias judiciais de verão, de 16 de julho a 31 de agosto.
Sócrates e o seu advogado, Pedro Delille, não marcaram presença no encontro de trabalho, uma vez que, sustentou em comunicado o antigo primeiro-ministro (2005-2011), a defesa considera que "o processo Marquês não ultrapassou ainda a fase de instrução".
José Sócrates, de 67 anos e primeiro-ministro de 2005 a 2011, responde por 22 crimes: três de corrupção, 13 de branqueamento de capitais e seis de fraude fiscal. No total, foram imputados 118 crimes aos 22 arguidos.
Em julgamento vão também estar Carlos Santos Silva, empresário e amigo do ex-primeiro-ministro, acusado de 23 crimes; Joaquim Barroca, ex-administrador da construtora do Grupo LENA, acusado de 15 crimes; José Pinto de Sousa, empresário e primo de José Sócrates, acusado de dois crimes; Hélder Bataglia, empresário, acusado de cinco crimes; Sofia Fava, ex-mulher de Sócrates, acusada de um crime.
[Notícia atualizada às 13h13]
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