De acordo com os documentos do processo a que a Lusa teve acesso, há várias menções a "diversas reuniões" entre as partes, antes de o processo culminar hoje na votação de pareceres que podem validar politicamente, ao nível concelhio, a mudança em dois quilómetros a localização da estação de Gaia, retirando-a de Santo Ovídio, e fazer duas pontes sobre o rio Douro em vez de uma rodoferroviária.
Os pareceres municipais sobre as alterações propostas pelo consórcio LusoLav (Mota-Engil, Teixeira Duarte, Alves Ribeiro, Casais, Conduril e Gabriel Couto) irão a votação numa reunião extraordinária da Câmara de Gaia que se realiza hoje, às 16h00, bem como numa Assembleia Municipal também hoje, às 21h00.
"No âmbito do acompanhamento dos projetos da LAV [linha de alta velocidade], realizaram-se diversas reuniões de trabalho com o Consórcio [LusoLav] para análise das propostas de alteração do projeto da Linha de Alta Velocidade", pode ler-se em vários dos documentos municipais a que a Lusa teve acesso.
Também numa carta remetida pela administração do consórcio à Câmara de Gaia, em que apresenta a sua proposta, o LusoLav fá-lo "no seguimento de diversas reuniões técnicas realizadas com a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia".
Já uma carta do Departamento de Urbanismo e Planeamento refere que, "no âmbito do desenvolvimento dos projetos da LAV, realizaram-se quatro reuniões de trabalho para análise do efeito da subida da rasante na linha, designadamente a análise da geometria dos restabelecimentos viários propostos pelo consórcio".
Não se detalhando se as reuniões deste departamento foram internas ou com o LusoLav, referem que se realizaram em 25 de fevereiro e 11, 20 e 25 de março.
Na quarta-feira, a IP disse desconhecer as alterações propostas pelo LusoLav à estação de alta velocidade de Gaia e à ponte sobre o rio Douro, lembrando que ainda não assinou o contrato de concessão com o consórcio.
Também a Câmara do Porto "não tinha conhecimento da solução da proposta de duas pontes, não tendo recebido informação por parte da IP [Infraestruturas de Portugal], até ao momento", disse à Lusa fonte oficial na quarta-feira.
Em janeiro, na sequência de perguntas da Lusa, a IP disse que não tinha "conhecimento da intenção do consórcio de alterar qualquer aspeto da proposta apresentada a concurso", que respeitava "integralmente todas as condições previstas".
"Após a entrada em vigor do contrato de concessão os projetos das estações incluídas no Troço Porto (Campanhã)-Oiã, nomeadamente da Estação de Campanhã e da Estação de Gaia (Santo Ovídio) terão de ser aprovados pela IP", assegurou também então.
Entre dezembro e março, a Lusa questionou sucessivamente o consórcio LusoLav acerca de alterações de traçado, incluindo uma possível mudança da localização da estação de Gaia, mas nunca obteve resposta.
A nova localização proposta pelo LusoLav (na zona de São Caetano, em Vilar do Paraíso) para a estação ferroviária de alta velocidade em Gaia está por cima de uma ribeira, e por isso em zona de Reserva Ecológica Nacional, consultou a Lusa.
A proposta retira também à estação ferroviária a ligação direta à Linha Amarela do Metro do Porto (e um duplo interface com a Amarela e Rubi, potenciando efeito em rede) como estava previsto para Santo Ovídio, apesar de propor uma extensão da Linha Rubi, cuja ligação se mantém.
O consórcio assegura que a proposta de alterar a localização da estação de Gaia e de passar de uma ponte rodoferroviária sobre o Douro para duas está "dentro do corredor aprovado" em termos ambientais.
A proposta do consórcio implica ainda menos construção em túnel, havendo "um agravamento do impacto superficial três vezes superior", de 2,5 quilómetros à superfície para 7,7.
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