Apagão. Maria do Amparo só saiu à rua para comprar pilhas para o rádio

Maria do Amparo nasceu ainda a II Guerra Mundial não tinha acabado e hoje saiu à rua, porque a luz lhe faltou, apenas para comprar pilhas para o rádio.

Notícia

© Getty Images

Lusa
28/04/2025 17:23 ‧ ontem por Lusa

País

Apagão

A Lusa encontra-a à tarde na Avenida de Roma, uma das mais movimentadas de Lisboa, com a serenidade de quem viveu "13 no mato" e baldes de água à cabeça, em Moçambique, e a paciência de quem tem no currículo 40 anos de ensino.

 

Mas, confessa, já dispensava assistir a esta dependência "horrorosa" daquilo a que chama a modernidade. "Pedi boleia ao Papa Francisco, mas ele não me levou. Já cá não estou a fazer nada", lamenta.

Ali ao lado, na loja que tudo vende vai um corrupio de gente, sobretudo em busca de pilhas e velas, e há quem saia exultante por ainda ter conseguido pagar com multibanco.

Na farmácia, ainda se vendem produtos, desde que tenham preço marcado (dado que todo o sistema está em baixo) e sejam comprados com dinheiro vivo.

É por isso que Manuela Campos guarda uma "nota fétiche" de 100 euros na carteira. Foi hoje o dia de lhe valer, agora só uma fila de gente a separa das vitaminas de que precisa.

Pelas 14:30 já eram muitos os estabelecimentos comerciais fechados na zona, enquanto outros - com portas automáticas que deixaram de o ser e grades que fecham eletronicamente - permaneciam guardados por funcionários, de plantão.

"Estamos à espera de instruções... Está tudo exposto... Espero que nos paguem horas extra, se tivermos de cá ficar", comenta uma jovem trabalhadora numa papelaria.

Na rua não se fala de outra coisa e as esplanadas estão cheia de gente que bebe algo fresco ou se abastece de pão. "Enquanto durar o gerador, estaremos abertos", estima o funcionário de um café, sem ideia do que isso quererá dizer em tempo.

As pessoas acumulam-se nas paragens de autocarros, dos poucos transportes públicos que continuam em funcionamento. O trânsito sem semáforos vai ficando cada vez mais caótico. O combustível há de ter um fim para o qual as bombas de gasolina, com tudo automatizado, não serão solução.

Os supermercados da avenida já fecharam e a carne de um dos talhos está à espera que a transportem para o armazém.

Na Assembleia Municipal de Lisboa (AML) fecham-se as portas. "Não se consegue fazer nada. É desafiante. Somos mais interdependentes do que imaginávamos ", desabafa, à saída, a presidente, Rosário Farmhouse.

"Prova que temos que ter um plano b", realça uma rececionista da AML.

Luísa, funcionária da casa, prefere brincar com o assunto: "Cá para mim isto foi ideia do Luís Montenegro e do Pedro Nuno Santos, assim lá se foi o debate de logo."

Conta ainda que saiu sem pagar do veterinário onde levou a cadela. "Mas a conta há de chegar", prevê.

Enquanto isso, ali ao lado, há gente agarrada à analogia da leitura e da escrita, enquanto aproveita o sol no parque Fernando Pessoa, que, se fosse vivo, haveria de rematar este texto com "e esta, hein?".

Leia Também: Carregar o telemóvel, abastecer e comprar velas entre prioridades em Caminha

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas