"Mátria -- uma ópera para o Douro" foi hoje apresentado, em Vila Real, como um "projeto cultural inédito" que está a ser executado pela produtora Mercearia das Ideias e promovido pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Inédito porque, segundo a organização, trata-se da estreia de uma ópera em Portugal composta por um compositor português e baseada na obra de um escritor também nacional.
A ideia partiu de Eduarda Freitas, uma jornalista de Vila Real que resolveu deixar a profissão em 2014 para se dedicar também a esta iniciativa.
"O projeto tem como objetivo a criação de uma ópera com libreto baseado essencialmente nos Contos e Novos Contos da Montanha e música original do compositor Fernando C. Lapa", afirmou aos jornalistas.
Esta primeira fase visa precisamente a composição da música e o libreto e a apresentação ao público da iniciativa, através de concertos.
Estão a ser preparados cinco concertos, dois dos quais de rua e que envolvem a comunidade, através de sete coros de Vila Real e um grupo de Favaios (Alijó).
"São cerca de 200 pessoas que vão invadir as ruas destas duas localidades para surpreender as pessoas e mostrar que estamos a construir uma ópera", afirmou a responsável.
Nestes dois concertos, que decorrem em maio e em junho, vão ser apresentadas músicas tradicionais do Douro e Trás-os-Montes mas com uma "roupagem contemporânea".
Os restantes três concertos, o primeiro dos quais decorre a 09 de maio na terra natal do escritor, São Martinho de Anta (Sabrosa), têm um caráter mais intimista.
Está ainda a ser filmado um documentário que pretende ilustrar a forma como todo o projeto está a ser implementado.
"O libreto está repleto de personagens criadas na imaginação de Torga mas que têm a característica de nos fazer reconhecer as nossas próprias angústias, sonhos e inquietudes", explicou a autora.
Eduarda Freitas contou que a obra começa com a história de um menino que sonhava que na barriga de um monte existia um tesouro e que se desenrola ao longo dos 12 meses do ano, passando pela época das vindimas, o Natal ou as festas populares do verão.
É nesta festas do Douro que as pessoas que agora estão a participar nos concertos poderão, depois, também desempenhar papéis na própria ópera, subindo ao palco com os artistas profissionais.
A obra terá 87 minutos, número que equivale à idade com que Miguel Torga morreu.
O objetivo é também levar a ópera a todos os públicos, tornar esta forma de arte mais acessível e, através de uma espécie de espetáculo de bolso, mais pequeno, chegar a locais onde habitualmente onde é possível realizar este tipo de iniciativas.
Para já ainda não há data para a estreia deste espetáculo, estando previsto apresentar uma candidatura a fundos comunitários para a segunda fase do projeto, que corresponderá à montagem e encenação.
Esta primeira fase conta com um financiamento comunitário de 39 mil euros.
O vice reitor da UTAD, Artur Cristóvão, salientou que a academia se associou ao "Mátria" porque um dos seus objetivos é também a "promoção da cultura".
"É também uma forma de levar a universidade a todo este território envolvente", frisou.