"Devo alertar que o protocolo não está a funcionar. Como diretor de serviço não recebi nenhum protocolo", afirmou o diretor do serviço de psiquiatria do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, dirigindo-se para a secretária de Estado Adjunta e da Administração Interna, Isabel Oneto.
Numa audição pública sobre os suicídios nas forças de segurança realizada pela Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, Daniel Sampaio adiantou que "não basta fazer um protocolo é preciso falar com os serviços".
"É preciso consciencializar os serviços de psiquiatria e saúde mental da necessidade premente de dar uma resposta célere a esta situação, porque foram detetadas pelos serviços locais como sendo extremamente urgentes e não podem ir para uma lista de espera", sustentou
Daniel Sampaio considerou "importantíssimo" o protocolo assinado entre os ministérios da Administração Interna e da Saúde para a criação de uma via verde, nos hospitais do SNS, para os elementos da PSP e da GNR, em risco de suicídio, mas defendeu que é preciso "pô-lo em prática".
Assinado no início de março, o protocolo visou a criação de um sistema de referenciação e de encaminhamento dos elementos das forças de segurança, considerados em risco de suicídio mediante avaliação dos gabinetes de psicologia da PSP e da GNR, para os departamentos ou serviços de psiquiatria e saúde mental dos estabelecimentos hospitalares do SNS.
Questionada pela agência Lusa, a secretária de Estado afirmou que foi alertada para esta realidade hoje e que vai passar esta informação aos responsáveis da saúde.
"Provavelmente há alguma informação que terá sido divulgada, mas não toda na sua plenitude. Há que olear estes canais criadas entre a administração interna e a saúde para que obviamente todas as situações tenham uma resposta rápida, que é esse o objetivo do protocolo", disse Isabel Oneto.
Na audição, realizada por iniciativa do PCP, o psiquiatra Daniel Sampaio explicou que a maioria das pessoas que se suicida sofre de depressão, que deve ser tratada.
Nesse sentido, defendeu que a prevenção dos suicídios nas forças de segurança passa por uma deteção precoce e avaliação do risco, que devem ser feitos localmente.
"Devemos ter a possibilidade de detetar localmente os sintomas de depressão, o que significa que os serviços locais devem ter psicólogos e psiquiatras", afirmou, destacando a existência de psiquiatras porque são eles que tratam das depressões.
Após esta deteção precoce, o psiquiatra defendeu a existência de uma "articulação muito célere e bem oleada com os serviços do SNS".
Daniel Sampaio considerou também que todos os suicídios que ocorreram nas forças de segurança devem ser estudados através da realização de uma autópsia psicológica.
No âmbito do grupo de trabalho para a prevenção do suicídio nas forças de segurança está a ser feito um estudo com objetivo de avaliar com maior rigor as causas do suicídio na PSP e na GNR.
Na audição pública, que contou também com elementos dos sindicatos da PSP e Polícia Judiciária e associações socioprofissionais da GNR, Daniel Sampaio defendeu ainda que deve ser restringido o acesso à arma após detetado o risco, além de ser essencial verificar os consumos de álcool e droga, que muitas vezes potencia o risco de suicídio.
Em 2015, suicidaram-se oito polícias da PSP e sete militares na GNR.