Casal herói da A1: "Não queremos que se prejudiquem para nos ajudar"

Lucinda e Paulo ficaram conhecidos depois de, em agosto, terem distribuído garrafas de água pelas pessoas que estavam presas na A1 quando um grande incêndio cortou a circulação na principal autoestrada do país.

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Patrícia Martins Carvalho
03/01/2017 07:28 ‧ 03/01/2017 por Patrícia Martins Carvalho

País

Reportagem

Lucinda Borges está a braços com um problema de saúde que os médicos ainda não conseguiram descortinar. Com problemas cardíacos e de tiroide, Lucinda teme que o diagnóstico que lhe será feito quando for vista por um oncologista possa ser arrasador, pois o primeiro médico que a examinou disse-lhe que estava com uma “anemia de último grau” e que a causa para tanto “cansaço” poderá ser uma leucemia.

Atualmente, contou Lucinda ao Notícias ao Minuto, mal consegue sair de casa. “Faltam-me as forças, sinto-me cansada e até o cabelo ando a perder”, explicou, lamentando não poder trabalhar. O marido, Paulo, também está desempregado e, por isso, a situação económica familiar não é fácil, pois nenhum dos dois recebe subsídio de desemprego.

“É uma situação complicada. Temos dificuldades em pagar as contas e algumas prestações estão em atraso”, confessou Lucinda, emocionada.

Assim que as dificuldades do casal foram noticiadas muitas pessoas mobilizaram-se para ajudar Lucinda e Paulo que vivem em Avanca, Estarreja. A página de Facebook ‘Coração na Rua’ criou uma campanha de angariação de fundos para o casal, distribuindo naquela rede social um NIB de uma conta bancária.

“É o meu”, garantiu Lucinda que confessou que “toda a ajuda é bem-vinda”.

“Hoje sou eu, amanhã serão outras pessoas”, afirmou, frisando, porém, que não quer que ninguém se prejudique por causa da sua família.

“Aceito tudo o que me derem e só peço coisas que não estejam a fazer falta a outras pessoas. Não quero que ninguém se prejudique por minha causa”, disse esta mulher que se sente “triste” por saber que as pessoas que lhe são mais próximas são as menos solidárias.

Ao Notícias ao Minuto Lucinda contou que “há duas semanas” que não sai de casa, mas que nenhum vizinho se prontificou a saber o que se passa.

“Não sei… parece que estão à espera de ouvir uma notícia muito má… não sei… As pessoas afastaram-se [depois da mediatização do mês de agosto] e as mais solidárias são aquelas que não me conhecem”, contou.

E é quando fala do apoio das pessoas que não conhece que a sua voz se enche de alegria. “Já veio aqui um senhor e uma senhora entregarem bens alimentares. Pessoas que ajudámos na A1 já nos ligaram a perguntar como é que nos podem ajudar… A verdade é que mais do que a quantidade, o importante é o gesto. Às vezes só uma palavra de carinho parece que me dá mais força, que me dá mais saúde”, apontou.

Apesar de estarem envoltos numa grande onda de solidariedade, Lucinda e Paulo revelam que foram muito criticados quando tiveram os seus 15 minutos de fama.

“As pessoas acharam que nos estávamos a expor para tirarmos algum lucro daquilo. Nós só ajudámos. Fizemos o que qualquer pessoa faria. Ninguém sabia quanto tempo as pessoas iam estar ali. Estavam mais de 40 graus… e no entanto houve quem nos criticasse…”, desabafou.

Às pessoas que se têm prontificado a ajudar, Lucinda deixa uma mensagem: “Obrigada do fundo do coração e digo isto com humildade. Obrigada”.

Para quem queira ajudar, pode fazê-lo através do seguinte IBAN: PT50004530414022302061429.

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