"Ambiente das universidades é desfavorável a práticas da cidadania"

O professor universitário António Sampaio da Nóvoa disse hoje, em Coimbra, que os ambientes nas instituições do ensino superior em Portugal "não são propícios" à promoção da cidadania.

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Lusa
21/02/2018 12:55 ‧ 21/02/2018 por Lusa

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Sampaio da Nóvoa

"Esqueçam a cidadania, ela não vai acontecer nestes ambientes", afirmou o reitor honorário da Universidade de Lisboa, no auditório da reitoria da Universidade de Coimbra (UC), ao intervir numa conferência subordinada ao tema "Desafios para a Universidade de Coimbra: rituais de acolhimento e práticas de cosmopolitismo", organizada pela comissão de Cultura, Cidadania e Desporto do conselho geral da instituição.

Nas universidades, "em tudo, na organização do nosso dia-a-dia, nós apelamos a uma lógica contrária à participação", sublinhou.

Para Sampaio da Nóvoa, antigo candidato à presidência da República, "a universidade deve ser escola de tudo, mas sobretudo de liberdade".

O orador retomou o tema da oração de sapiência que, há quatro anos, proferiu naquela mesma sala, na cerimónia em que recebeu o Prémio Universidade de Coimbra.

"O que hoje me preocupa são os ambientes universitários", disse, frisando que "a palavra liberdade é indissociável da ideia de participação".

António Sampaio da Nóvoa afirmou, a propósito, que existe "uma fragilidade das práticas de acolhimento" nas universidades portuguesas.

Também numa posição crítica, o professor José Reis, da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), afirmou que as instituições universitárias têm vindo a ser promovidas, nas últimas décadas, à condição de "portadoras de um imaginário económico".

"A universidade tem sido colocada num plano instrumental ao serviço de referenciais muito fragmentados da sociedade", salientou.

Para o ex-diretor da FEUC, antigo secretário de Estado do Ensino Superior de um Governo de António Guterres, na década de 90 do século passado, "o lugar da universidade-instituição parece ter sido ocupado pelo da universidade-organização".

Na sua opinião, "isto tem uma correspondência direta do lado estudantil", mas ainda "sobra muito espaço" para as práticas de cidadania no ensino superior.

"Não sei se não estamos no limiar da figura do reitor-empresário", ironizou, num painel em que também interveio o ex-deputado do BE João Teixeira Lopes, na dupla qualidade de professor da Universidade do Porto e presidente da Associação Portuguesa de Sociologia.

Na abertura dos trabalhos, "na perspetiva da universidade cidadã", o reitor da UC, João Gabriel Silva, realçou a importância dos mecanismos de acolhimento.

"Todos os setores da nossa universidade têm atividades explicitamente direcionadas para acolher os novos estudantes", disse.

A conferência termina às 17:00, com a participação de João Caraça, presidente do conselho geral da Universidade de Coimbra.

 

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