Os dados do Instituto Nacional de Estatística sobre o estado da economia portuguesa são animadores. Porém, Gonçalo da Câmara Pereira não se deixa deslumbrar e garante que os números escondem outra realidade.
E nem mesmo o crescimento do turismo escapa às críticas do líder do Partido Popular Monárquico. A falta de ação social do Estado para com as pessoas mais velhas que vivem nos bairros históricos de Lisboa mereceu uma chamada de atenção por parte de Gonçalo da Câmara Pereira, a que a Câmara Municipal de Lisboa não escapou.
Quanto à política, o fadista considera que, atualmente, o "PS é um PCP camuflado", enquanto os comunistas "deixaram de ser internacionalistas para serem nacionalistas".
O alojamento turístico tem vindo a aumentar, tal como o turismo. Como vê estas realidades?
O alojamento local tem ajudado a fomentar o turismo. Não foi o sol ou a Câmara Municipal de Lisboa que trouxeram os turistas, foram os pequenos privados que aproveitaram a lei do arrendamento e começaram a fomentar o turismo.
Quem escorraça os inquilinos dos bairros históricos é o Estado, não são os proprietáriosNão deveria haver um limite para o alojamento turístico especialmente nos bairros históricos?
Com certeza que sim, que deveria ter havido essa intervenção, mas não houve. A intervenção do Estado foi castigar os proprietários, ao invés de ajudar os inquilinos através da ação social.
Mas ao “castigar os proprietários” não protegeu os inquilinos, em especial os idosos?
E é o proprietário que tem de pagar a ação social? Não. Devia ser a autarquia a desenvolver um plano para financiar as rendas destes inquilinos. Eu não sou proprietário, mas compreendo-os. Quer dizer, não recebem rendas atualizadas, mas têm de pagar os valores atualizados do IMI. Quem escorraça os inquilinos dos bairros históricos é o Estado, não são os proprietários.
Dizerem que o desemprego desce é fazerem de nós parvos. E o pior é que a Europa vê isto e olha para o ladoSe por um lado o turismo cresce, por outro lado o desemprego baixa. São boas notícias.
Vejamos, as pessoas ficam desempregadas e inscrevem-se nos centros de emprego. Ao fim de um tempo vão fazer cursos e então saem da estatística de desempregados, mas a verba alocada ao desemprego continua a ser gasta com estes cursos. Ou seja, o Estado paga à mesma. Dizerem que o desemprego desce é fazerem de nós parvos. Dizer que somos o único país do mundo em que uma taxa de desemprego em três anos baixa de 17% para 7%… ou estão a fazer de mim parvo ou o António Costa é um santo António. E o pior é que a Europa vê isto e olha para o lado.
Porquê?
Porque lhe interessa acreditar nisto para aguentar a Grécia.
O António Costa é a pessoa mais sinistra que eu conheço, consegue fazer uma política pior do que a do Passos e dizer que está tudo bem. Lembra-me a bruxa da Branca de NeveO FMI já admitiu que a política imposta em Portugal pela troika foi um erro.
E a política continua a ser a mesma, mas com outro nome. O António Costa é a pessoa mais sinistra que eu conheço, consegue fazer uma política pior do que a do Passos e dizer que está tudo bem. Lembra-me a bruxa da Branca de Neve: tem uns 200 anos, mas uma aparência jovem e só quando abrimos bem os olhos é que a vemos como é. Ele tem o dom de ser a bruxa da Branca de Neve.
A que se refere?
Os impostos, por exemplo, não só não baixaram, como aumentaram para o dobro. Hoje em dia por muito que se poupe não sobra dinheiro. Os empresários estão falidos, as nossas empresas não se desenvolvem porque têm uma carga fiscal brutal. Todos os impostos têm de ser reduzidos. Quando isso acontecer o Estado vai passar um mau bocado, mas as pessoas não. Quando lhes sobrar dinheiro vão pôr dinheiro no banco, que o vai gerir e emprestar às empresas. Se reduzirem a carga de impostos aos empresários eles vão ter dinheiro para investir. Mas como isto está atualmente, se eu se fosse empresário mudava a minha sede fiscal.
Porquê?
Porque a carga fiscal é tão grande que é preciso fugir.
É moralmente correto tomar tal decisão?
Se a política não fosse a de castigar os empresários portugueses, eles não o faziam. Quem pode foge.
Já falámos do estado da economia. E o estado da política?
O que posso dizer é que o PS de António Costa não funciona bem com a democracia.
O PS é um PCP camuflado, está totalmente encostado à EsquerdaPor que não?
Então ele conseguiu o apoio parlamentar do Bloco de Esquerda [BE] e do PCP e deveria ter tido a seriedade de não os deixar de fora do Governo. O BE e o PCP deviam governar também, não era só ter o apoio e andar a fingir que são democratas quando não são. O PS é um PCP camuflado, está totalmente encostado à Esquerda.
Acha que isso chegou a ser negociado?
Não. O primeiro-ministro não exigiu que eles fizessem parte do Governo e eles não fizeram questão para não se queimarem. Acham que podem sair isentos de um Governo completamente marxista do pior que há.
E vão conseguir?
Espero que não. Se eles saem isentos então não sei qual é o caminho de Portugal…
Não tenho dúvidas de que Portugal pode vir a tornar-se numa Venezuela. Oiça, onde entra o socialismo os países vão à falência
São mais quatro anos.
Não sei se Portugal aguenta mais quatro anos. A Venezuela aguentou muitas vezes o Chávez porque tinha petróleo. Agora não há petróleo e Nicolás Maduro está no limbo. Portugal não aguenta mais quatro anos disto… não tenho dúvidas de que Portugal pode vir a tornar-se numa Venezuela. Oiça, onde entra o socialismo os países vão à falência.
Já que ‘viajámos’ até à Venezuela, vamos falar também do Brexit. Como é que vê o decorrer deste longo processo?
A esse propósito posso dizer que convidei Nigel Farage para nos vir explicar o que é o Brexit, porque a verdade é que ainda não fizemos esse debate na sociedade portuguesa e interessa-nos saber porque é que os nossos melhores amigos querem sair da União Europeia.
Acha que Portugal devia seguir o caminho do Reino Unido?
Não acho nada. Só acho é que o debate devia ser feito, porque a verdade é que nós entrámos na Comunidade Económica Europeia (CEE) sem ter sido feito um referendo, só porque estava no programa dos partidos, mas não se perguntou a opinião do povo.
Bom, isso seria uma boa notícia para o PCP…
O PCP quanto a mim virou: era internacionalista e agora é mais nacionalista do que qualquer um de nós.
O que justifica isso?
Começaram a meter a mão na consciência. Perderam a União Soviética, a mãe, então agora perderam-se, falam com um nacionalismo exacerbado.
Foi só o PCP que mudou de posição? Como estão ordenadas as restantes peças do xadrez político?
Neste momento não há Centro. A nossa Direita está à Esquerda e o PS está encostado à Esquerda radical.
E o Aliança?
Ainda não sei. Às vezes penso nisso… o Aliança escolheu um candidato amorfo, não lhe conheço nenhuma política. Mas gostei de ouvir falar o Pedro Santana Lopes no congresso sobre a liberalização e a abertura do Estado à sociedade, mas não vejo mais nada.
O problema é que os portugueses têm o hábito de falar mal quando aparece uma coisa diferente, inovadora. E foi isso que aconteceu com a nossa coligação com o André Ventura Já o Chega tem sido colocado na extrema-direita...
O Chega é declaradamente de Direita. O problema é que os portugueses têm o hábito de falar mal quando aparece uma coisa diferente, inovadora. E foi isso que aconteceu com a nossa coligação com o André Ventura e foi por isso que fomos catalogados de extrema-direita.
Como se pode definir o eleitorado do PPM: monárquicos por convicção ou pessoas que não se reveem nos restantes partidos?
Essencialmente são monárquicos, mas temos muitos ecologistas, biólogos, pessoas preocupadas com a natureza que não se reveem nestes partidos que se dizem ecologistas e que fazem da ecologia uma chicana política e que fazem bandeira do racismo.
Os portugueses são racistas?
Não, nós não somos racistas. Mas há partidos que estão sempre a provocar, a fomentar ódios para captar votos.
A quem é que se refere?
À Esquerda, a toda a Esquerda. Portugal não é racista. Se fomos colonialistas foi porque com a célebre conferência de Berlim obrigaram-nos a ocupar terras em África, porque até àquele momento tínhamos acordos e feitorias com os povos locais. Obrigaram-nos a ser colonizadores.
E a forma como foi feita a colonização?
Foi o que tinha de ser naquela época.
*Pode ler a primeira parte desta entrevista aqui.