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De Coimbra à Libertadores: "Sempre disse que vingaria no futebol"

Aos 37 anos, Franclim Carvalho já experimentou a sensação de conquistar a Libertadores e o Brasileirão. O braço-direito de Artur Jorge, convidado desta terça-feira do Vozes ao Minuto, 'traçou' o seu percurso até chegar à I Liga, recordou a passagem de sucesso pelo Sporting de Braga e 'aplaudiu' a mais recente aventura no Botafogo.

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© Vitor Silva, Botafogo FR

Miguel Simões
31/12/2024 07:47 ‧ há 4 dias por Miguel Simões

Desporto

Exclusivo

Franclim Carvalho andou pela elite do futebol em Portugal até há bem pouco tempo, mas a mudança para o Botafogo, juntamente com Artur Jorge, permitiu-lhe viver momentos de glória que um treinador raramente alcança com apenas 37 anos.

 

Em entrevista ao Desporto ao Minuto, o jovem técnico falou das suas experiências como 'scout' e preparador físico no panorama nacional, recordou a primeira experiência como treinador principal, na B SAD, e ainda deu a conhecer os contornos do seu regresso ao Sporting de Braga, na condição de adjunto do técnico que tem estado nas 'bocas do mundo', face às mais recentes conquistas da Taça Libertadores e do Brasileirão.

Natural de Miranda do Corvo, Franclim Carvalho começou a sua carreira no mundo do futebol, em 2011, no Eirense, passando por Penelense, Nogueirense, Paços de Ferreira, Académica e Famalicão, até que rumou aos sul-coreanos do Gwangju. Só depois disso, em 2017/18, é que integrou a formação do Sporting de Braga, ao lado de Artur Jorge, numa 'montra' que lhe permitiu a ida para a B SAD... e um regresso ao Minho.

De treinador principal para (novamente) adjunto, Franclim Carvalho aceitou voltar a integrar a equipa técnica do treinador de 52 anos, em 2022, sem se arrepender em nenhum momento de tal decisão, vincando que o seu sonho passa por se manter no "patamar elevado" onde se encontra.

Fui obrigado a crescer rápido e isso deu-me uma bagagem diferente para aguentar, sobretudo, o facto de estar longe dos meus.Começou no futebol amador como adjunto, passou pela área de scouting e ainda foi preparador físico. De que forma estas experiências contribuíram para o treinador que é hoje?

Antes de mais, agradeço o convite. Sendo assistente, estou sempre numa posição mais protegida e não se dá tanta ênfase. Poderia ser eu, o André Cunha, o João Cardoso ou o Tiago, que fomos as pessoas que acompanharam o Artur Jorge, ultimamente. Todos nós temos o nosso trajeto, desde as primeiras experiências pelo futebol regional [Eirense, Penelense e Nogueirense] às do futebol de formação, onde comecei a trabalhar com o Artur Jorge, nos sub-19 do Sporting de Braga [2018/19]. Antes disso, passei pelo Paços de Ferreira [2013/14], como scout, quando eles estavam a criar o departamento, com cobertura no país todo. Eu fazia a zona Centro [de Portugal] e também isso deu-me outras valências e conhecimento diferente para quando nos deparamos com situações do dia-a-dia. Passei também como preparador físico pelo Famalicão [2016] e pelo Gwangju [2017], da Correia do Sul. Na equipa técnica do Artur Jorge sou eu quem faz a ligação do clube, o Botafogo, para a área de scouting, de identificação de jogadores, de potenciais reforços e alvos. Reporto tudo ao Artur e ele toma a decisão. Considero que este aporte de conhecimento é uma mais-valia para o meu trabalho.

Como correu essa primeira experiência fora de Portugal, em 2017, na Coreia do Sul?

Foi muito difícil, mas muito gratificante. Na altura, eu era um miúdo. Era mais novo e estava desempregado, após ter saído do Famalicão, com o Ulisses Morais, que até teve convites, mas não quis a II I Liga, na altura. Essa oportunidade na Coreia do Sul surgiu através de um agente que conheci na Académica e agarrei-a porque queria ter uma experiência fora [do país]. A questão monetária também teve muito peso. Eu estava sozinho. A equipa técnica era toda local. Havia um tradutor que falava inglês apenas e não falava português. Foi duro pela questão do futebol em si, que é muito diferente. Dão muito valor à questão física. Há esse trabalho em separado. Têm muito aquele respeito pela pessoa mais velha... A parte cultural também teve impacto, dado que eu sou alguém que gosta de ter uma relação de proximidade com as pessoas. A alimentação foi muito diferente e dura, mas tudo foi muito gratificante porque permitiu-me crescer. Fui obrigado a crescer rápido e isso deu-me uma bagagem diferente para aguentar, sobretudo, o facto de estar longe dos meus. A Internet facilitou um bocado, mas tive que me aguentar sozinho. Gostei. Não me arrependo de ter ido, de todo. Ainda falo com algumas pessoas com quem me cruzei lá. Tenho muita coisa boa a dizer.

Sporting de Braga? Preferi embarcar com o Artur [Jorge] para os sub-19 do que assumir os sub-17, como estava previamente acordado. O Franclim começou a trabalhar com o Artur Jorge na formação do Sporting de Braga, mas só no segundo ano. Com quem esteve no primeiro?

Fui para lá depois de falar com o coordenador da formação, o Rui Santos, que atualmente é treinador do Oliveira do Hospital. Conheci-o no curso do nível III e ele convidou-me quando houve uma mudança interna. O Wender Said passou para a equipa B e fui trabalhar com o Rui [para os sub-17], com o compromisso de, no ano seguinte, ser eu a pegar na equipa. Entretanto, o Artur convidou-me para trabalhar com ele nos sub-19. Preferi ir com ele porque foi uma pessoa com quem me identifiquei logo. Além disso, o escalão de juniores era muito competitivo. No clube, é um escalão profissional. Os miúdos já treinam de manhã e já têm pequeno almoço e almoço. No fundo, já são profissionais, sendo que 90% deles em contrato de formação ou profissional. Preferi embarcar com o Artur do que assumir os sub-17, como estava previamente acordado. 

Deram-se bem desde início?

Muito bem. O Artur é uma pessoa rigorosa e eu identifico-me muito com isso. Sou assim também. Tivemos uma comunhão muito grande. Gostamos das coisas direitinhas, da exigência do dia-a-dia e da relação de proximidade com os jogadores. Complementamo-nos bem. O Artur Jorge dá-me liberdade para trabalhar. Eu sei ocupar o meu lugar e tivemos essa relação de proximidade desde o primeiro dia. Tem corrido muito bem até hoje, graças a Deus.

Notícias ao Minuto Franclim Carvalho esteve nas camadas jovens do Sporting de Braga entre 2017 e 2020, tendo voltado em 2022 diretamente para a equipa principal.© SC Braga  

Na formação do Sporting de Braga, cruzou-se com nomes sonantes como Samuel Costa e Vitinha. Acreditava que ambos podiam chegar à elite do futebol?

É curioso que, quando chegámos aos sub-19, o Samu não jogava. O Artur criou uma relação muito próxima com ele e até o promoveu a capitão. Aí, rebentou completamente. Fez uma época esplêndida com a responsabilidade de capitão em cima. Notava-se que era um miúdo que, pela forma de estar, já tinha características para vingar no futebol profissional. O Vitinha fez só alguns jogos na fase final, connosco, nos sub-19. Ele tinha uma capacidade de trabalho tremenda, que mantém. Nós ainda nos cruzámos com ele durante um tempo, na equipa principal, mas ele rebentou e foi vendido ao [Olympique de] Marseille, sendo que até bateu o recorde de transferências do clube. A capacidade de trabalho é um fator diferenciador, porque não é fácil, para miúdos com os seus 18 ou 19 anos, não se ficar deslumbrado. Nos sub-19, já eles têm as condições todas e alguns podem-se perder. O Vitinha e o Samu são completamente o oposto desse protótipo de jogador. Isso faz a diferença quando se chega a um patamar elevado, até porque há mais 500 ou 500 mil jogadores com as nossa qualidades, mas há, depois, o fator do trabalho. E nós temos o exemplo a nível mundial [Cristiano Ronaldo], que é português. Não basta só a qualidade, é preciso trabalhar muito. Esses dois jogadores trabalharam muito desde sempre.

A chamada do Samu à seleção nacional, por parte de Roberto Martínez, gerou polémica. O que tem a dizer sobre isso?

Vou reduzir-me ao meu papel. O Samu é um jogador de características idênticas ao João Palhinha. Não podemos dizer que o Samu veio do nada, até porque fez muitos jogos no Almería, na segunda e na primeira divisão espanhola, sendo depois vendido ao Mallorca. Foi indiscutível em ambos. Há que acompanhar um bocadinho a La Liga, que é um campeonato extremamente competitivo.  Apesar de não estar numa equipa de top6, o Samu não deixou de fazer 45 ou 50 jogos. Provavelmente, o selecionador [Roberto Martínez] entendeu que o Samu tinha as qualidades necessárias para integrar a convocatória, já depois de ter estado com o Rui Jorge nos sub-21. A Federação [Portuguesa de Futebol] conhece os jogadores todos e há a troca de ideias entre os dois selecionadores. Não me surpreendeu a sua chamada, pelas características e pelo percurso, principalmente, nos últimos anos em Espanha. 

O Artur Jorge foi excecional (...) Aquilo resolveu-se num par de horas e mantivemos o contacto.Quando o Artur Jorge subiu à equipa principal do Sporting de Braga pela primeira vez, para render Custódio, o Franclim já andava pela B SAD. Em que momento se deu a vossa separação? 

Nós fizemos um ano juntos e depois eu tive um convite para ir com o Petit para a B SAD. Expliquei ao Artur e ele percebeu perfeitamente. Sou de Coimbra e estava deslocado de Braga. Tinha a oportunidade de ir para a I Liga, com um treinador que tem estado quase sempre por lá, com bons trabalhos e objetivos cumpridos. O Artur foi excecional na conversa que teve comigo ali em janeiro ou fevereiro [de 2020] e não colocou qualquer entrave. Aquilo resolveu-se num par de horas e mantivemos o contacto, obviamente. Quando ele, depois, foi convidado para assumir a equipa principal do Braga, convidou-me novamente. Só por aqui já se vê que não ficou nenhum mal entendido entre nós. 

Diz-se que a idade é um número. Por esta altura, cruzou-se com o Silvestre Varela. Qual a sensação de treinar um jogador mais velho do que nós? Há mais ensinamentos por essa via?

Entretanto já treinei mais. O José Fonte, no Braga, por exemplo. É óbvio que são jogadores que têm um conhecimento e uma inteligência muito grande. Bebem muito dos treinadores e das experiências que têm. Nós temos de aproveitar isso para nós, desses momentos de partilha que temos com os jogadores. O treinador não sabe tudo. Nem os jogadores sabem tudo. Tenho tido sorte por apanhar jogadores que são gente boa. O Silvestre é um ser humano incrível fantástico. Curiosamente, ainda falo com ele, com alguma regularidade. Além do currículo, desde o FC Porto à seleção, o Silvestre é um carácter enorme e de uma simplicidade impar. O Filipe Anunciação [adjunto da B SAD na altura] costumava brincar com a forma de estar do Silvestre, que até nos faz esquecer o jogador que ele foi. Era e é muito humilde, sempre disponível para ajudar, trabalhar, cumprir ordens e acarretar o que lhe dizem. Sinceramente, em termos humanos, foi um dos melhores jogadores com quem me cruzei até hoje.

O presidente da B SAD tentou dois ou três treinadores, ou talvez mais, mas ninguém aceitou. Se ele me convidou é porque reconheceu competência e qualidade.

Em 2020-21, o Franclim teve o convite do presidente Rui Pedro Soares para substituir o Filipe Cândido (sucessor de Petit) como treinador principal da B SAD. Como correu essa primeira experiência?

O Petit tinha continuado [no clube] e eu resolvi sair. Estive cinco ou seis meses em casa e, um dia à noite, o presidente ligou-me para reunir com o objetivo de pegar na equipa. Até íamos jogar a Famalicão, três dias depois. Na altura, até falei com o Artur, por acaso. Face à minha situação, era um convite irrecusável e foi muito gratificante e duro para mim. Sabia as dificuldades que tínhamos, com poucos pontos e o impedimento de inscrever jogadores. Só podíamos inscrever jogadores livres. Não tínhamos um espaço próprio, mas isso já era assim nos tempos do Petit, em que também trabalhámos no Jamor. Temos de ser sinceros. O presidente tentou dois ou três treinadores, ou talvez mais, mas ninguém aceitou. Sempre tivemos uma relação aberta e sincera. Se ele me convidou é porque reconheceu alguma competência e qualidade. Sei também que consultou alguns jogadores do plantel, onde eu já tinha estado, e que acabaram por fazer força. Deu-se esse casamento ou esse romance, em que tentámos até à última. Disso não nos podiam acusar de nada.

Nós fomos dados como mortos antes da minha entrada. O que é certo é que chegámos ali a três jornadas de fim a depender de nós para nos mantermos [na I Liga]. Uma coisa é sermos adjuntos, outra coisa é liderar o processo, em que tive de fazer uma equipa técnica em dois ou três dias. Tive algumas negas para ir trabalhar comigo, não que não acreditassem em mim ou se identificassem comigo, creio eu, mas, sobretudo, pelo momento da equipa. Isto também me deu alguma força. Acho que, se tivéssemos conseguido o objetivo, teria sido um trabalho notável. Tenho muita pena de não termos conseguido. Vou ficar com esse carinho para sempre. Não me esqueço que os jogadores foram inexcedíveis, tal como o presidente, a tentar que resultasse e a dar todas as condições possíveis, mas não conseguimos. Os outros foram mais fortes, conseguiram. Nós não conseguimos. Parabéns aos outros.

Notícias ao Minuto Franclim Carvalho alcançou três triunfos em 18 jogos e não conseguiu salvar a B SAD da 'queda' - já praticamente inevitável - para a II Liga.© B SAD  

Apesar desse objetivo falhado, nada impediu Artur Jorge de querer contar consigo para integrar a equipa principal do Sporting de Braga, na época seguinte. Recorda-se do dia desse convite?

O Artur convidou-me um ou dois dias depois da última jornada, em Arouca. Creio que não me convidou só pelo trabalho na B SAD, até porque já tínhamos criado uma relação quando trabalhámos juntos. Os treinadores gostam de ter as pessoas de confiança ao seu lado, de forma natural. Quando me convidou, reunimo-nos em Braga, com o presidente [António Salvador]. A minha ideia não passava por voltar a ser adjunto. Disse isso ao Artur. Até tinha contrato com a B SAD para prosseguir na II Liga e ainda tive convites nesse espaço de tempo para ser treinador principal, na segunda divisão, em Portugal. Disse-lhe que, para ser adjunto, só se fosse dele. Entendemo-nos e acabei por aceitar.

Nas duas épocas de sucesso, quais foram os momentos mais altos da vossa passagem por Braga como equipa técnica?

Acho que o nosso percurso, até hoje, é ímpar na história do Braga. Os números dizem isso. É de louvar. Não nos podemos esquecer que, no primeiro ano, batemos o recorde de pontuação do clube na I Liga, com 18 equipas. Conseguimos chegar ao pódio pela quarta vez na história do Braga, sendo que o Artur até já tinha alcançado isso naquela época [2019/20] em que fez os últimos jogos. Ficámos à frente do Sporting, que depois teve aquele balanço para ser campeão na época seguinte. Apurámo-nos para o playoff da Liga dos Campeões, onde conseguimos entrar. Sabemos que isso não é comum na história do Braga. Tivemos uma participação honrosa num grupo com Real Madrid e Napoli, com o terceiro lugar, à frente do Union Berlim. E conquistámos uma Taça da Liga, em que eliminámos o Sporting e ganhámos ao Estoril, na final. Também chegámos a uma final da Taça de Portugal, com o FC Porto, após um percurso em que eliminámos o Benfica, nas grandes penalidades, e o Vitória SC, num jogo épico em que estávamos a perder por dois golos a dez minutos do fim. O Braga fez, ainda, a maior venda da história quando estávamos lá, com o Vitinha a ir para Marselha a meio da época. Ainda houve a venda do Álvaro Djaló, jogador em quem o Artur sempre acreditou muito, desde a equipa B. Fizemos muitas coisas boas. Isto são factos. O percurso da equipa técnica do Artur Jorge no Braga foi muito gratificante. O clube sabe e reconhece isso, obviamente.

Gostou de treinar jogadores internacionais como José Fonte e João Moutinho?

Obviamente. Esses e ainda outros como Ricardo Horta, Abel Ruiz, Iuri Medeiros, Al Musrati ou Pizzi. Para além da muita qualidade, são jogadores com uma capacidade de trabalho muito grande. Costumo dizer que não é por acaso que o João Moutinho joga até aos 38 anos. Não é por acaso que o José Fonte vai até aos 41 anos, tendo ido à seleção já depois dos 30. Ele era titular no Euro'2016 e no Mundial'2018. Têm uma mentalidade muito forte. O Ricardo Horta ainda agora fez 400 jogos ao serviço do Braga e ninguém tem noção de como é que ele é a treinar. Vemos como ele corre a jogar, mas a treinar é igual. É uma coisa incrível.

O Artur Jorge e a sua equipa não fugiram, foram vendidos. Teve de haver um acordo entre clubes.Quando saíram para o Botafogo, ainda o Sporting de Braga estava na luta com FC Porto e Vitória SC pelo pódio. Ficou alguma sensação de dever não-cumprido face à saída a dois meses do fim da época?

Isso não posso dizer. Ganhámos um titulo nessa época. O futebol é assim. As pessoas tomaram a decisão. Não fui eu. As coisas tiveram esse rumo. Gostei e gosto muito do Sporting de Braga. Acho que as pessoas estão gratas ao trabalho que nós, equipa técnica do Artur, fizemos, no período em que lá estivemos. Obviamente que nós também estamos gratos ao clube pela oportunidade e pelas condições que nos deu desde o primeiro ao último dia.

A saída repentina gerou algum ruído, sobretudo atendendo ao momento em que aconteceu. De que forma encarou a contestação?

O Artur Jorge e a sua equipa não fugiram, foram vendidos. O Artur não chegou lá e disse 'Vou-me embora'. Não. Teve de haver um acordo entre clubes. 

Era esse o desfecho pretendido pela equipa técnica?

As pessoas que tomam as decisões assim o entenderam. O Artur teve de tomar uma decisão para ter esse rumo, tal como o presidente do Braga e também o presidente do Botafogo. Os clubes e o treinador, que é o chefe da equipa técnica, tiveram de estar de acordo para que as coisas acontecessem assim.

Notícias ao Minuto Na segunda época ao serviço da equipa principal, a equipa técnica liderada por Artur Jorge arrecadou uma Taça da Liga, conquistada em Leiria.© SC Braga  

O Franclim Carvalho é um dos braços-direitos do Artur Jorge. Atualmente, atendendo às suas funções como adjunto, qual a liberdade que lhe é dada na equipa pelo Artur Jorge?

O Artur dá-me muita liberdade e reconhece-me competência. Eu fico satisfeito com a liberdade e com o espaço que tenho para trabalhar. Da mesma forma que acontece comigo, acontece também com os outros três elementos, o Tiago Lopes, o André Cunha e o João Cardoso. Cada um na sua função, obviamente. O Artur tem isto bem definido e delineado. Ninguém atropela ninguém. Todos sabemos o nosso lugar e o nosso espaço. Costumo dizer que não sou o braço-direito porque o Artur Jorge tem os quatro braços, que sou eu, o João, o André e o Tiago. Ele usa esses quatro braços para manobrar aquilo que entende ser o melhor. Acho que tem corrido muito bem. Temos uma relação muito próxima. Damo-nos muito bem fora do contexto de trabalho. Já fui almoçar com eles a Braga nestas férias, sendo que eu sou o único que está mais longe. Para além da relação profissional, temos uma relação de amizade muito próxima. Isso facilita a forma de trabalhar e a nossa abertura. Dá para definir as diretrizes logo desde início na lógica do "Tu fazes isto e isto" e assim entendemo-nos todos às mil maravilhas, muito contentes.

É notório que está feliz ao lado do Artur Jorge, mas não pretende fazer carreira como treinador principal em breve ou é algo que está em 'stand-by'?

Atenção que isto não é uma resposta fácil de dar. Eu já era treinador principal quando o Artur me foi buscar [para o Sporting de Braga] uma segunda vez. Acho que muitos adjuntos têm o objetivo e a ambição de ser treinador principal. Como eu já fui, sei qual é a sensação e sei que o que pretendo neste momento é ser adjunto do Artur Jorge, enquanto ele e eu quisermos. Quero continuar assim. Quanto ao resto, o futuro a Deus pertence. Quando o Artur Jorge me convidou para passar de técnico principal a adjunto, eu disse que para acontecer, só mesmo com o Artur. Foi o que aconteceu. Se fosse outro convite, não aceitaria. Estou a dizer isto, mas se fosse um Real Madrid... Acho que nós temos de saber o lugar que ocupamos e eu fui muito claro com o Artur nesse momento [do convite]. Ele percebeu-me. Como há esta relação que eu referi entre nós, eu aceitei. Se não fosse o Artur Jorge a convidar, provavelmente eu ainda seria [treinador] principal. Não sei onde, mas neste momento ainda seria [treinador] principal.

Se  oferecessem uma proposta apenas e só a si, já amanhã, não aceitava?

Neste momento, tenho contrato com o Botafogo até 2025, como adjunto do Artur Jorge. O futuro a Deus pertence.

Estou muito feliz com o que tenho conquistado e muito insatisfeito com o que não tenho conquistado.Quando é que se sente que mais cresceu como treinador em todos estes anos de carreira?

Essa é uma pergunta que não tem resposta. Em todos os anos, todos os meses e todos os dias, nós vamos evoluindo ou vamos moldando qualquer coisa. Às vezes, a evolução passa por moldar. Eu acho que isso acontece com toda a gente. Eu tenho a sorte e a felicidade de trabalhar com quatro pessoas mais diretamente. Todas têm muito conhecimento nas suas áreas e partilham muito comigo. Temos a tal relação próxima e damo-nos bem. Tento todos os dias 'beber' deles.

Quais são as referências que tem como treinadores?

É o Artur (risos). Como posso responder a isso? É óbvio que nós podemos dizer que gostamos muito da forma de estar do Ancelotti, que é um senhor. Gostamos do Guardiola, pelo que conquistou, conquista e apresenta. O  [Roberto] De Zerbi está na moda... Mas eu gosto sempre de falar de treinadores portugueses. Acho que nós, portugueses, fazemos um trabalho notável. Temos o José Mourinho, que anda na elite há muitos anos. Ganha em todo lado. Temos o Ruben Amorim, que fez o trabalho que fez no Sporting e acaba por ser contratado pelo Manchester United. Temos o Sérgio Conceição, que fez o trabalho que fez no FC Porto durante sete anos. Temos o Artur, pelos trabalhos no Braga e no Botafogo. Há ainda o Abel Ferreira e o Jorge Jesus… Temos muitos.

Destaco aqueles com quem trabalhei. O José Viterbo foi a pessoa que me convidou para começar no futebol. Conheceu-me no curso de treinadores, no primeiro e segundo nível, e convidou-me para ser assistente dele. Relembro também o Petit, que me convidou para ir para a B SAD, algo que me possibilitou voltar à I Liga, onde já tinha estado ao serviço da Académica, com o José Viterbo. Tenho que falar também do Artur Jorge porque, para além de me ter proporcionado estes momentos todos de alegria e de conquistas até agora, é a pessoa com quem eu partilhei mais tempo de trabalho, com quem eu discuti mais ideias de futebol e proporcionou-me estar a um nível altíssimo. Espero que continua a proporcional. Portanto, as minhas referências são estes três treinadores: José Viterbo, Petit e Artur Jorge.

Qual é que é o seu maior sonho de carreira?

Isto não é fácil… (risos).  Não vou falar em sonhos porque depois parece que se torna inatingível para mim. Um pouco utópico. Eu estou muito feliz com o que tenho conquistado e muito insatisfeito com o que não tenho conquistado.  Este ano, ganhámos dois títulos, mas ficámos insatisfeitos por não disputar a Taça do Brasil até ao final. Tínhamos condições para isso. Sabemos que temos de ter sorte no sorteio, que o jogo depende vários fatores e, aí, temos o exemplo da Libertadores, com uma expulsão aos 30 segundos. Sou de uma família de trabalho e, desde miúdo, sempre disse que ia ganhar dinheiro com o futebol. O que queria era chegar a um patamar alto. Sinto que estou nesse patamar agora. Graças aos meus pais é que estou onde estou. São os meus ídolos. Foi difícil chegar aqui. Será difícil manter. Sabemos da competição que há no mundo do futebol, mas o meu maior sonho e o meu objetivo é continuar no patamar em que estou.

Notícias ao Minuto Em apenas oito dias, Franclim Carvalho ergueu uma Taça Libertadores e um Brasileirão, ao serviço do Botafogo.© Vitor Silva, Botafogo FR  

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