"Todos os partidos instalados na política portuguesa têm medo do Livre"

Rui Tavares, candidato às eleições europeias, está convencido de que no dia em que o Livre chegar ao Parlamento português a política mudará para "muito melhor". Esse, acredita, é um caminho que não se fará para trás. E é por essa razão que os "partidos instalados" tentam "encostar o Livre às boxes".

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Melissa Lopes
10/04/2019 12:55 ‧ 10/04/2019 por Melissa Lopes

Política

Rui Tavares

Se o Livre tivesse entrado na Assembleia da República, em 2015, a renegociação da dívida "não teria ficado na gaveta", ter-se-ia debatido a reforma do ensino superior "a sério" e ter-se-ia discutido a organização do território. 

Todavia, importa agora delinear o futuro, frisa Rui Tavares, que defende que o país precisa de um novo plano, visto não ter um "há demasiado tempo". No fundo, esclarece, é preciso atualizar os 3 Ds [democratizar, desenvolver e descolonizar], o plano que nos trouxe desde o 25 de Abril até ao novo milénio. 

Sobre a Geringonça, do qual sempre foi defensor - mesmo antes de assim se chamar -, Rui Tavares diz que esta ficou "muito aquém do que poderia fazer". E mesmo reconhecendo que a solução governativa encontrada foi um marco importante - porque antes o país era "como um carro que guinava sempre à direita" - entende que a Geringonça "foi mais remendo do que remédio". 

Apesar disso, uma coisa garante: "Para voltar aos tempos de Passos Coelho e de Paulo Portas com Rui Rio, Santana Lopes e Assunção Cristas não contem connosco".  

Não é possível uma pessoa com uma condenação por peculato, abuso de poder ou corrupção ser candidata em primárias no Livre

O Livre elegeu os candidatos às eleições no partido por primárias abertas. É um exemplo que outros partidos deviam seguir?

Ainda bem que há pluralidade partidária e que uns escolhem de uma maneira, outros de outra. O Livre escolhe por primárias abertas que são sérias do ponto de vista jurisdicional e do ponto de vista técnico. Os candidatos têm de obedecer a um código de ética, um código de conduta, têm de responder a um questionário. Uma parte é política e é pública. Outra parte tem a ver com conflitos de interesses, impedimentos. Não é possível uma pessoa com uma condenação por peculato, abuso de poder ou corrupção ser candidata em primárias no Livre. A comissão eleitoral e o conselho jurisdicional têm poderes para intervir em casos de manipulação de voto ou casos graves de candidatos que estejam a ir ao arrepio dos valores que assinaram quando se apresentaram às candidaturas. Não dizemos ao resto do país que é um sistema perfeito, dizemos que é um sistema que tem apresentado listas consistentemente com muitíssima qualidade. Tenho orgulho por encabeçar uma lista que é eleita e que não é nomeada por uma direção política em nome das conveniências internas e externas.

Só no Livre é que um cidadão individual que se reveja nos nossos valores pode ser representante, o que garante uma injeção de novos contributos e de criatividade que é muito importante. Outro aspeto é que nas listas do Livre há paridade, paridade de homens e mulheres. Mas temos também uma meta e vamos certamente cumpri-la para as legislativas, que as nossas listas sejam diversas e representativas em termos da maneira como minorias étnicas, refugiados, pessoas que tenham experiências diversas nas nossas listas. E isso como é que se faz? Com vontade política, desafiando pessoas.

Uma lista em que a número dois é uma ativista negra, a Joacine Katar Moreira, que encabeça a lista para as legislativas. Qual a importância dessa escolha?

A Joacine tem um percurso que fala por si nas áreas do combate feminista e anti-racista. É uma voz da nova geração em Portugal de negros e afro-descendentes que quer ter voz na praça pública, ter voz na nossa comunidade política e quer tê-la em Portugal e na Europa. Em caso de eleição, dará um enorme contributo para que Bruxelas deixe de ser aquela bolha muito masculina e, às vezes, muito machista e muito mono-tónica.

O tema do racismo tem estado na ordem do dia, mais recentemente devido ao episódio no Bairro da Jamaica. Como é que vê a forma como o Governo lidou e lida com o assunto?

O racismo em Portugal e a ausência de debate sobre ele e ausência de políticas públicas que verdadeiramente se preocupem com dar voz à diversidade que o país tem é uma coisa que me preocupa há muito tempo. A Joacine fez um discurso extraordinário na manifestação no Seixal em que disse que agora temos uma geração de negros e afro-descendentes que querem ser cidadãos que não querem ser mais do que os outros mas que não aceitam ser menos do que os outros; já não são definidos pela experiência colonial como os pais e os avós foram, e não são definidos pela experiência da imigração.

Esta geração é de portugueses e, portanto, querem ser portugueses como toda a gente e querem participar na política. Mas não basta dizer-lhes que as portas estão abertas e que podem entrar. É preciso haver políticas públicas para que as pessoas entendam que têm essas oportunidades, para que ganhem coragem de usufruir delas, para que exerçam os direitos que no papel já têm. Isso só aconteceu com a minha geração. E o mesmo se passa também em grande medida com a geração de africanos nascidos em Portugal, que são cidadãos, e para os quais não houve políticas públicas para lhes dizer que o país está de portas abertas para vocês.

Evidentemente há toda uma política social a fazer

Em Portugal achamos que não somos racistas …

Há esse mito [de que não somos racistas]. Podemos discutir as especificidades boas e más da questão de Portugal em relação à diversidade racial. É um tema muito subjetivo. Vivi em diversos países, há situações em que me sinto bem com o país que somos e com a maneira como há convivência em Portugal que é inegável e que é positiva. Da mesma maneira, não nos podemos enganar e dizer que há uma convivência em Portugal que é diferente, por exemplo, da que há em Itália ou noutros países europeus, e auto-atribuirmos uma certidão de bom comportamento como se por causa disso Portugal não fosse racista. Não. Portugal evita falar disso, torna esse assunto completamente transparente e é por isso que é importante surjam pessoas como a Joacine que venham dizer ‘eu estou aqui’.

E se calhar, antes de se atribuir essa certidão de bom comportamento, que tal perguntarem aos negros e afro-descendentes em Portugal o que é que acham e como se sentem? Se é possível ser negro e não pensar todos os dias no racismo nem que seja um bocadinho. Ou porque houve uma reação na rua, num sítio onde se entrou, ou uma situação real de desvantagem no acesso ao crédito, de compra ou no arrendar de uma casa. Situações reais, que estão estudadas, e que todos os dias acontecem. Se o Hélder Amaral (CDS) e o Mamadou Ba (BE) dizem que isso é real, então é porque há de facto coisas em que devemos melhorar e devemos esforçar-nos por ser mais iguais, mais diversos. Tenho a certeza de que, com a entrada da Joacine, seja no Parlamento Europeu, seja na Assembleia da República, esse tema vai dar um pulo de anos luz na política portuguesa porque ainda por cima trata-se de uma pessoa que é muitíssimo carismática e inteligente na maneira como sabe falar desses temas. E a prova está na forma como alguém de outro partido – que raramente dá os parabéns ao Livre -, Mamadou Ba, nos veio dar os parabéns pela escolha desta candidata. 

O que seria um bom resultado agora nas eleições de 26 de maio?

Queremos eleger. Achamos que o país e a Europa precisa. Muita gente diz que o Livre merece. O que dizemos às pessoas é se acham que o Livre merece, ajudem-nos agora, que a oportunidade é agora. Na Assembleia da República, o nosso objetivo é eleger um grupo parlamentar. Eleger a Joacine e o Carlos Teixeira. A Joacine, o Carlos Teixeira e o Jorge Pinto. Poder sonhar em eleger a Safa Dib e a Ana Raposo Marques. Isso tudo faz-se a par e passo. Sabemos uma coisa: se elegermos nas europeias, a maneira como iremos às legislativas será outra coisa.

Seria caminho aberto?

Vai ser um caminho completamente diferente. Aí nós estamos nas escolhas das pessoas numas legislativas em que o voto útil vai desaparecer porque houve Geringonça. E houve Geringonça porque fizemos muito trabalho para isso. Ora, se o voto útil desaparece, se não há aquela pressão que fez que o Livre em 2015, na própria noite eleitoral, tivesse sondagens a dar a eleição e depois não tivesse sido eleito, agora a questão que vamos colocar às pessoas, principalmente, se tivermos sido eleitos no Parlamento Europeu é: vocês querem uma maioria de Esquerda, querem reverter a austeridade o mais que se possa, muito bem, mas não querem certamente que essa maioria de Esquerda tenha um vazio enorme no lugar onde devia ter debate europeu e tenha uma política ecológica inexistente. E, portanto, querem certamente a Joacine na Assembleia da República, querem certamente uma Esquerda que não tenha medo de falar acerca da Europa e uma Esquerda que seja a primeira voz ecológica autónoma no Parlamento português.

O PAN é um partido mais animalista do que ecologista

A primeira voz ecológica?

O PEV é, na verdade, um partido que tem sempre submetido as suas estratégias às estratégias do PCP. Ainda agora vimos o PCP a criticar a greve climática, no editorial no Avante! - porque só há greve com sindicatos, trabalhadores contra o patrão. Uma leitura daquilo que é necessário fazer para combater a urgência da crise ecológica completamente desfasada da realidade mas com o PEV a acompanhar o PCP e a não dizer nada acerca disso.

Há o PAN, que é um partido ecologista e autónomo.

O PAN é um partido mais animalista do que ecologista. É um partido a quem demos os parabéns quando foi eleito em 2015, achamos que tem apresentado algumas boas propostas, mas o que é que acha acerca, por exemplo, da reforma do ensino superior? Não tem opinião. O que é o PAN acha em relação a uma série de questões sociais ou internacionais em Portugal? Abstém-se, em geral. E todas essas questões, desculpem, mas têm impacto na nossa realidade ecológica. Não podemos ter uma visão da ecologia concentrada em temas que são importantes mas são uma parte do discurso ecológico.

O bem-estar animal é importante, o bem estar dos animais de companhia é importante, mas a ecologia é uma ideologia que vê o Planeta como um sistema único, vê a política, também, como se tendo de fazer à escalada humanidade para resolver a crise ecológica do Planeta, tem de ter uma visão europeia, tem de ter uma visão das reformas de que o país precisa, tem de ter uma visão do modelo de desenvolvimento que Portugal tem de ter. A ecologia é isso tudo. Ou é social ou não é, ou é política ou não é. Só se corrigirá esta bizarria histórica que é Portugal ser dos primeiros países da Europa no qual nunca houve essa voz ecológica autónoma no dia em que o Livre entrar na AR.

Para voltar aos tempos de Passos Coelho e de Paulo Portas com Rui Rio, Santana Lopes e Assunção Cristas não contem connosco

E, nesse dia, o Livre estaria disposto a participar numa possível Geringonça, uma vez que sempre a defendeu?

O Livre sempre defendeu uma governação de convergência à Esquerda. E sempre defendeu que a maneira de o país avançar é através do trabalho institucional, do diálogo, de cooperação e de compromissos com os outros que não pensam como nós. Lutámos muito para que se superasse – ainda não superámos completamente – aquela ideia que havia em Portugal que é estar a favor de uma convergência à Esquerda se governarem todos com o nosso programa. Não. Os cidadãos é que decidem os programas a que dão mais força e a que dão menos força e depois é preciso negociar a partir daí.

Agora, o Livre não está no jogo onde estão a Aliança, onde estão outros partidos da Direita, que é acabar com a convergência à Esquerda e voltar atrás a uma governação de Direita. Para voltar aos tempos de Passos Coelho e de Paulo Portas com Rui Rio, Santana Lopes e Assunção Cristas não contem connosco. O Livre não contribuirá para isso. O Livre contribuirá com uma governação à Esquerda mas forçará uma governação que tenha uma visão de médio e longo prazo.

Diria que a Geringonça foi mais remendo do que remédio. Tal como ela se fez, infelizmente sem o Livre, ficou muito aquém do que poderia fazer

Que avaliação faz destes quatro anos desta solução governativa? Foi o remédio certo no tempo certo?

Diria que foi mais remendo do que remédio. Era um passo que Portugal precisava de dar, que já estava atrasado. Curiosamente Bloco e PCP não gostarão de ouvir dizer isto, mas também correspondeu a uma europeização da política portuguesa. No sentido em que em todo o lado na Europa havia governos de coligação à Direita mas governos de convergência ou coligação na esquerda ou na ecologia. Já tinha havido em França, nos países escandinavos é muito comum, aconteceu na Holanda, na Islândia, na Noruega. Em Portugal nunca tinha acontecido. A política portuguesa era como um carro em que só funcionavam umas rodas e estava sempre a guinar à direita. Era necessária a Geringonça.

Mas a Geringonça tal como ela se fez, infelizmente sem o Livre, ficou muito aquém do que poderia fazer. Todos os partidos da Geringonça são ao favor da regionalização. Falaram de regionalização alguma vez durante estes quatro anos? Zero. Os partidos da Geringonça, nomeadamente os mais à Esquerda, são contra os acordos comerciais assinados pela UE. Poderiam tê-los discutido no Parlamento português. O acordo entre a UE e o Canadá foi discutido em 1h30, a uma segunda-feira. Foi mais discutido no parlamento da Valónia, um parlamento regional, do que no português.

Falou na Geringonça, no que o Livre conseguiu mesmo sem ser eleito e que até que em alguns aspetos da política nacional se sente plagiado. Sente-se, de alguma forma, o 'pai' da Geringonça?

Não, de todo. Sei apenas que sempre defendi a convergência à Esquerda, mesmo quando por isso se era atacado, e sei que o Livre foi o único partido que até às eleições de 2015 apelou a um "compromisso histórico" entre as Esquerdas com base numa "agenda inadiável" para combater a crise, o desemprego, o endividamento e para preservar o Estado Social. Tanto o "compromisso histórico", como a "agenda inadiável" - e até poderia acrescentar o "roteiro para a convergência" de 2013, logo após a fundação do partido - são nomes de documentos. A opção do Livre pela convergência à Esquerda, numa altura em que os outros partidos a rejeitavam, está bem documentada. 

E se o Livre tivesse conseguido eleger em 2015 e entrado na Assembleia da República, o que teria sido diferente?

O tema da renegociação da dívida não tinha sido metido da gaveta. PS e BE fizeram um grupo de trabalho sobre a renegociação da dívida que meteram na gaveta. Esse inconseguimento ficará com eles. Discutir-se-ia uma reforma do ensino superior a sério em que a abolição de propinas fosse discutida no quadro de um novo financiamento para o ensino superior, do financiamento que precisamos para os planos estratégicos para as universidades, para a ciência e para a tecnologia, e para uma universidade que esteja lá sempre e para todos os portugueses, que não chegue só a metade dos jovens, mas que possa chegar a todos, que todos possam ter um ano universal na universidade, e que esteja lá sempre precisar da universidade, aos 30, aos 40, aos 50, aos 60 anos, quando precisar de mudar de carreira, quando estiver a precisar de se reciclar e precisar de uma nova formação. Isso não temos, custa dinheiro, precisa de um novo modelo de financiamento.

Teríamos discutido organização do território, que, por sua vez, nos permitiria discutir um documento que temos que é a carta da floresta e que tem a ver com a forma como utilizaremos serviços ou ecossistemas para ter um país mais sustentável. E teríamos discutido a Europa. Não teríamos feito, antes dos Conselhos Europeus, aqueles debates em que metade do Parlamento fala para um lado e a outra metade faz de conta de que não ouve. Isso teria sido muito diferente. Acima de tudo, se o Livre entrar agora na AR o que discutiremos para o futuro. Isso é que é crucial pensar.

E o futuro passa por...?

Portugal está sem plano há muito tempo. Tivemos um plano que nos levou do 25 de Abril ao novo milénio. Era o plano dos 3 Ds, que estava no manifesto das Forças Armadas – democratizar, desenvolver e descolonizar. Avançámos muito no democratizar e no desenvolver e muita gente acha que descolonizar era só dar independência às colónias mas não. O descolonizar era Portugal encontrar um novo lugar para si no mundo e na Europa, como aliás estava no texto do Medeiros Ferreira em 1973. Terminado o ciclo imperial, iniciar-se um ciclo europeu. Esses 3 D’s trouxeram-nos até ao ano 2000 e precisam de ser renovados. O que acontece é que a partir do ano 2000 vivemos uma sucessão de pseudo choques cada vez que mudava o governo. Era o choque fiscal de Durão Barroso que não chegou a ser. Era o choque tecnológico do eng. José Sócrates com os pés de barro que lhe conhecemos na altura e os que conhecemos agora. Foi o choque da austeridade, um choque traumático para o país, e agora temos esta espécie de navegação à vista.

E como deve ser esse plano de que Portugal precisa?

Ora, Portugal precisa de fazer um grande debate nacional, que eu defendo que coincida com os 48 anos do 25 de Abril, o momento em que tivermos finalmente mais dias de democracia do que de ditadura. Precisamos de renovar o nosso projeto nacional do 25 de Abril e estabelecer metas e objetivos no prazo de uma geração, que nos levarão ao meio do século XXI. Portugal tem que fazer o seu debate nacional antes de chegar a becos sem saída – como o Brexit no Reino Unido e a crise constitucional em Espanha. E que o faça para que possa estar bem preparado para um objetivo que seja diferente do da convergência.

Estou disposto a dar o máximo para este ser o ano do Livre

Tivemos o objetivo da convergência, e ainda é um objetivo assumido, durante 30 anos da história de Portugal. Deu certo até certa altura, convergimos, e começámos a divergir com a crise. A estratégia da desvalorização interna de Passos Coelho e Paulo Portas é insustentável porque as pessoas emigram. Mas a estratégia da saída do euro leva ao mesmo caminho. Então, nós se calhar não podemos jogar só para a convergência. Portugal tem de apostar em ser uma das sociedades mais desenvolvidas, mais qualificadas da UE. Posso resumir o plano numa frase: era menos passos Coelho e mais Passos Manuel. Ou seja, menos desvalorização interna e mais qualificação.

Está confiante de que este é o ano do Livre, não está?

Estou disposto a dar o máximo para este ser o ano do Livre. Não estamos na política por carreirismo político, se não estaríamos, provavelmente, noutros partidos que dariam retorno mais imediato. A nossa ambição é mudar a política em Portugal e na Europa e acreditamos que partilhamos essa ambição com uma parte substancial do eleitorado português. Acreditamos que há uma área do progressismo ecológico, cosmopolita e libertário, que existe em todos os países desenvolvidos do mundo, que é grande e que está à espera de ser representada.

E é verdade que outros que tentam empurrar o Livre para as boxes, que tentam que ele não seja ouvido, que tentam ele não possa falar ao grande público, têm muito medo disso. A partir do momento em que essa representação política de uma Esquerda verde europeia exista em Portugal, a política em Portugal muda e não volta para trás, como aconteceu numa série de outros países. Só a Esquerda verde europeia na Alemanha, na Holanda, na Bélgica, no Luxemburgo – onde aliás temos um lusodescendente como ministro – só essa cresce e faz frente a extrema-direita. Na Alemanha cresce mais do que a extrema-direita. Portanto, é por esse caminho que podemos fazer frente a extrema-direita em Portugal e na Europa. Esse caminho tem futuro. E é por isso que muitos tentam fazer de conta que o Livre não existe. Os seus melhores desejos seriam que essa esquerda verde europeia não estivesse representada pelo Livre em Portugal porque poderiam continuar a gerir a sua política das pequenas coisas.

Concretamente, quem é que está a tentar encostar o Livre às boxes?

Todos os partidos instalados na política portuguesa têm esse medo. Não tenho a mínima dúvida. O Livre, a partir do momento em que tenha representação, terá um crescimento muito grande. A dificuldade aqui está em chegar à representação, depois de lá chegar, o Livre tem um potencial de crescimento muito grande que até as nossas eleições a que menos prestaram atenção, as eleições autárquicas, dão razão.

O Livre concorreu em sete lugares, teve resultados assinaláveis na ordem dos 10% em lugares como Vila Nova de Foz Côa, ou como no concelho da Vidigueira, no Alentejo. Esta visão ecologista faz sentido para a Europa e para o mundo, mas também faz sentido ao nível urbano e rural. Em espaços onde alguma esquerda tem dificuldade a entrar, nomeadamente em áreas rurais, a partir do momento em que cheguemos à representação, temos caminho a fazer aí.

E nas cidades, toda a gente que tenha um discurso de valores de imigração, de anti-racismo, sobre convivência, que tenha um discurso que não seja um discurso hipócrita sobre imobiliário. Que tenha candidatos que acreditem naquilo que dizem acerca de rendas controladas, de transportes públicos, carros elétricos, o novo plano verde, mas que não andem a dizer coisas que depois se percebe que ninguém no partido acredita porque os conceitos que utilizam de especulação imobiliária ora valem ora não valem, dependendo das conveniências políticas. Isso no Livre não se encontra. A partir do momento em que o Livre tenha representação política, tanto nas áreas urbanas como no interior e nas áreas rurais, o partido tem discurso que está do lado das soluções. O potencial de crescimento, como no resto da Europa é grande.

Um dos grandes problemas das eleições europeias é a elevada taxa de abstenção. O que é que pode ser feito para derrubar essa barreira?

Oferecer alternativas. E, como vimos antes, o discurso dos partidos portugueses sobre UE não oferece alternativas. Na verdade, há a alternativa do Livre. Não existe nenhuma outra alternativa. Existe um discurso do Livre acerca da democratização profunda da UE, o novo pacto verde, investimentos de 500 mil milhões de euros por ano para combater a crise ecológica e para muda a economia europeia. Se há espaço no mundo que tenha dinheiro para o fazer é a UE. Existe esta alternativa ou então existe uma espécie de farsa em que uns fazem conta que gostam da UE mas não gostam dela o suficiente para ter propostas que a possam transformar, e outros que não gostam nada da UE mas também não apresentam nenhum plano de saída.

*Pode ler a primeira parte desta entrevista aqui.

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