"A Alemanha gosta desta situação, beneficia destas crises"
Francisco Louçã considera que o "protesto" de António Costa à posição do ministro das finanças holandês foi "muito justificado" e aponta ao dedo aos países que resistem à possibilidade de emissão de dívida conjunta, entre os quais a Alemanha, que "beneficia com estas crises".
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Política Covid-19
O Conselho Europeu desta quinta-feira continua a ser um tema quente, depois de António Costa ter classificado as afirmações do ministro das finanças da Holanda como "repugnantes". Esta sexta-feira, recusou ter-se excedido nas palavras, mantendo acesa a crítica tanto àquele governante em particular como à União Europeia em geral. "Ou a UE faz o que tem a fazer ou acabará", vaticinou o chefe do Executivo.
Francisco Louçã considerou hoje, no seu habitual espaço de comentário, que o protesto do primeiro-ministro português "foi muito justificado".
O antigo coordenador do Bloco de Esquerda entende que a União Europeia vive atualmente "a situação mais difícil desde a sua fundação", podendo ser este um momento de divisão. "Saber se a Itália fica ou não fica na UE e no quadro do euro", exemplificou.
Esta crise pandémica, lembrou, surge numa altura em que "a UE estava a discutir a redução do orçamento para os próximos sete anos" e perante este cenário imprevisto causado pela Covid-19, "houve uma incapacidade de entendimento sobre alternativas".
E quais são as duas alternativas?
"Saber se há uma mutualização em conjunto, emissão conjunta de dívida, cujas as receitas são depois distribuídas pelo conjunto de países (com o mesmo risco, os mesmo juros, o mesmo esforço)". Ou se, em contrapartida, "a UE vai recorrer ao Mecanismo de Estabilidade". E sendo certo que para haver empréstimos desse tipo é sempre com condições, significa que haverá "um programa de ajustamento". Ou seja: "Uma troika sobre cada uma das economias a bater à porta no próximo inverno", antecipa o comentador.
No entendimento de Louçã, estas duas alternativas são "tremendas" e, simultaneamente, "muito diferentes".
Uma pequena maioria dos países não aceita a primeira alternativa - a emissão conjunta de dívida. Nestes encontra-se sobretudo a Alemanha, país que tem "muita dificuldade em aceitar esta proposta" por várias razões.
Por "razões políticas": "Porque é muito difícil aos alemães que disseram que os países do sul, os países com maiores dívidas, são países preguiçosos. É muito difícil dizerem aos seus eleitores que agora fazem um esforço como conjunto, que há uma união", opina.
Por "razões legais": "O Tribunal Constitucional alemão tem uma doutrina muito afirmada por esta direita que radicalizou uma posição de que não pode haver cooperação europeia".
E por fim, "até por razões económicas": "A Alemanha beneficia de uma crise na Europa, porque as suas emissões de dívida ficam muito protegidas com juros negativos". O que é uma "vantagem para os alemães porque é um porto seguro de acolhimento dos capitais". Em suma, "a Alemanha gosta desta situação, beneficia destas crises".
Sublinhando que se o juro fosse comum a todos os Estados-membros, a Alemanha "pagaria um pouco mais do que aquilo que não paga agora, e os outros pagariam menos", Louçã conclui que os financeiros alemães (e outros) "não aceitam o princípio de uma união de cooperação".
António Costa, recorde-se, qualificou esta quinta-feira de "repugnante" e contrária ao espírito da União Europeia uma declaração do ministro das Finanças holandês pedindo que Espanha seja investigada por não ter capacidade orçamental para fazer face à pandemia.
"Esse discurso é repugnante no quadro de uma União Europeia. E a expressão é mesmo essa. Repugnante", disse António Costa quando questionado sobre a declaração do ministro das Finanças holandês, Wopke Hoekstra, na conferência de imprensa que se seguiu ao Conselho Europeu extraordinário de quinta-feira.
Já esta sexta-feira, Marcelo afirmou estar solidário com a indignação do primeiro-ministro. "Também eu me indigno com o facto de a Europa, que tem tanto peso no mundo, não ser capaz de perceber que tem de estar unida, ser corajosa, determinada e ser solidária", afirmou o chefe de Estado.
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