José Maria Ricciardi, antigo presidente do Banco Espírito Santo de Investimento (BESI), reagiu, durante a madrugada desta quinta-feira em direto na SIC Notícias, às acusações da deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, que ontem à noite, em declarações à TVI, considerou difícil que o ex-responsável não soubesse dos problemas do grupo. Afirmando que não admite "acusações absolutamente gratuitas na televisão", Ricciardi classificou as declarações da bloquista de "chocantes". "Um conjunto de disparates", sublinhou. E afirmou ainda que a deputada "devia ter vergonha e (...) desaparecer de vez".
Às palavras do primo de Ricardo Salgado, a deputada respondeu esta sexta-feira via Twitter.
Mariana Mortágua cita elementos da acusação que, no entender da da bloquista, implicam Ricciardi no recebimento de centenas de milhares de euros de uma offshore do GES, omitindo essa informação aos acionistas e à supervisão.
Eis a resposta da deputada em 13 tweets:
"A ESPÍRITO SANTO INTERNATIONAL (BVI), SA foi constituída em 18.11.93, nas Ilhas Virgens Britânicas (BVI), com o n.º 100633 e sede em Tortola, BVI, nos escritórios da TRIDENT TRUST COMPANY (BVI) LIMITED." (1/13) pic.twitter.com/VkU1mEhrrB
— mariana mortágua (@MRMortagua) July 17, 2020
"A ESPÍRITO SANTO INTERNATIONAL (BVI), SA foi constituída em 18.11.93, nas Ilhas Virgens Britânicas (BVI), com o n.º 100633 e sede em Tortola, BVI, nos escritórios da TRIDENT TRUST COMPANY (BVI) LIMITED." (1/13)
"Teve como agente, para receção de documentos e tratamento administrativo, a sociedade de advogados do Panamá, MOSSACK FONSECA & CO." (2/13)
"No dia 25.10.2012, José Castella enviou correio eletrónico a Marianne Treboux com a indicação das transferências a realizar pela ESI BVI, no valor de 1.075.000€: 125.000€ para José Maria RIcciardi; (3/13)
"No dia 13.08.2013, José Castella enviou correio eletrónico a Marianne Treboux com as coordenadas bancárias das contas de destino de transferências da ESI BVI: José Maria Ricciardi: 112.500€, por “stake”2012." (4/13)
"Entre 31.10.2012 e até junho de 2014, José Maria Ricciardi, também nomeado membro do CS do GES, no dia 21.06.2011, recebeu 237.500€ da ESI BVI, por conta dos valores alocados pelo CS ao ramo Ricciardi." (5/13)
"RICARDO SALGADO, JOSÉ MANUEL ESPÍRITO SANTO, MANUEL FERNANDO ESPÍRITO SANTO e José Maria Ricciardi omitiram a existência destes pagamentosaos órgãos de governo interno do BES (6/13) “como COMISSÃO DE VENCIMENTOS, COMISSÃO CONSULTIVA DE REMUNERAÇÕES, COMISSÃO DE AUDITORIA, CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO, compliance, bem como a auditores externos e à supervisão." (7/13)
“Apesar de terem conhecimento de que tal lhes era imposto pelas normas legais e regulamentares a que foi feita referência supra.” (8/13)
"Esta realidade foi ocultada nos relatórios de atividade do BES,divulgados ao mercado e de acionistas, informação particularmt relevante, pq decidiam, em conflito d interesse,o envolvimento do GES financeiro e seus clientes c as unidades da área ñ financeira..através da ESI BVI (9/13)"
"Entre 2009 e junho de 2014, exerceram funções executivas no BES, RICARDO SALGADO (presidente), JOSÉ MANUEL ESPÍRITO SANTO, António Souto, Jorge Carvalho Martins, José Maria Ricciardi, Rui Silveira, Joaquim Goes, AMÍLCAR PIRES e João Freixa" (10/13)
"Para os mandatos em questão… José Maria Ricciardi assumiu, entre outras funções, a responsabilidade pelo comité de estratégia e coordenação internacional, pelo DRG -Departamento de Risco Global (função partilhada com Joaquim Goes a partir de 2012), funções no CDFC e no comité de risco" (11/13)
No dia 21.12.2011, a assembleia geral extraordinária da ESI, para além dos demais já designados a essa data, nomeou como administradores José Maria Ricciardi e Pedro Amaral, com efeitos reportados a 07.11.2011.(12/13)
Com data de 10.02.2014, José Maria Ricciardi entregou o pedido de suspensão imediata das suas funções do CA. (13/13)
18 pessoas e sete empresas acusadas no caso do BES
O Ministério Público acusou na terça-feira 18 pessoas e sete empresas por vários crimes económico-financeiros e algumas das quais por associação criminosa, no processo BES/Universo Espírito Santo, em que a figura central é o ex-banqueiro Ricardo Salgado.
O ex-presidente do BES foi acusado de 65 crimes, incluindo associação criminosa, corrupção ativa no setor privado, burla qualificada, branqueamento de capitais e fraude fiscal, no processo BES/GES. Além de Ricardo Salgado são também arguidos neste processo Amílcar Morais Pires e Isabel Almeida, antigos administradores do BES, entre outros.
O inquérito do processo principal 'Universo Espírito Santo' teve origem numa notícia de 3 de agosto de 2014 sobre a medida de resolução do BES e analisou um conjunto de alegadas perdas sofridas por clientes das unidades bancárias Espírito Santo.
Posteriormente, foi conhecida a resolução e liquidação de inúmeras entidades pertencentes ao então Grupo Espírito Santo no Luxemburgo, Suíça, Dubai e Panamá, a par do pedido de insolvência por parte de várias empresas do mesmo Grupo em Portugal.
O arguido e ex-presidente do BES Ricardo Salgado já confirmou ter sido notificado da acusação, dizendo que "não praticou qualquer crime" e que esta "falsifica a história do Banco Espírito Santo.