"O papel da JSD é contribuir para salvar a geração que já está 'à rasca'"

O novo líder da JSD, e deputado parlamentar do PSD, é o entrevistado de hoje do Vozes ao Minuto. Eleito há cerca de uma semana, Alexandre Poço revela quais as conquistas que gostaria de ver consolidadas durante o seu mandato e, tal como defende Rui Rio, acredita que "à medida" que o país vai recuperando "da emergência" provocada pela Covid-19, "o PSD fará uma oposição mais agressiva".

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© Reprodução Facebook / Alexandre Poço

Mafalda Tello Silva
01/08/2020 09:00 ‧ 01/08/2020 por Mafalda Tello Silva

Política

Alexandre Poço

Alexandre Poço é o novo presidente da Juventude Social-Democrata (JSD), sucedendo no cargo a Margarida Balseiro Lopes. Após ter derrotado no passado domingo a deputada Sofia Matos - que foi mandatária nacional para a Juventude de Rui Rio na disputa interna de janeiro -, o deputado social-democrata contou, em entrevista ao Vozes ao Minuto, os planos que tem reservados para o seu mandato na estrutura autónoma do partido 'laranja'.

Depois de ter conquistado uma vitória considerada “surpreendente” por alguns, entre as suas prioridades, o jovem consultor, natural de Oeiras, garante que irá construir "a JSD mais verde das últimas décadas", contribuir "para salvar a geração que já está 'à rasca'" e que irá dar "o melhor contributo possível ao PSD" nas eleições autárquias de 2021. 

Integrado na 'jota' social-democrata há cerca de 11 anos e deputado parlamentar desde o ano passado, Alexandre Poço sublinhou ainda nesta entrevista que na corrida à liderança da JSD não houve "extrapolação de qualquer disputa passada dentro do PSD". Apesar de no passado ter apoiado na corrida à liderança do partido os adversários de Rui Rio, Alexandre Poço frisa agora que o presidente do PSD e o partido podem esperar "lealdade e cooperação" da nova direção da estrutura jovem. 

Entrou na JSD com 17 anos, hoje, com 28, é o dirigente. Sente que alcançou um objetivo? O que o fez decidir integrar a 'jota'?

Desde criança que sempre vi muitas notícias. Sempre fui muito incentivado pela minha família para o fazer e penso que foi assim que tive o meu primeiro contacto com a política. Depois, enquanto adolescente, através dos meus colegas na escola, comecei a ganhar consciência de que existiam vários contextos familiares e socioeconómicos e, ao compreender melhor a realidade dos outros, percebi que a política é uma chave para mudar a vida das pessoas. Por volta dos 16 anos comecei a ler os programas dos partidos e, rapidamente, percebi que era com a JSD e o PSD que me identificava. Passado mais de uma década, mantenho a mesma perspectiva: acredito que é nesta estrutura e neste partido que se concretizam os ideais que considero fundamentais para sociedade, sendo que há duas noções nos eixos do partido, que se cruzam e que, para mim, são imperativas. Uma é a questão da liberdade, de se acreditar nas pessoas, na iniciativa privada, no mérito próprio, sem nunca esquecer a justiça social e a igualdade de oportunidades à partida. A outra noção é a defesa da criação de políticas públicas que garantam a dignidade de cada e que puxem pelo elevador social. Foram estas ideias que me trouxeram à JSD e são estas ideias que me levaram a ficar até hoje.

Como é que vai trazer essas noções para a agenda da JSD?

Sabemos que numa crise económica, como naquela em que estamos a começar a viver devido à pandemia, os jovens são os primeiros a sofrer o impacto na área laboral. São os primeiros, porque estão há menos tempo no mercado de trabalho, o que significa que ainda estão, por exemplo, em período experimental, que têm menos experiência profissional ou salários mais baixos. E, é esta realidade que, realmente, me faz destacar o emprego jovem como uma das principais prioridades da JSD para a fase em que vamos entrar de combate a uma crise económica.

Temos de fazer com que as empresas possam olhar para os jovens como uma mais valia, como trabalhadores que fazem falta à organização, e não como uma gordura que é preciso cortar"Portanto, quer travar o ressurgimento de uma 'geração à rasca'?

Sem dúvida, esse é o papel da JSD, de contribuir com as suas ideias para salvar a geração que considero que já está 'à rasca'. É de notar que o desemprego jovem já está a aumentar de forma brutal no país e, por isso, a JSD vai preocupar-se, acima de tudo, com o ingresso e a manutenção dos jovens no mercado de trabalho.

Já tem medidas concretas e delineadas que possa adiantar?

Para que as empresas contratem jovens temos de criar incentivos, quer no âmbito contributivo quer no fiscal. Ou seja, temos de garantir que na resposta à crise e ao desemprego existam estímulos que fomentem a contratação jovem e a manutenção dos mais novos nos seus quadros. Temos de fazer com que as empresas possam olhar para os jovens como uma mais valia, como trabalhadores que fazem falta à organização, e não como uma gordura que é preciso cortar, quando é necessário reduzir custos. Mas, para criarmos uma politica económica, fiscal e contributiva que permita às empresas contratar jovens, o Estado tem de adotar outra postura na forma como olha como para as empresas. E, é aqui que considero que podemos ter enfrentar algumas dificuldades, tendo em conta o contexto politico, porque este Governo, muitas vezes aliado ao BE e PCP, desconfia das empresas, da iniciativa privada e de todos aqueles que trabalham no sector privado. Se essa postura vingar, os principais prejudicados vão ser as pessoas e, no final do dia, os jovens. Posto isto, acredito que a JSD tem de ter aqui um papel, nomeadamente, apresentando propostas muito concretas para salvar esta 'geração à rasca'.

O emprego jovem também era uma das bandeiras da sua adversária nesta corrida à liderança da JSD. O que considera que distinguiu a sua candidatura e convenceu os delegados?

Já não estamos em período de campanha e já não faz sentido falar do que me diferencia de Sofia Matos. Agora, devemos andar para a frente. O congresso já passou e eu olho para todos os militantes, independentemente da candidatura que apoiaram nestas eleições, da mesma forma: como militantes com quem posso contar para realizar o trabalho que temos pela frente de garantir que a JSD tem uma voz no espaço público e político sobre o temas que importam à nossa geração.

Enquanto líder da JSD, o presidente (...) e o partido podem esperar lealdade e cooperação, para juntos alcançarmos os nossos objetivos, de construir uma alternativa ao Governo e de garantir o melhor resultado possível nas eleições autárquicas de 2021Mas, falando da sua vitória e não do período de campanha, não considera que o seu posicionamento dentro do partido teve valor nesta eleição?

Na minha candidatura estavam pessoas que apoiaram todos os candidatos à liderança do partido em janeiro. Portanto, nunca coloquei esta eleição como uma extrapolação de qualquer disputa passada dentro do PSD. Na minha opinião, isso nunca aconteceu. Tenho pessoas hoje na Direção Nacional da JSD que estiveram ao lado do presidente do partido na disputa pela presidência, por exemplo. Essa corrida já passou e hoje não há qualquer disputa dentro do PSD. Da minha parte, enquanto líder da JSD, o presidente do partido e o partido podem esperar lealdade e cooperação, para juntos alcançarmos os nossos objetivos, de construir uma alternativa ao Governo e de garantir o melhor resultado possível nas eleições autárquicas de 2021. É de lembrar, que a JSD tem uma tradição de liberdade coragem e um ADN baseado na sua autonomia, bem como é uma estrutura leal ao PSD.

Quanto aos valores da JSD de liberdade e autonomia, recentemente, referiu que é comum encontrarmos na história do partido fricções entre os dirigentes e a 'jota', tendo dado até como exemplo a tensão que existia entre o então líder do PSD Cavaco Silva e o presidente da JSD Pedro Passos Coelho. Considera que esse atrito é um motor saudável de confronto de ideias que deve ser promovido pela 'jota'? 

Em algumas situações, como essa que denotei, existem diferenças entre a JSD e o PSD. Mas, apesar de não considerar esta questão essencial, há quem diga - e eu concordo - que a JSD é a consciência crítica do nosso partido e, muitas vezes, o motor de novas ideias e de novas formas de olhar para a juventude ou para a sociedade como um todo. Na minha opinião, a JSD tem de garantir a construção de uma visão inovadora, para ser depois incorporada dentro do partido. É óbvio, que na história da JSD houve situações em que a estrutura teve de afirmar plenamente a sua autonomia. No entanto, reforço, sob a minha liderança iremos sempre afirmar-nos de uma forma leal, garantindo sempre que somos uma mais valia para o PSD.

Vamos também apostar em jovens que tenham vozes ativas nas suas freguesias e municípios. Daremos o melhor contributo possível ao PSDE por falar em mais valias, após a sua vitória, Rui Rio desafiou a JSD a colaborar de uma forma ativa nas autárquicas do próximo ano. A JSD já está a preparar uma resposta?

Sim e vai ser uma das prioridades deste mandato. Primeiro, vamos garantir que a JSD tem os melhores quadros para integrar e liderar as listas às autarquias. Vejo como uma atitude muito positiva que o próprio líder do partido tenha realçado a importância do papel dos jovens nas autárquicas do próximo ano. Hoje, a JSD tem pessoas de grande valor académico e profissional nas suas estruturas. Falo de jovens que estão a fazer carreira no setor privado e que têm percursos muito sólidos. Vamos garantir que todos os nossos jovens tenham uma boa preparação politica para que sintam que vão ser uma mais valia. Ou seja, esta preparação irá traduzir-se em formação e disponibilização de conteúdos para que os nossos candidatos e futuros autarcas possam ter a melhor prestação possível. Vamos também apostar em jovens que tenham vozes ativas nas suas freguesias e municípios. Daremos o melhor contributo possível ao PSD.

Considera que estas são eleições determinantes para o futuro do partido?

Nestas eleições, devemos ter todos como objetivo aumentar o nosso número de mandatos em câmaras e freguesias. É inegável que o partido precisa de ter mais força e de estar mais implantado a nível local, do que está hoje.

Tendo em conta que começou a sua carreira política em Oeiras e que mantém ainda hoje laços com o município, considera que Isaltino Morais deveria ser candidato do PSD por Oeiras?

Nesta fase, penso que é ainda prematuro estar a discutir quem deve ser o candidato social-democrata à Câmara Municipal de Oeiras. O PSD tem de ter a ambição para Oeiras que tem de ter para todos os municípios. Mas, concordo com o presidente do partido quando diz que em Portugal não existem penas de prisão perpetua.

Nas últimas eleições legislativas, o PSD obteve melhores resultados eleitorais nos concelhos mais envelhecidos. Como é que a JSD vê estes números? 

É um desafio que a JSD tem. Em primeiro lugar, temos de ter capacidade de atrair mais jovens que se revejam no nosso projeto político. Em segundo, a JSD tem de apostar numa comunicação irreverente e apelativa, que garanta que a estrutura está presente em todos os meios digitais.

Aquilo que importa agora é olhar para a próxima eleição e que sejam manifestadas de forma clara as prioridades da JSD para melhorar a vida dos jovensEntão, considera que, nos últimos tempos, o PSD se fechou aos jovens? O que falhou nestas legislativas?

Não, não vejo dessa forma. Vejo que o PSD sempre teve uma preocupação muito forte em garantir que tem um projeto politico para as novas gerações, incluindo nas eleições de 2019, e, a JSD, tem sempre dado um contributo enorme nessa matéria. Mas, aquilo que importa agora é olhar para a próxima eleição e que sejam manifestadas de forma clara as prioridades da JSD para melhorar a vida dos jovens, focando-se na divulgação das suas propostas quanto a matérias como o acesso à habitação, o alojamento dos jovens deslocados devido ao ensino superior, à qualidade da educação no ensino secundário ou à emancipação. A JSD vai dar um contributo essencial ao projeto do PSD e, depois, vai complementar essa visão com uma grande presença digital.

Ainda a propósito de eleições, concorda que o PSD deve apoiar a eventual recandidatura à Presidência da República de Marcelo Rebelo de Sousa?

Apesar de o chefe de Estado ainda não ter anunciado a sua recandidatura, diria que o apoio da parte do PSD a Marcelo Rebelo de Sousa é um apoio natural, tendo em conta que é um antigo dirigente e um militante histórico do partido.

No momento em que fui chamado para decidir sobre aquela votação, entendi, com convicção, que o melhor para a fiscalização da atividade do Governo era manutenção dos debates quinzenaisVoltando à atualidade, esta semana, Rui Rio revelou que o grupo parlamentar do PSD já informou o Conselho de Jurisdição Nacional sobre a quebra de disciplina partidária dos sete deputados que votaram contra o fim dos debates quinzenais. Sendo um destes parlamentares, como vê esta comunicação? 

Já justifiquei publicamente a minha posição e por que é que votei da forma como votei. No momento em que fui chamado para decidir sobre aquela votação, entendi, com convicção, que o melhor para a fiscalização da atividade do Governo era manutenção dos debates quinzenais. Sobre a questão de possíveis processos disciplinares ou sanções que advenham dessa minha escolha, não vou fazer qualquer comentário. Sublinho apenas que, quando votei tinha noção de que podiam existir consequências.  

Ultimamente, no espaço público, Rui Rio tem sido criticado por optar por uma "oposição colaborativa". Considera que o PSD devia fazer uma oposição mais agressiva?

Nos últimos meses, assistimos a um contexto especial devido à pandemia, em que à classe política se exigia, acima de tudo, responsabilidade para resolver a crise sanitária. Claro, que aquilo que se espera do PSD é que apresente pontos de diferenciação e que seja uma alternativa ao Governo. Acredito que o PSD, à medida que nos vamos afastando da emergência nacional, fará uma oposição mais agressiva porque é essa a nossa essência: quando não estamos no Governo, fazemos oposição. O PSD precisa, agora, de afirmar a sua alternativa face ao PS. Porque votar no PSD não é o mesmo que votar no PS.

Penso que é normal que a discussão política volte a ganhar os seus moldes tradicionais, nos próximos tempos, e que o principal partido da oposição realce as suas diferenças em relação ao GovernoMas, acha que já estamos nessa fase?

Acredito que estamos numa fase que, embora a pandemia não esteja totalmente resolvida, a situação de maior de crise já está mais dissipada. Portanto, penso que é normal que a discussão política volte a ganhar os seus moldes tradicionais, nos próximos tempos, e que o principal partido da oposição realce as suas diferenças em relação ao Governo. É também de expectar que, para o PSD, seja relativamente natural estar distante das soluções estratégicas deste Executivo socialista, tendo em conta que é um Governo que quando quer pensar no futuro, quando quer pensar na definição de objetivos para o país, olha sempre para o BE e o PCP. Por isso, não é difícil adivinhar que, num caminho em que esteja o BE e o PCP, seja fácil não encontrar o PSD

E sobre o futuro da JSD, que conquistas gostaria de ver consolidadas até ao final do seu mandato?

Para além das bandeiras que já referi, há uma matéria que se vai destacar. Vou garantir que vamos ter a JSD mais verde das últimas décadas. A JSD, comigo, terá uma forte agenda ambiental e garantirá que não existe uma propriedade exclusiva da esquerda ou uma visão monolítica dos temas ambientais na política. O combate às alterações climáticas é uma prioridade da minha geração e tem de ser uma prioridade para o nosso país, na forma como se desenvolve. É de recordar, que a área do ambiente esteve sempre no património da JSD e do PSD. Contudo, nos últimos anos, temos assistido a um quase esquecimento desse património. Não aceito que existam temas de esquerda e a JSD terá, comigo, uma postura muito forte de presença e apresentação de propostas no âmbito de uma agenda verde. 

JSD, comigo, terá uma forte agenda ambiental e garantirá que não existe uma propriedade exclusiva da esquerda ou uma visão monolítica dos temas ambientais na políticaMas, a verdade, é que as questões ambientais estiveram mais invisíveis na agenda do PSD do que noutros partido à sua esquerda... 

Aquilo que acredito é que não podemos ter apenas orgulho no nosso histórico na pasta do ambiente. Ou seja, não podemos apenas estar orgulhosos da voz que tivemos no passado, por exemplo através de Jorge Moreira da Silva ou de José Eduardo Martins, temos de ter hoje uma presença muito forte neste debate. Na minha visão, no futuro, o PSD tem de se afirmar para garantir que quando as pessoas falam de ambiente não dizem que é um tema de esquerda. Não podemos aceitar que haja temas de esquerda que nos ponham fora da discussão. Haverá, comigo, portanto, uma forte resposta sobre os problemas relacionados com o ambiente.

E por falar de temas acarinhados pela esquerda, como é que a JSD se vai posicionar perante o dossier da eutanásia?

Nestes temas, a JSD tem um património histórico de liberdade de consciência de cada um dos seus militantes. Existem pessoas na estrutura que são contra e outras a favor quanto à despenalização da eutanásia, e, sobre esta matéria, adoptarei a postura que a JSD sempre adoptou. 

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