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Na visão bloquista, a crise "é uma boa oportunidade para humilhar o PS"

Porfírio Silva reflete sobre "as esquerdas em tempos difíceis", depois o posicionamento do Bloco de Esquerda em relação ao Orçamento do Estado para 2021.

Na visão bloquista, a crise "é uma boa oportunidade para humilhar o PS"
Notícias ao Minuto

13:00 - 30/11/20 por Melissa Lopes

Política Porfírio Silva

O socialista Porfírio Silva diz só encontrar uma explicação para todo o processo que levou ao voto do Bloco de Esquerda contra o OE2021:  "Os dirigentes bloquistas estimam que a pandemia, de uma maneira ou de outra, terá efeitos tão devastadores na sociedade e na economia do nosso país que trará como consequência política o fim deste ciclo político, concretizada em alguma forma de derrota do PS e de afastamento do seu governo", escreve o deputado, num texto de reflexão publicado no blogue 'Machina Speculatrix'. 

Mais, o socialista acredita que, na realidade, "o Bloco não está propriamente interessado em discutir quais as melhores políticas para enfrentar a crise".

No entender de Porfírio Silva, o Bloco "está convencido de que não há nenhuma política capaz de evitar pelo menos um ou dois anos de grande tensão social, de grande conflitualidade, de grande dificuldade de lidar serenamente com a incerteza pandémica, pelo menos um ou dois anos de grande sofrimento para largas camadas da população portuguesa".

"E, na visão bloquista, essa é uma boa oportunidade para humilhar o PS", considera.

Assinalando que as divergências de hoje, entre o BE e o PS, "não são significativamente diferentes das divergências que tivemos durante os últimos cinco anos", o deputado socialista afirma que "tem de haver uma explicação para, agora, essas mesmas divergências produzirem uma ruptura que não tinha sido publicamente perspectivada antes".

E a razão, aponta, "é simples: "O BE não consegue desperdiçar o que lhe parece uma oportunidade para derrotar o PS, que assume como o seu principal alvo eleitoral. (...) A pandemia está no cerne da estratégia política do BE", justifica. 

Perante este quadro, "que deve pensar um militante socialista?", pergunta Porfírio, respondendo seguida: "Depende". Se de um lado estão os que sempre desconfiaram, "secreta ou publicamente", da solução política de 2015, outros há que "entendem que a solução política construída a partir das posições comuns do PS com o BE, o PCP e o PEV, assinadas em Novembro de 2015, sendo um caminho difícil, é um caminho necessário".

E é neste grupo que Porfírio Silva se enquadra, considerando que "toda a esquerda europeia, incluindo as correntes social-democratas, socialistas e trabalhistas, mas também outras correntes que se consideram mais à esquerda, atravessam um longo período de grande fragilidade política, por vezes de desorientação programática, e também de debilidade eleitoral, a tal ponto que precisam de construir uma capacidade de diálogo que permita, não apenas resistir, mas também construir soluções novas, progressistas em vez de conservadoras, para os desafios que enfrentam as nossas sociedades". 

O deputado do PS frisa que "não vai voltar a haver 'frentes de esquerda' como no passado, com pretensões de fusão programática", no entanto, defende que "precisamos de ser capazes de construir maiorias políticas (e sociais) de uma esquerda plural que tenha amadurecido". "Isto é, onde saibamos viver com as nossas diferenças, sem as ignorar e sem as tentar eliminar, onde desapareça o sectarismo dos que se sentem na função de ditar o que é ou não é ser de esquerda", concretiza. 

Nesse sentido, Porfírio Silva é defensor de que a missão do PS é "ser o centro da esquerda: o partido do socialismo democrático, que vem na linha do reformismo e não da revolução (que quer transformar a sociedade sem recurso à violência revolucionária), que é democrata antes de ser socialista, que toma como missão diminuir as desigualdades e as injustiças num quadro democrático, assumindo que a mobilização de outras forças de esquerda para a prossecução desses objectivos é indispensável neste momento histórico de grande enfrentamento com as forças do retrocesso e de ataque à democracia". 

O socialista realça que, tendo em conta os acontecimentos recentes, esta missão é "ainda mais necessária". Para Porfírio, o desempenho desta missão não quer dizer que os socialistas devem excluir as pontes com outras forças democráticas, mesmo da direita". Até porque, "uma direita democrática faz falta a um país democrático e a esquerda democrática deve ser capaz, com ela, de garantir a configuração adequada do regime para garantir uma democracia efectiva e com resultados, incluindo a alternância sem a qual não é possível concretizar a democracia".

Todavia, defende, "há que separar as questões - devemos garantir uma democracia com alternativas democráticas de governo, mas devemos fazer a nossa parte para oferecer ao país uma esquerda plural capaz de responder ao país. Ainda mais nos tempos difíceis que vivemos. Sem perdermos o rumo e sem cometermos o erro daqueles que escolhem os tempos mais difíceis para exercer o sectarismo", remata. 

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