Após manifestar a sua "gratidão ilimitada" a todos os portugueses que foram às urnas e prestar o seu "testemunho reconhecido" aos restantes candidatos presidenciais, Marcelo Rebelo de Sousa disse estar "profundamente honrado" na confiança lhe foi atribuída com a sua reeleição como Presidente da República.
"Deixem-me dizer de coração aberto como me sinto profundamente honrado pela confiança em condições tão mais difíceis do que as em 2016", declarou, o Chefe de Estado, num discurso feito no átrio da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde foi aluno e professor.
Para os que não votaram em si, Marcelo Rebelo de Sousa, reeleito com o apoio formal de PSD e CDS, lembrou que irá, "como sempre", representar "todo o Portugal" e que tem "a exacta consciência de que a confiança agora renovada é tudo menos um cheque em branco".
"Quem recebe o mandato tem de continuar a ser um Presidente de todos e de cada um dos portugueses. [Tem de ser] Um Presidente próximo, que estabilize, una e que não seja de uns, dos bons, contra os outros, os maus. Que não seja um Presidente de facção. [Tem de ser] Um Presidente que respeita o o pluralismo e a diferença, que nunca desista da justiça social", argumentou.
As duas mensagens que Marcelo retirou do voto dos portugueses
Mais, para Marcelo Rebelo de Sousa, esta reeleição, tendo em conta a abstenção - "descontando o efeito da pandemia" - traz duas mensagens que não ignora. A primeira, prende-se com a noção de "que os portugueses, ao reforçarem o seu voto, querem mais e melhor".
"Querem mais e melhor em proximidade, construção de pontes, justiça social e, de modo mais urgente, em gestão da pandemia. Entendi esse sinal e dele retirarei as devidas ilações", garantiu.
A segunda mensagem do Presidente reeleito "é tudo fazer para persuadir quem pode elaborar leis a ponderar a revisão, antes de novas eleições, daquilo que se concluiu que tem de ser revisto para ajustar situações como a vivida e, mais em geral, para ultrapassar objeções ao voto postal ou por correspondência".
"Objecções essas que tanto penalizaram os votantes, em especial, os nossos compatriotas espalhados pelo mundo. Compreendi este outro sinal e insistirei para que seja, finalmente, acolhido", acrescentou.
Os próximos cinco anos
Mas, acima de tudo, o voto dos portugueses neste domingo, demonstrou, para o Presidente reeleito, o que "querem e não querem para Portugal, nos próximos cinco anos".
"Não querem uma pandemia infindável, uma crise económica sem termo à vista, um empobrecimento agravado, um recuo na comparação com outras sociedades desde logo europeias, um sistema politico lento a perceber a mudança, uma radicalização e um extremismo nas pessoas, nas atitudes e na vida social e política", defendeu, deixando um aviso à extrema-direita.
Apontado o 50.º aniversário do 25 de Abril, em 2024, como meta temporal para a reconstrução do país, Marcelo Rebelo de Sousa traçou como prioridade urgente o combate à Covid-19.
"[Os portugueses] querem, ao fim e ao cabo, sair deste quase ano de vida congelada, adiada, dilacerada, para um horizonte de esperança, de projeto e de sonho", considerou, reiterando que, "dentro de três anos estaremos no meio século do 25 de Abril, e é inconcebível que se não possa dizer então que somos, não só muito mais livres, mas também muito mais desenvolvidos, muito mais iguais, muito mais justos, muito mais solidários do que eramos no início da caminhada, e tanto como nos prometemos nesse início".
"Não deixar esmorecer a esperança"
Numa noite eleitoral sem convidados nem apoiantes, Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou: "E temos de partir quanto antes para poder atingir a meta a tempo de não deixar esmorecer a esperança. Até porque a maior homenagem que podemos prestar aos mortos que lembrei no começo destas palavras é cuidar dos vivos e com eles recriar Portugal".
Apesar de ter elegido o combate à pandemia como prioridade única imediata, nos objetivos para os próximos anos, o Chefe de Estado também incluiu "refazer os laços desfeitos, quebrar as barreiras erguidas, ultrapassar as solidões multiplicadas, fazer esquecer as xenofobias, as exclusões, os medos instalados". "Temos de recuperar e valorizar todos os dias as inclusões, as partilhas, os afetos, as cidadanias esvaziadas pela pobreza, pela dependência, pela distância", vincou.
Ainda a pensar no futuro, Marcelo Rebelo de Sousa não esqueceu as pequenas e médias empresas, a Presidência portuguesa da União Europeia, o clima ou a gestão dos fundos europeus e prometeu lutar por melhores perspectivas de vida para os portugueses. "Uma recuperação do emprego, rendimentos, crescimento, investimento, exportações e mercado interno, uma perspetiva de futuro efetivo para micro, pequenas e médias empresas", conjecturou.
De imediato, frisou que há que "fazer tudo" para "travar e depois inverter" a propagação da Covid-19 em Portugal, que está "a pressionar em termos dramáticos" as estruturas de saúde.
"É essa, e é bom que fique claro isso nesta noite, continua a ser essa a minha primeira missão, para estas semanas e para os próximos meses, em solidariedade institucional total com a Assembleia da República e o Governo e tentando envolver o maior número de partidos e parceiros económicos e sociais numa desejável conjugação coletiva", prometeu ainda.
Marcelo Rebelo de Sousa foi reeleito Presidente da República nas eleições deste domingo, com 60,70% dos votos. Segundo os dados da Secretaria-Geral do Ministério de Administração Interna - Administração Eleitoral, Ana Gomes foi a segunda candidata mais votada, com 12,97%, seguida de André Ventura (11,90%), João Ferreira (4,32%), Marisa Matias (3,95%), Tiago Mayan Gonçalves (3,22%) e Vitorino Silva (2,94%).
Leia Também: AO MINUTO: Marcelo, o Presidente reeleito já fala aos portugueses