Desconfinamento? Especialistas não 'ajudaram', criticam (alguns) partidos

À saída da 16.ª reunião com os epidemiologistas na sede do Infarmed, os partidos comentaram o que escutaram, destacando que apesar dos resultados das últimas semanas, o desconfinamento não será para já uma realidade, ao contrário do que alguns defendem.

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Ana Lemos com Lusa
22/02/2021 21:13 ‧ 22/02/2021 por Ana Lemos com Lusa

Política

Partidos

No final de uma reunião na sede do Infarmed, a 16.ª e a segunda a que chefe de Estado, primeiro-ministro, membros do Governo, partidos e parceiros sociais assistiram por videoconferência, o Presidente da República destacou a "janela de esperança" quanto à vacinação contra a Covid-19 no segundo trimestre deste ano e considerou que os especialistas deram "uma ajuda essencial" para a tomada de decisões.

Decisões que serão tomadas no final desta semana, mas que, tudo aponta, para uma nova renovação do Estado de Emergência por mais 15 dias e a manutenção do confinamento geral obrigatório.

A ministra da Saúde manifestou, aliás, preocupação com o "relaxamento" que alguma população está a adotar, reforçando o apelo à manutenção do confinamento.

Quanto a partidos, o pedido é para que o Governo comece desde já a planear o desconfinamento, previsto, revelaram sustentando-se nas previsões dos especialistas, para meados/final do próximo mês de março. Confira abaixo o que disse cada partido após a reunião desta segunda-feira e na véspera das audições com o chefe de Estado

"É tempo de olhar para desconfinamento geral", diz o PEV

Numa declaração registada em vídeo e distribuída à comunicação social, a parlamentar ecologista Mariana Silva ressalvou que "há um longo caminho a percorrer" e que o alívio das restrições sanitárias tem de ser feito "de forma controlada para não dar passos atrás".

Mas, acrescentou, "é tempo, perante estes números positivos, de olhar para um desconfinamento geral e de nos prepararmos para isso. Em geral, a população respondeu ao confinamento exigido e, agora, é necessário que se dê as ajudas aos trabalhadores, pequenos e médios empresários, trabalhadores da cultura", afirmou.

PAN pede desconfinamento planeado de forma "eficaz e eficiente"

A líder parlamentar do PAN, Inês Sousa Real, defendeu que "só com um planeamento eficaz e eficiente" será possível sair de forma bem sucedida da crise sanitária e "retomar alguma normalidade naquelas que são as atividades sociais e económicas".

Destacando que "o sacrifício que foi pedido aos portugueses de facto teve o seu efeito, foi baixar não só o 'R' como também evidentemente as cadeias de contágio", a deputada sustentou que o plano de desconfinamento deve ter em conta "diferenças regionais" e deve "ser profundamente aliado quer com o plano de vacinação, quer com a testagem", que deve ser "mais generalizada".

Na opinião do PAN, o "pequeno comércio e pequenas empresas" poderão "abrir primeiro ao público", uma vez que "têm sido setores muito fustigados pelo encerramento, quer do ponto de vista económico, quer do ponto de vista da capacidade que têm depois de recuperação" e, pela sua dimensão, concentram menos pessoas num espaço fechado.

IL considera que "não foi uma boa reunião"

O deputado único do Iniciativa Liberal (IL), João Cotrim Figueiredo, considerou que esta "não foi uma boa reunião". "Voltámos a um esquema de oito apresentações, quase desenhado para que se perca o essencial da mensagem e parecia uma reunião preparada para não tomar decisões e para evitar discutir o desconfinamento", criticou.

Na perspetiva do liberal, um dos aspetos mais graves tem a ver com as escolas já que, no decreto do Estado de Emergência em vigor, o Presidente da República "exige uma preparação atempada do regresso ao ensino presencial" e nada foi "dito nesta reunião que facilite a preparação desse plano".

"Em segundo lugar, há 15 dias havia uma estratégia alternativa baseada em testes muito mais massivos e numa capacidade de reforçar o rastreamento. O que é que vimos nesta quinzena? Não só não houve mais testes como houve menos testes e não fiquei nada convencido que a capacidade de rastreamento tenha sido aumentada", condenou João Cotrim Figueiredo, rematando que continua a faltar "sentido de urgência por parte deste Governo e não se está a preparar o desconfinamento" nem se está a mudar a estratégia.

"Portugal vai ficar confinado, pelo menos, até final de março"

O deputado único do Chega lamentou que Portugal tenha passado de uma situação pandémica de "milagre", que disse ter sido apontado pelos socialistas, para ser agora um "péssimo caso" em termos de números da Covid-19.

"Assistimos hoje a uma situação caricata. No próximo dia 8 de março, o Reino Unido, que era apresentado como um mau caso, vai começar a desconfinar. Saímos hoje da reunião do Infarmed com o sentido de que temos de manter o confinamento. Portugal passou do milagre que os socialistas apontavam para ser um péssimo caso", disse André Ventura, que considera que "o Governo anda a ziguezaguear e o Presidente da República hesitante no que deve fazer e ninguém quer assumir responsabilidades e o país continua completamente parado".

"Portugal vai ficar confinado, pelo menos, até final de março e, provavelmente, em abril, vai haver um desconfinamento muito faseado e gradual. Ambiente político que se viu foi o que vamos manter tudo como está", criticou Ventura, apelando a mais apoios às empresas e negócios em risco.

CDS critica ter ficado sem saber "quais são as linhas vermelhas"

A porta-voz centrista, Cecília Anacoreta Correia, afirmou que, "apesar de as taxas de contágio estarem a diminuir", ainda se registam "números muito elevados em termos de incidência".

"Isso condiciona bastante a abertura e o desconfinamento que desejamos, mas aquilo que não ficámos a saber nada é sobre quais são as linhas vermelhas para o desconfinamento que tinham sido anunciadas na última reunião que era essencial definir do ponto de vista técnico. Isso não foi trazido aqui com a clareza desejada", frisou a dirigente democrata-cristã.

Além disso, ainda não é conhecido "qual é o 'R' necessário para que o desconfinamento aconteça ou quais são os outros indicadores da taxa de infeção existentes na sociedade portuguesa" a partir dos quais o país pode dar esse passo.

Confinamento deve continuar para "não deitar tudo por terra"

Mais otimista, mas realista, o secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro, considerou que o confinamento geral obrigatório está a ter resultados e, por isso, deve continuar para que "não se deite por terra" todo o esforço feito até agora.

"Os números que hoje foram conhecidos na reunião do Infarmed são muito animadores, pela primeira desde o início da pandemia que temos o número de contágios, denominado Rt, mais baixo de sempre, situando-se nos 0,66, o que demonstra que o esforço que está a ser feito pelos portugueses tem tido resultados", afirmou o socialista, destacando igualmente como positivos os números dos recursos aos cuidados hospitalares e intensivos, que, sublinhou porém, têm de baixar ainda mais.

Face a este cenário, reforçou, o confinamento geral obrigatório, tem de continuar nas próximas semanas para "não se deitar por terra" tudo o que tem sido feito.

Esforço "não está a ser correspondido por parte do Governo" (BE)

"Há um esforço que a população está a fazer e que está a dar resultado. No entanto, este enorme esforço que todas e todos fazemos enquanto população não está a ser correspondido por parte do Governo e isso deve ser de sublinhar", criticou o deputado do BE, Moisés Ferreira.

Enquanto são implementadas medidas de restrição e confinamento aos portugueses, com consequências económicas e sociais, "o Governo tem estado a poupar na sua execução orçamental" e a "tentar fazer poupanças à custa das vítimas desta grave crise".

"Portugal fazia em meados de janeiro cerca de 70 mil testes por dia. No início de fevereiro essa média já tinha caído para 50 mil e na última semana voltou a cair para 30 mil testes diários" (Moisés Ferreira, BE)

"É inconcebível que perante esta situação o Governo tenha tido em 2020, ano de plena pandemia, a menor execução orçamental dos últimos anos. O que se exige é que o Governo utilize todo o orçamento e todos os instrumentos para ajudar no combate à pandemia e não para dificultar o combate à pandemia", defendeu.

Outro dos aspetos defendidos pelos bloquistas na reunião de hoje, de acordo com Moisés Ferreira, foi a necessidade de uma estratégia mais eficaz de testagem e de rastreamento de contactos, recorrendo ao número de testes para apontar o dedo ao que está a ser feito.

PCP pede mais vacinas e testes para desconfinamento no verão

O dirigente comunista Jorge Pires defendeu hoje a vacinação anti-Covid-19 de todos os portugueses "o mais rápido possível", exigindo a diversificação da sua compra e o aumento de testagem e rastreio com vista ao desconfinamento no verão.

"Ficou mais uma vez claro que uma das formas mais eficazes de combater a epidemia é realizar o mais rápido possível o processo de vacinação de todos os portugueses, procurando garantir a imunidade de grupo até ao verão", afirmou, numa declaração escrita e em vídeo distribuída pelo PCP aos jornalistas.

"É fundamental propor um plano de desconfinamento que garanta o regresso gradual à atividade normal no plano económico, social, cultural e desportivo" (Jorge Pires, PCP)

Segundo o membro da comissão política do Comité Central do PCP, o "calendário" da vacinação "não está garantido" e, por isso, insistiu "na necessidade de diversificar a aquisição de vacinas já aprovadas", de forma a que Portugal não fique dependente "dos contratos realizados pela Comissão Europeia, comprometida que está com as grandes empresas farmacêuticas que olham para a produção das vacinas como um negócio e não como um bem público".

PSD quer "rapidamente" um planeamento para pós-confinamento

"Fazemos um apelo para que este planeamento do pós-confinamento seja um planeamento feito rapidamente, de modo a que os portugueses saibam com tempo o que se vai passar nas suas vidas", afirmou o deputado e dirigente do PSD Maló de Abreu, numa declaração em vídeo enviada às redações após a 16.ª sessão para analisar a situação epidemiológica da Covid-19 no Infarmed.

O deputado do PSD defendeu que têm de existir critérios "muito claros" e lamentou que estes não tenham sido já hoje apresentados. "Na última reunião, os peritos ficaram de apresentar um conjunto de critérios nesta reunião e, infelizmente, não apresentaram. Para que se faça um desconfinamento gradual e conhecido antecipadamente é necessário haver uma métrica e um planeamento", disse, apontando que este planeamento tem falhado "em muitas circunstâncias e não pode falhar novamente".

"Novas variantes são motivo de preocupação", admite Costa

Já o primeiro-ministro, António Costa, comentou, ao início da noite e via Twitter, a reunião desta segunda-feira vincando que apesar da "tendência positiva", há uma preocupação: "as novas variantes".

Face a este cenário, António Costa reitera o apelo aos portugueses no sentido em que "cumprir as regras é fundamental para vencermos o vírus".

[Notícia atualizada às 21h33]

Leia Também: AO MINUTO: Costa diz que "as novas variantes são motivo de preocupação"

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