Miguel Sousa Tavares alertou, esta segunda-feira, que o Governo não pode falhar na parte que lhe compete no sucesso do plano de desconfinamento e vacinação contra a Covid-19 no país.
No seu espaço de comentário semanal na TVI, o jornalista recordou que os portugueses estão há cerca de dois meses confinados pela segunda vez.
"Os portugueses fizeram a sua parte. (...) Não houve protestos nas ruas nem manifestações como noutros países, mas sim uma infinita paciência dos portugueses trancados em casa, muitos deles a trabalhar com filhos, sem ver a família. Agora, é a vez do Governo fazer a sua parte e não falhar", defendeu.
Para Sousa Tavares, "não falhar" traduz-se em ir para a frente com a campanha massiva de testagem, sobretudo, quando os "números começarem a subir", e em ter "pessoal pronto para o rastreio", matéria sobre a qual "ninguém sabe nada ainda".
Mais, para o comentador, a questão das vacinas "não é só o problema interno", referindo-se à gestão e sucesso do plano de vacinação nacional, mas também da presidência portuguesa na União Europeia (UE).
"Nós presidimos o Conselho da União Europeia durante seis meses. Lembro-me de ter ouvido o primeiro-ministro dizer que a primeira tarefa destes seis meses era a vacinação da Europa. A vacinação na Europa está um desastre. Alguém ouviu a voz de Portugal até agora?", questionou.
Ainda sobre a matéria, Sousa Tavares lembrou que, este fim de semana, a Áustria, liderando um grupo de cinco países, pediu uma reunião urgente na UE para discutir a questão da distribuição das vacinas e que França, Espanha, Itália e a Alemanha "já fizeram contratos com a Rússia para assim que a Agência Europeia do Medicamento autorize a Sputnik V possam começar a produzir vacinas".
"Nós estamos fora disto tudo. A voz portuguesa da presidência, em relação às vacinas, está muda. Não temos nenhuma intervenção", criticou.
Suspensão da AstraZeneca? "Infelizmente, atinge-nos em cheio"
Num balanço sobre o processo de vacinação em Portugal, o comentador considerou que a suspensão da administração da vacina da AstraZeneca no país, anunciada hoje pela Direção-Geral da Saúde, o Infarmed e a task force, foi "uma notícia que já era de esperar, porque Portugal não podia ficar atrás dos outros países".
"Infelizmente, atinge-nos em cheio porque apostámos muito na vacina da AstraZeneca e, já antes de ser suspensa, estava a causar problemas porque não estava a ser dada a pessoas maiores de 65 anos", denotou.
Sublinhando que a percentagem de pessoas vacinadas da população mais envelhecida ou com doenças de risco associada está aquém do desejado, Sousa Tavares concluiu: "Portanto, a principal função da vacina, que é salvar o maior número de vidas, não está a funcionar em Portugal".
A par de vários países europeus, Portugal também suspendeu temporariamente, esta segunda-feira, a administração da vacina contra a Covid-19 da AstraZeneca por motivos de precaução. A decisão foi anunciada ao final desta tarde, durante uma conferência de imprensa, que contou com a presença da diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, do presidente do Infarmed, Rui Ivo, e do coordenador da task-force para a vacinação, Henrique Gouveia e Melo.
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