"O facto de ter retirado a sua publicação não apaga aquilo que disse, o que escreveu, e que foi do conhecimento do país. Foi uma tentativa de condicionar, ofender e agredir verbalmente o jornalismo que é fundamental para a existência da nossa democracia", disse Francisco Rodrigues dos Santos.
Falando aos jornalistas em Lisboa, no final de uma reunião com a associação empresarial COTEC, o líder democrata-cristão apelou ao secretário de Estado Adjunto e da Energia, João Galamba, para sair "de onde está escondido, atrás do teclado, e venha a público explicar porque é que tem tanto ódio ao jornalismo".
"Aliás, eu até sou capaz de perceber porquê, porque o jornalismo é incómodo quando investiga, quando procura a verdade, quando denuncia os factos e isso, para quem tem a escola de José Sócrates [antigo primeiro-ministro e secretário-geral do PS] não é muito bom de ver", salientou.
Na ótica do líder do CDS-PP, João Galamba é "um 'cowboy' do teclado, que destila ódio contra tudo e todos nas suas redes sociais" e que desta vez, "de forma vil e grosseira, atacou o jornalismo".
De seguida, Francisco Rodrigues dos Santos insistiu na demissão do secretário de Estado e criticou a postura do primeiro-ministro face à situação, apontando que não se ouviu "uma única palavra" de António Costa.
"João Galamba já devia ter colocado o lugar à disposição, já se devia ter demitido, e se não o fizesse devia ter sido o primeiro-ministro a vir a público pedir desculpas por este ato do seu membro do Governo e demiti-lo, à semelhança daquilo que fez com João Soares em 2016, em que chegou inclusivamente a dizer que os membros do Governo até à mesa do café não se podiam esquecer dessa qualidade", defendeu.
O presidente do CDS-PP lamentou igualmente que até hoje não houve "qualquer consequência perante este ataque a um pilar fundamental da democracia, que é o jornalismo independente".
"Num Estado democrático, o jornalismo não pode ser condicionado nem pode ser ameaçado por nenhum governante. E se esta situação tivesse sido perpetrada por um membro de um governo de direita caía o Carmo e a Trindade", considerou, advogando que esta situação "só tem uma solução, que é a demissão do secretário de Estado João Galamba".
De acordo com os media, o secretário de Estado escreveu na rede social Twitter, no sábado, o seguinte: "Lamento, mas estrume só mesmo essa coisa asquerosa que quer ser considerada 'um programa de informação'", aludindo ao programa "Sexta às 9", da RTP1.
Apesar de ter sido apagado, o controverso 'tweet' continua visível nas redes sociais numa captura de ecrã feita pelo utilizador a quem João Galamba o dirigiu e que foi divulgada por vários meios de comunicação.
No domingo, a direção de informação da RTP repudiou as palavras de João Galamba, considerando que "atentam contra o bom nome da RTP e da sua jornalista Sandra Felgueiras" e desrespeitam a liberdade de informação.
Na segunda-feira, o ministro do Ambiente admitiu que o seu secretário de Estado adjunto e da Energia usou "linguagem desajustada" para criticar um programa de informação mas considerou que o próprio João Galamba o reconheceu ao apagar o seu comentário.
"Para mim, o assunto está encerrado. Não acho, de facto, e sobretudo parece-me evidente que [João Galamba] também não acha, que esta seja a melhor forma de fazer comentários", referiu João Pedro Matos Fernandes, argumentando que "o comentário, de uma linguagem desajustada, foi imediatamente retirado e isso corresponde ao arrependimento de quem fez o comentário".
Leia Também: Ministro admite "linguagem desajustada" em tweet de secretário de Estado