Bloco de Esquerda quer ser "parte da solução" para sair da crise

O Bloco de Esquerda propôs-se, na sua XII Convenção, a ser "parte da solução" na resposta aos problemas do país e apresentou condições para o próximo debate orçamental, ao mesmo tempo que se afirmou "barreira" contra a extrema-direita.

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Lusa
23/05/2021 17:00 ‧ 23/05/2021 por Lusa

Política

Convenção

Na XII Convenção, as principais figuras da direção do BE, este domingo reeleita, apontaram ao PS, assumindo divergências de fundo face às opções do Governo socialista, com o que justificaram o voto contra o orçamento para 2021.

O tom da Convenção foi lançado logo no discurso de abertura, com Catarina Martins a assumir que quer abrir outra porta para as "medidas urgentes" depois de o PS "ter fechado a porta a uma solução de estabilidade".

"Não atuamos por ressabiamento, não temos estados de alma, não ficamos zangados", disse Catarina Martins, que teve a sua liderança renovada por mais dois anos e viu ser reforçada a oposição interna na Mesa Nacional.

No discurso de encerramento, Catarina Martins expôs o "caderno de encargos" para as negociações orçamentais para 2022, identificando o emprego como "a prioridade das prioridades" para sair da crise.

Para além da saúde e do emprego, a proteção social e o controlo financeiro "são agora ainda mais importantes depois do sofrimento com a pandemia social que se segue à pandemia viral".

Na mesma linha, o dirigente Jorge Costa já tinha avisado que o Bloco de Esquerda não aceita que "um Governo minoritário do PS queira interditar à esquerda a negociação" e o eurodeputado José Gusmão disse que o BE quer ser "parte da solução" e que PCP e BE devem falar melhor entre si para "falar mais alto" com o Governo.

Para além da relação com o PS, na convenção também se ouviram críticas à direita, com Catarina Martins a acusar o PSD de Rui Rio de caminhar para "uma aliança com a extrema-direita" que, disse, é um "braço armado laranja que se destacou".

Uma certeza Catarina Martins parece ter: "o Bloco é e será a barreira contra a direita e a extrema-direita".

Sobre a ascensão da extrema-direita, o deputado José Manuel Pureza tinha lamentado que a "mentira" tenha passado a ocupar um lugar crucial na luta política, sendo uma arma poderosa da extrema-direita para "despertar ódios" e que o BE deve combater.

Fernando Rosas pediu atenção ao debate ideológico e à formação de quadros internos do partido: "Minimizar o combate das ideias ou afogá-lo na permanente urgência do imediato é correr o risco de nos desarmarmos, de insensivelmente nos transfigurarmos e de só dar por isso quando for tarde demais", avisou.

O ex-deputado Pedro Soares e um dos subscritores da moção E, a mais crítica da atual liderança do Bloco de Esquerda, defendeu que o partido deve ir para as negociações com o PS demarcando "linhas vermelhas", a principal das quais deve ser a revisão das leis laborais.

Nesta convenção, os críticos da linha política de Catarina Martins ganharam força na Mesa Nacional, obtendo 17 lugares em 80. A lista da coordenadora conseguiu 54 mandatos, o que significou uma perda de 16.

A moção E, promovida pelo movimento Convergência -- já constituído depois da última reunião magna -, conseguiu 68 votos, alcançando 17 mandatos a este órgão máximo entre convenções.

O historiador Miguel Cardina, investigador do Centro de Estudos Sociais, o economista Alexandre Abreu, que concorreu às últimas europeias pelas listas do BE e será cabeça de lista à Assembleia Municipal de Cascais, e a ativista e estudante Andreia Galvão são algumas das caras novas que a moção A elegeu.

Já a moção E, promovida pelos críticos do movimento Convergência elegeu, entre outros, Ana Sofia Ligeiro e como número dois Mário Tomé, antigo deputado da UDP, um dos partidos que deram origem ao BE.

Na Convenção, que decorreu em Matosinhos, distrito do Porto, Mário Tomé criticou a "fulanização" no partido e vários delegados advertiram para a dificuldade de o BE ter implantação local, com Marisa Matias a assumir essa questão como o "calcanhar de Aquiles" do partido.

Leia Também: PS saúda "retoma da abertura" para negociar "desde que sem anátemas"

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