A sessão de homenagem ao primeiro executivo liderado por Pinto Balsemão, promovida pelo primeiro-ministro, António Costa, abriu com um discurso de Mota Amaral, fundador do PSD, antigo presidente do Governo Regional dos Açores (1976/1995) e da Assembleia da República (2002/2005).
O antigo deputado elencou as várias dificuldades do VII e VIII Governo Constitucional, como os "ataques extremados" dos adversários políticos ou as dificuldades financeiras.
"Mas a maior dificuldade à normal governação vinha de dentro das próprias fileiras da AD e do PSD. Francisco Pinto Balsemão defrontou-se com uma permanente contestação de grupos organizados, comprovadamente minoritários, mas nem por isso desistindo de o desacreditar perante a opinião pública", criticou.
"Foi, sem dúvida, o mais intenso e menos fundamentado combate 'ad hominem' vivido entre nós na vigência da nossa democracia", acrescentou.
O antigo deputado considerou "admirável" que Balsemão tenha tido capacidade para liderar dois Governos, mesmo quando era "vítima de inqualificáveis procedimentos de colaboradores próximos, por ele próprio qualificados como traiçoeiros".
"Como sempre acontece com políticos que o são verdadeiramente, Francisco Pinto Balsemão se retirou da política, porque os políticos nunca se reformam", considerou, elogiando que tenha alcançado O "merecido estatuto" de senador.
Para Mota Amaral, o homenageado está hoje em condições de "compreender a dimensão trágica da ação política, os confrontos pessoais, os belos ideais frustrados, os desgostos, as traições mesquinhas".
"Mas é esta dura carga que tempera a virtude e enriquece a vida de quem à política com 'P' grande se devota. Quem se fica pelos aspetos lúdicos que a ação política também contém e se limita a contabilizar vitórias não percebe nada disso", defendeu o antigo presidente do parlamento.
Na sua intervenção, Mota Amaral aconselhou a leitura das "Memórias" de Balsemão, recentemente editadas pela Porto Editora, quer para conhecimento integral das medidas aprovadas por estes Governos, as "permanentes interferências" do Presidente da República (Ramalho Eanes, também presente na primeira fila na homenagem de hoje) ou até por "outros comentários picantes".
No livro, Balsemão refere-se a Marcelo comparando-o ao escorpião da fábula da rã e do escorpião - em que este morre afogado a atravessar um rio, porque não resistiu à tentação de dar uma ferroada mortal na rã, apesar de esta lhe dar uma boleia às costas - por montar "intrigas desnecessárias entre ministros e/ou secretários de Estado", aproveitando "intervalos do Conselho de Ministros ou idas à casa de banho para ir dar notícias a jornalistas".
Outro "balde de água fria de Marcelo", ou "a maior traição" referida no livro por Balsemão foi quando os dois combinaram a saída do atual Presidente do Governo - era ministro para os Assuntos Parlamentares -, mas que só seria tornada pública depois das autárquicas de dezembro de 1982. No entanto, a notícia estava nos jornais no dia seguinte.
Mota Amaral deixou ainda um 'recado' para os tempos políticos de hoje, tão diferentes de quando as propostas políticas eram formuladas "com clareza e sem ambiguidades".
Hoje, considerou, há quem tente puxar o PSD para "o bloco da direita" e lamentou que situação de bipolarização conduza o país para "um impasse".
"Um impasse do qual resulta a permanência do país entre os mais atrasados da Europa, sempre aguardando subsídios", lamentou.
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