Domingos Abrantes grato a Sampaio por o ter defendido na prisão

O histórico comunista Domingos Abrantes recordou hoje Jorge Sampaio como "um resistente", lembrando que o ex-chefe de Estado foi seu advogado quando esteve preso nos tempos de ditadura, e expressou a sua gratidão.

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Lusa
10/09/2021 13:05 ‧ 10/09/2021 por Lusa

Política

Óbito/Sampaio

 

Em declarações à Lusa, o membro do Conselho de Estado Domingos Abrantes lamentou a morte de Jorge Sampaio, aos 81 anos, e dirigiu à família os seus sentimentos e pêsames.

O comunista recordou Sampaio como "um resistente, como um lutador empenhado pela luta, pela liberdade e pela democracia", destacando o papel que este teve como seu advogado quando esteve preso em Peniche.

"Primeiro, o que Jorge Sampaio foi, foi meu advogado quando eu estive preso e devo-lhe essa gratidão", vincou.

Domingos Abrantes realçou que no período do Estado Novo, o trabalho dos advogados nos tribunais plenários "não era um trabalho fácil" uma vez que "à partida os presos estavam condenados", mas Sampaio "sempre o desempenhou com muita coragem, com muita determinação".

"Ele foi-me visitar a Peniche. Como deve calcular, eram momentos muito sombrios e incertos quanto ao futuro (...)", evocou, lembrando que na inauguração da primeira fase do Museu de Peniche, teve ocasião de recordar o papel de Sampaio no apoio aos presos políticos.

Mas Domingos Abrantes destacou ainda um outro momento marcante na sua convivência com Jorge Sampaio, quando integrou o Conselho de Estado. Segundo o histórico comunista, o ex-Presidente fez questão de mencionar o que "significava um preso político, e um preso político que ele tinha ajudado, estar num órgão como o Conselho de Estado, ainda por cima um operário".

Domingos Abrantes disse ainda temer que "se não houver um trabalho de educação democrática, do que significou a luta e o papel dos resistentes, daqui a uns anos já ninguém se lembre de Jorge Sampaio, como de outros", salientando que "essa geração de resistência está a chegar ao fim".

O antigo Presidente da República Jorge Sampaio morreu hoje aos 81 anos, no hospital de Santa Cruz, em Lisboa.

Antes do 25 de Abril de 1974, foi um dos protagonistas da crise académica do princípio dos anos 60, que gerou um longo e generalizado movimento de contestação estudantil ao Estado Novo, tendo, como advogado, defendido presos políticos durante a ditadura.

Jorge Sampaio foi secretário-geral do PS (1989-1992), presidente da Câmara Municipal de Lisboa (1990-1995) e Presidente da República (1996 e 2006).

Após a passagem pela Presidência da República, foi nomeado em 2006 pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas enviado especial para a Luta contra a Tuberculose e, entre 2007 e 2013, foi alto representante da ONU para a Aliança das Civilizações.

Durante o seu segundo mandato, em 2003, organizou a primeira reunião do 'Grupo de Arraiolos', constituído por chefes de Estado da UE sem funções executivas.

Atualmente presidia à Plataforma Global para os Estudantes Sírios, fundada por si em 2013 com o objetivo de contribuir para dar resposta à emergência académica que o conflito na Síria criara, deixando milhares de jovens sem acesso à educação.

Leia Também: Elisa Ferreira "desolada" com morte de Jorge Sampaio

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