Com o chumbo do Orçamento do Estado para 2022, abriu-se uma crise política e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, decidiu dissolver o parlamento e marcar eleições legislativas antecipadas para 30 de janeiro do próximo ano, daqui a pouco mais de um mês.
Sem este percalço de calendário, as legislativas estavam previstas para 2023 e, por isso, os partidos políticos - e as lideranças - veem-se obrigados ir a votos bem antes do planeado.
O executivo minoritário do PS liderado por António Costa, que desde 2019 governa sem acordos, tem nas eleições de 30 de janeiro um teste à sua popularidade, numa disputa eleitoral em que é apontado por analistas e opositores políticos algum desgaste aos socialistas, também por causa de quase dois anos de pandemia de covid-19.
Para lá dos resultados de 30 de janeiro, a grande dúvida prende-se com os cenários de governabilidade e de estabilidade política, já que a crise que levou a estas eleições resultou precisamente do facto de não haver uma maioria no parlamento com capacidade para aprovar o Orçamento do Estado.
Sobre o "dia seguinte" às eleições, já muita tinta correu, mas as dúvidas permanecem, tendo no último fim de semana o secretário-geral do PS e primeiro-ministro afirmado, em Lisboa, que a "geringonça" criada em 2015 acabou em 2021, que agora a maioria de esquerda é só com o PS e que a escolha nas próximas eleições é entre ele e Rui Rio.
Precisamente o líder do PSD reeleito, a quase 300 quilómetros de distância, no congresso em Santa Maria da Feira, defendeu o PS não pode fugir a esclarecer se também estará disponível para negociar a viabilização de um governo minoritário do PSD, pedindo a António Costa "humildade democrática" e reciprocidade na disponibilidade manifestada pelos sociais-democratas.
Os avisos para os riscos do regresso de um bloco central ou para uma maioria absoluta do PS têm vindo sobretudo de BE e PCP, os antigos parceiros de Costa na "geringonça" que têm nas urnas uma difícil prova depois do chumbo do orçamento.
Com o fracassar das negociações orçamentais à esquerda e desde que o documento foi reprovado no parlamento, socialistas, bloquistas e comunistas trocaram acusações e culpas sobre este desfecho, fazendo antever que o tema regressará ao período eleitoral e dificultará futuros entendimentos.
Mas se à esquerda o desafio é grande, à direita não é menor, com Rio confortado por um congresso pacificado, mas à condição de um bom resultado eleitoral do PSD, e um CDS-PP "afogado" numa crise interna e cujas sondagens apontam um mau resultado.
Depois da fragmentação das últimas eleições legislativas e a entrada de três novos partidos no parlamento, PSD e CDS-PP estão pressionados no seu espetro eleitoral pelo crescimento da Iniciativa Liberal e do Chega, que apesar de terem chegado ao parlamento apenas em 2019, tudo aponta para um aumento de representação.
O PAN, que nas últimas legislativas passou de deputado único para grupo parlamentar e teve mudanças de liderança, também tem um desafio nestas eleições, bem como o Livre, que depois de ter ficado sem representação com a saída de Joacine Katar Moreira joga com Rui Tavares a tentativa de eleição.
Leia Também: Municípios assumem competências descentralizadas em 1 de abril