Após a hecatombe que foi a noite eleitoral do CDS, em que o partido não conseguiu, pela primeira vez na história democrática, eleger representação parlamentar, muitas foram as vozes centristas que comentaram o péssimo resultado alcançado que levou, inclusivamente, à demissão de Francisco Rodrigues dos Santos. Francisco Mota, ex-líder da Juventude Popular (JP), fala em confirmação de um "cenário destrutivo" para os democratas cristãos.
O sucessor de Rodrigues dos Santos à frente da 'jota' dos centristas escreveu, num longo texto publicado nas redes sociais e enviado ao Notícias ao Minuto, que "procurar culpados ou responsabilidades levaria a que o partido se esvaziasse ainda mais, porque todos são responsáveis pelo estado a que o CDS chegou".
"Líder, direção, grupo parlamentar, ex-dirigentes, dirigentes, todos e cada um com o seu ego, vaidade, individualismo, sede de protagonismo, ciúme e ganância de poder levaram a este resultado desastroso", vinca, acrescentando que "o problema do CDS foi o próprio CDS".
O anterior presidente da JP considera que a força política "viveu fechada em si mesma", e "não conseguiu fazer das suas diferenças uma mais valia". E mais. Francisco Mota 'arrasa' o caminho seguido pelo CDS nestes últimos tempos, adjetivando-o como "um partido de reis absolutos e príncipes da nobreza falida que se iludiu no garante da história como sobrevivência, deixando, assim, de lado o País real".
"Um partido que reclama um elevador social para o País, mas há muito que avariou o seu. O mérito, competência e reconhecimento deram lugar ao tacticismo, 'amiguismo' e poder pelo poder", faz ainda questão de salientar.
O caminho a seguir
"Mais do que discutir ou apresentar candidatos a líderes o partido deve procurar uma estratégia que, antes de tudo, garanta a sustentabilidade financeira do CDS. Mais do que um líder é necessário uma equipa 'gestora de insolvência'", defende Francisco Mota na mesma missiva. Na opinião do centrista, "o CDS faliu, precisa de reformas internas e coragem para tomar decisões difíceis" e é "necessário competência e capacidade negocial para reposicionar o CDS nos próximos dois anos".
"A missão da próxima comissão política nacional do CDS é reestruturar o partido, reformá-lo, criar bases internas para projetar e preparar o próximo combate político que são as eleições Europeias" e, a par disso, "formar e preparar os dirigentes locais e distritais para as eleições autárquicas".
Em seguida, aponta Mota que "as bases do partido, em grande medida e salvo algumas exceções, são muito fracas, sem homens e mulheres de referência da terra, sem competência e capacidade de inovação na ação política de forma atrair os melhores para o projeto político local".
E justifica. "Há dirigentes locais e distritais que não prepararam as últimas eleições autárquicas, não apresentaram candidatos em concelhos onde o CDS já foi câmara, que delegaram todo o processo no tempo e que, no final, atingiram resultados tão catastróficos como o destas eleições legislativas."
Francisco Mota sublinha, por fim, que "a reafirmação do partido passa por alavancar os valores, as gentes e os nossos programas a partir do poder local, sem nunca hipotecar a nossa matriz", sendo "na proximidade em cada cidade, aldeia, lugar ou rua de Portugal que temos a obrigação de demostrar a utilidade de um partido como o CDS".
"O CDS tem que ser muito maior que qualquer nome, dirigente ou projeto pessoal. O que está em causa é a nossa missão enquanto instrumento ao serviço das nossas comunidades e capacidade de colocar o poder ao serviço das pessoas", termina.
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