Manuela Ferreira Leite considerou que António Costa teve “sorte” por a invasão russa à Ucrânia não ter ocorrido mais “cedo”, uma vez que seria “inviável” existir um governo na Europa em “coabitação” com um partido incapaz de condenar o ataque, numa referência ao Partido Comunista Português (PCP).
Durante o seu comentário habitual no programa ‘Crossfire’, da CNN, na quinta-feira à noite, a antiga dirigente do Partido Social Democrata (PSD) criticou o partido liderado por Jerónimo de Sousa e apontou o dedo, sobretudo, aos mais jovens que “surgem como potenciais líderes” dos comunistas.
“Não posso deixar de dizer que António Costa tem uma sorte como eu conheço pouca gente que tem, porque se esta desgraça que está a acontecer no mundo tivesse sido uns tempos antes, ou se não tivesse havido eleições e, neste momento, estivéssemos numa situação política semelhante àquela em que estivemos, eu queria saber como era possível haver uma coabitação do Governo com um partido que é capaz de apoiar estas decisões”, começou por dizer, admitindo depois que se referia ao PCP, numa clara referência à Geringonça.
“A Rússia nunca viveu em democracia, não sabe o que isso é, não sabemos também qual é a ideologia que têm (…) assusta porque é uma potência militar e tem armas nucleares, mas não é um projeto de vida para ninguém”, continuou.
“O PCP consegue sobreviver a este tipo de ideologia. [Costa] teve sorte porque era absolutamente inviável haver algum país em que houvesse um governo em que houvesse um partido que apoiasse e, no mínimo, não repudiasse o que se está a passar. Parece-me algo impensável. (...) Eu aceito ou compreendo que as pessoas de mais idade tenham dificuldade em alterar as posições que defenderam durante uma vida (…). Mas quando há até algum esforço de uma tentativa de rejuvenescimento do partido e as pessoas que surgem como potenciais líderes são jovens e se mantêm nesta situação em que não são capazes de condenar um tipo de guerra que é próprio da idade média – que é matar - (…) é algo de tal forma inexplicável que só pode criar o maior dos espantos. Como é que durante seis anos estivemos a ser governados com um Governo que aceitou estar coligado com um estado de espírito desta natureza?”, questionou.
Fernando Medina, que também estava presente no programa, defendeu que a posição de António Costa e do Partido Socialista (PS) sempre foi “absolutamente inequívoca”, mas concordou que a posição do PCP é “criticável”.
Questionado sobre se o primeiro-ministro teve realmente “sorte”, o ex-presidente da Câmara de Lisboa foi claro, reforçando que, numa solução de Governo apoiada pelo PCP e BE, o PS “nunca deixou”, em matérias fundamentais, que houvesse qualquer dúvida quanto ao “posicionamento central” do Executivo.
“[A posição] coloca em causa quem a defende, propõe e sustenta, tenho pena que o façam”, sublinhou, destacando que o PCP perde “um capital importante” dentro da política portuguesa e da ação política.
Recorde-se que, na terça-feira, no parlamento Europeu, foi votada uma resolução para condenar a invasão russa e bielorussa da Ucrânia. A resolução teve 637 votos a favor, 26 abstenções e 13 votos contra, dois dos quais da delegação do PCP, composta por João Pimenta Lopes e Sandra Pereira. Além disso, até então, os comunistas foram os únicos que se recusaram a condenar o Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, pela invasão.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar com três frentes na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamentos em várias cidades. As autoridades de Kiev contabilizaram, até ao momento, mais de 2.000 civis mortos, incluindo crianças, e, segundo a ONU, os ataques já provocaram mais de um milhão de refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia, entre outros países.
Vladimir Putin justificou a "operação militar especial" na Ucrânia com a necessidade de desmilitarizar o país vizinho, afirmando ser a única maneira de a Rússia se defender e garantindo que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas para isolar ainda mais Moscovo.
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